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Rainhas

Por Pedro Almeida Cabral
02 Jun, 2022

Um jogo de futebol feminino não é só um jogo de futebol feminino. São 90 minutos em que também se joga contra o sexismo que ainda domina parte do desporto e que faz com que as modalidades femininas sejam vistas como subalternas em relação às masculinas. Por isso, quando entram em campo, as nossas 11 jogadoras estão também a combater este estado de coisas. Podiam estar, como estão os seus congéneres masculinos, apenas a defender pressionando, a fazer difíceis assistências ou a marcar belos golos. Mas não. Têm também que jogar para provar que o podem fazer tão bem como os homens. Pelo menos para alguns que ainda cultivam preconceitos como forma de vida. Ter que não somente jogar, mas provar que se sabe jogar é um peso que os homens não têm e não sabem o que é carregar. Virá o tempo em que tudo será diferente e palavras como as que escrevo deixarão de fazer sentido. Quando esse tempo chegar, serão lembradas as jogadoras de hoje, que abriram caminho para as jogadoras de amanhã. Entre elas, estarão, sem dúvida alguma, as nossas rainhas da Taça de Portugal deste ano.

Foi mais uma conquista histórica para o futebol feminino do Sporting Clube de Portugal. Depois das duas Taças seguidas de 2017 e 2018, veio a terceira Taça, a de 2022. Passámos a ser o segundo clube com mais vitórias na prova, a quatro do 1.º de Dezembro, deixando para trás o Futebol Benfica. Mas há mais história neste título. Mariana Cabral é a primeira a ganhar a Taça como jogadora (ao serviço do 1.º de Dezembro em 2012) e como (nossa) treinadora. O Sporting CP continua com um percurso imaculado: em três finais, três Taças.

Ganhámos por 2-1 num jogo emocionante. Do lado do Sporting CP, a consistência contruída ao longo da época, com linhas bem definidas e construção apoiada. Já o Famalicão FC apostava num futebol mais solto com incursões rápidas e recuperações de bola em zona adiantada do campo.

O primeiro golo castigou um penálti claro por mão do Famalicão FC. Joana Marchão não falhou e com remate forte de pé esquerdo abriu o marcador. Já na segunda parte, Chandra Davidson aproveitou uma bola perdida e marcou o segundo. Um golo inteiramente merecido da mulher do jogo, que, como se diz, “partiu” a defesa famalicense. Mas não estava o jogo sentenciado. A nossa guarda-redes Doris Bačić defendeu brilhantemente um penálti e, após o golo das minhotas ao cair do pano, soubemos segurar o resultado. 

No final, quando subiram à Tribuna do Jamor para erguer a Taça bem alto, as nossas jogadoras levavam a emoção espelhada no rosto. Eu, que por dever de ofício estava lá ao pé, testemunhei de perto que a felicidade da conquista que o desporto traz é das melhores recompensas. O que é exactamente igual para homens e mulheres.