Your browser is out-of-date!

Update your browser to view this website correctly. Update my browser now

×

Foto José Cruz

Ao oitavo jogo, Jesus criou o lateral

Por Jornal Sporting
14 Jul, 2017

Fábio Coentrão adaptou-se à ideia do técnico leonino para jogar mais recuado e projectou a carreira rumo a Madrid

A religião Cristã advoga que Deus descansou ao sétimo dia, depois de seis jornadas empenhadas na criação do Mundo. Paralelismos bíblicos à parte, a verdade é que Jorge Jesus não precisou de muito tempo para apostar em Fábio Coentrão na ala esquerda… bem mais atrás do que o canhoto das Caxinas perspectivava. Na oitava jornada da época de 2009/2010, diante do Nacional, Coentrão carregou no botão do elevador e ganhou metros atrás e à frente, potenciando o jogo ofensivo do Benfica, ele que andara ‘perdido’ por empréstimos sucessivos (Saragoça, Rio Ave e Nacional). A derrota em Braga, cinco dias depois, não retirou a confiança de Jesus, sendo que Carlos Queiroz reconheceu-lhe a capacidade de mais-valia, levando-o ao Mundial da África do Sul, onde foi o mais brilhante de uma cinzenta campanha nacional, afirmando até que tinha sido ele a detectar o potencial de Fábio para a posição.

Na segunda época como titular no plantel encarnado, foi o baluarte perante a dificuldade evidente de alguns dos jogadores que se haviam destacado em 2009/2010. Não estranhou, portanto, que o Real Madrid viesse a Lisboa para juntar o lateral a Pepe e Cristiano Ronaldo. Mourinho beneficiou da polivalência, apostando em Coentrão na faixa, mas também como interior esquerdo na época que culminou com o título histórico dos ‘blancos’, com recorde pontual (100). Paulo Bento aproveitou e o lateral, um dínamo fundamental no Euro-2012, foi um dos sete totalistas da caminhada até à meia-final (perdida para a Espanha). Mais 30 jogos na temporada seguinte, antes de as lesões e as opções técnicas lhe retirarem o espaço que Marcelo foi cada vez mais reclamando para si. A partir daí, 43 jogos nas três últimas temporadas de Real Madrid e uma passagem com 19 jogos e três golos no Mónaco. Coentrão chega a Alvalade para relançar a carreira e provar que pode voltar a ser considerado um dos melhores na posição de lateral-esquerdo. Se competiu com aquele que se tem assumido como o mais forte no Mundo (Marcelo), pretende-se que seja dono e senhor da esquerda verde e branca.

O talento a extremo

Fábio Coentrão fez o seu percurso de formação no Rio Ave desde os iniciados até ‘pegar de estaca’ na equipa sénior, referenciando-se como uma das maiores armas de todos os escalões por onde passou, sempre partindo da posição de extremo. O canhoto ambientou-se perfeitamente, tanto a jogar à esquerda como à direita. Dono de um drible imprevisível, destacou-se pelos remates em arco, depois das diagonais competentes, e pelas acelerações velozes, que antecediam cruzamentos letais. Coentrão é um jogador de vertigem e aporta também essa característica quando joga mais recuado, daí a sua importância contra equipas com blocos mais fechados.

Ser leão desde pequenino

Gerou-se uma ideia incorrecta de que Fábio Coentrão prestara ‘juras de amor’ ao Benfica. Em 2007, antes de ingressar nos rivais da 2.ª Circular, o ainda extremo foi sintomático quanto ao vínculo afectivo que nutre pelo Sporting: “O que senti quando li? [suposto interesse do Sporting em 2007] Deu-me uma coisa especial, estranha! Sou Sportinguista desde pequenino e, obviamente, não consigo ficar indiferente", disse ao MaisFutebol. Já na passada quarta-feira, após o primeiro treino na Academia, o internacional português foi peremptório: "Vesti outras camisolas, mas sempre fui feito de Sporting". Bem-vindo, leão!

Agressivo e forte na cobertura

Coentrão é particularmente forte na capacidade de desequilibrar à frente, mas concede à lateral uma saída fluente na primeira fase da construção, arranjando soluções individuais com bola no pé. Sem bola, é extremamente agressivo, não concede espaço na marcação nem na rotação dos adversários. Condiciona bem o espaço interior e protege as costas dos centrais e o segundo poste como ninguém, principalmente quando não em duelo aéreo. Se ataca bem e defende bem, quais as dúvidas sobre o português? Resta esperar que a condição física não o prejudique.

O gosto especial por marcar no Dragão

O Estádio do Dragão foi sempre terreno apetitoso para o veneno do canhoto. No Nacional, conseguiu um bis que originou um inesperado triunfo de 3-0. O segundo golo é ainda hoje um dos melhores no campeonato da última década. Marcou ainda pelo Rio Ave e pelo Benfica, somando um registo imponente de quatro tentos no reduto azul e branco. Esse ‘descaramento’ alia-se à experiência, componentes vitais para conseguir desempenhos condignos nos jogos de maior exigência: dérbis e clássicos.