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Foto César Santos

"A culpa não está do lado de cá, mas naqueles que têm poder para legislar o futebol"

Por Jornal Sporting
03 Abr, 2018

Bruno de Carvalho voltou a defender na Assembleia da República que são precisas medidas para alterar o actual estado do futebol português

"O futebol não é uma questão de vida ou morte, é muito mais do que isso". A afirmação é de Bill Shankly, um emblemático treinador escocês que fez história em Inglaterra, citado por Ferro Rodrigues na sessão de abertura da conferência 'A violência no desporto', que teve lugar esta terça-feira na Sala do Senado da Assembleia da República. Além da fina ironia e do manifesto exagero, a frase proferida pelo presidente da Assembleia da República contém um fundo de verdade, já que o futebol acaba por ser o último reduto de paixões identitárias que mobilizam multidões para a participação activa na vida de um clube ou até no apoio a uma selecção.

O problema é que a fronteira é ténue, difícil de manter, precisando por isso de ser preservada. Foi este o mote do espaço de reflexão promovido pela Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, que contou com a presença de Bruno de Carvalho, Presidente do Sporting Clube de Portugal, acompanhado por Rui Caeiro, membro do Conselho Directivo, e Nuno Saraiva, director de comunicação.

Já depois de Ferro Rodrigues ter dado o pontapé de saída na ’Casa da Democracia’, referindo ser necessário – através do Parlamento ou do Governo – legislar contra a violência, a corrupção, a fraude, a calúnia, entre outros problemas do sector, João Paulo Rebelo tomou a palavra para se mostrar preocupado com o perigo de alerta para o contágio no desporto em geral. “Violência gera violência”, frisou o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, deixando claro que a “liberdade de expressão não pode ser defendida para que o conflito do ódio se propague”.

Uma visão partilhada por Edite Estrela, que sublinhou que “é tempo de responder aos sinais de alarme”. “O futebol tem um alcance social e económico como nenhum outro. Move emoções, mas a paixão não pode levar à perda da razão e a crimes violentos”, explicou a presidente da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto. Por isso, tal como na política em democracia, o futebol deve ser escrutinável, não podendo viver num Mundo à parte. Aliás, já dizia Nelson Mandela que “o jogo limpo é um valor essencial no desporto”.

Nesse sentido, e tendo em vista o Painel 1, que decorreu com base no tema "A Violência no desporto vista pelas organizações do fenómeno desportivo", Bruno de Carvalho voltou a mostrar a posição do Sporting quanto a um tema urgente, mas recorrente, sob olhar atento de Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Pedro Proença, presidente da Liga, José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Lourenço, presidente do Comité Paralímpico, Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol, Carlos Paula Cardoso, presidente da Confederação do Desporto de Portugal, e o moderador António Magalhães, director do jornal Record.

"Ouvi falar que há que conciliar interesses no futebol e fico feliz por o ouvir. É engraçado que não vejo um pacto entre os partidos para chegarmos a coisas tão essenciais como os hospitais, mas os clubes têm de fazer um pacto entre si, o que os partidos não conseguem, e isso sim lesa o bolso dos portugueses. Ouvi também falar em populismo e isso é um fenómeno que cruza o desporto e a política", começou por dizer o líder leonino, lembrando que é preciso 'defender' os adeptos daquilo que considera ser o 'lixo tóxico' que passa constantemente em espaços televisivos e apenas prejudica o desporto-rei.

"A verdade é que os clubes estão a ser o único garante que o futebol tenha adeptos. As pessoas estão cada vez mais agarradas ao seu clube e não ao fenómeno desportivo. A culpa não está do lado de cá, mas do lado de lá, daqueles que têm poder para legislar e mudar algo no futebol", explicou.

Referindo ainda que "não tem interesse nenhum o que diz o presidente A ou o presidente B" e que "não é isso que traz violência para o desporto", Bruno de Carvalho continuou a apontar o dedo aos vários organismos que tutelam o futebol português. "Se queremos tornar a juventude com mais valores temos de começar a ensinar coisas como o que foi de facto o 25 de Abril e os erros do 26, o que é liberdade e libertinagem, o que é ter respeito pelos pais e não ter respeito pelo conceito de família. Quero só lembrar a todos que mais importante do que os jogadores ou os treinadores é que se não houver clubes vocês não se sentam aí, estão aqui a ouvir falar de qualquer coisa que não desporto", rematou.