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Foto César Santos

Modelos de Governação para o Futuro: a necessidade de transparência

Por Jornal Sporting
21 Mar, 2018

Melanie Scharer, Darren Bailey e Bruno de Carvalho reforçaram a urgência da mudança no mundo do futebol

O exemplo trazido por Darren Bailey, consultor da Charles Russel Speechyls LPP e Co. e co-fundador do Sport 360, resume da melhor forma o Painel II do Congresso, que abordou os Modelos de Governação para o Futuro. Darren mostrou a todos os presentes uma imagem com duas chuteiras de futebol: uma, de 1934; outra, de 2018. Depois, explicou a analogia: "Continuamos a utilizar modelos de governação que não se adequam ao tipo de jogo. Seria como pedirmos aos atletas para jogarem com botas de 1934". A partir desse momento, tornaram-se claras as pretensões dos discursos de Melanie Scharer, advogada suíça especializada nas leis do desporto e de Bruno de Carvalho, Presidente do Sporting CP. A necessidade de mudança e a urgência de transparência em relação aos modelos actuais marcaram um Painel inteiramente virado para o tempo verbal que rege o evento. 

"Na Suíça temos cerca de 200 sedes de organizações internacionais. Gostamos muito de recebê-las, mas acreditamos que não escolhem aquele local por causa do chocolate", brincou Melanie, empenhada em explicar a preferência de organismos como o Tribunal dos Direitos Humanos, a Cruz Vermelha, a UEFA ou a FIFA. "Tem que ver com a neutralidade política e com a estabilidade do país. A Suíça possui uma taxa de inflação baixa e promove o desenvolvimento humanitário. No total, são 70 organizações desportivas internacionais que albergam cerca de 1.800 trabalhadores", apontou, apresentando, de seguida, um breve resumo sobre a forma como essa característica cresceu dentro do país. A verdade é que a Suíça manteve, ao longo do tempo, um papel importante no que à evolução da governação diz respeito. 
 
 
Relativamente ao caso inglês, Darren (o mesmo que havia dado o exemplo das chuteiras) defendeu que a evolução no futebol deve seguir a evolução rápida de todas as outras coisas que 'pairam' à nossa volta. "Todos os aspectos da nossa vida têm-se alterado de forma rápida. O futebol não é excepção. Precisamos de avançar. Existe progresso na Ciência, na Nutrição e na Medicina. No futebol também é obrigatório corresponder às exigências dos consumidores e tentar que as regulamentações acompanhem as expectativas. Contudo, assistimos a um conflito de interesses por parte das equipas e de muitas instituições. Partimos do príncipio de que o jogo vai sobreviver independentemente das decisões e isso não é verdade", alertou, indicando imediatamente sugestões que possibilitem a melhor compreensão dos principais consumidores: os adeptos. 
 
"Se os parâmetros forem claros não precisas de estar sempre a explicar às pessoas as nossas tomadas de decisão. Tem de haver maior dependência e especialização ao nível da arbitragem, por exemplo. Em Inglaterra existem quatro membros de uma instituição composta por 12 pessoas que não fazem parte do mundo do futebol. Isto não é ilógico, porque é necessária uma visão objectiva. Mais: trabalhei oito anos numa instituição desse género e nunca percebi por que é que os árbitros não se podem manifestar. A separação de poderes - entre quem cria as regras e quem as implementa - é peremptória", avisou. Antes de terminar, Bailey lançou uma frase esclarecedora: "Não podemos ter o melhor regulamento se não tivermos líderes com uma cultura justa". 
 
 
A última participação coube a Bruno de Carvalho, Presidente do Sporting CP, que discursou em sincronia com o co-fundador do Sport 360, criticando ainda o modelo utilizado no futebol português. Na opinião do líder máximo do Clube, os principais órgãos governativos não podem estar submetidos a eleições decididas por aqueles que, mais tarde, vão regular. 
 
"Actualmente, no modelo português, a Liga tem ao seu dispor a Primeira Liga, a Segunda Liga e uma Comissão de Inquéritos. Depois, vem a Federação, onde existe um Conselho de Arbitragem, outro de Disciplina e outro de Justiça. Ainda há o Tribunal Arbitrário do Desporto (TAD), que permite a possibilidade de recurso relativamente à disciplina desportiva. Como é que se consegue credibilização se são os próprios clubes que definem quem está à frente destes órgãos?", questionou, assumindo: "Não acredito neste modelo". 
 
Prontamente, Bruno de Carvalho definiu uma forma de profissionalização dos sectores. "A Liga deveria ter um único intuito: organizar o campeonato português. Tem de ser, de uma vez por todas, o centro do negócio. Por sua vez, a Federação deveria dedicar-se às Selecções, ao futebol de formação e ao futebol amador. Que seja o Governo a definir quem, por competência, deverá estar nos respectivos cargos. Não posso ter pessoas condicionadas por eleições", concluiu.