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Foto José Cruz

'Leão da Estrela' em análise no Museu

Por Jornal Sporting
29 Jul, 2017

Muitos conhecem o filme de 1947 mas poucos saberão que a peça original veio do teatro, estreado no Politeama em 1925

O Museu Sporting foi palco de uma palestra sobre a obra Leão da Estrela, que muitos conhecem do cinema pela película realizada por Arthur Duarte, mas poucos sabem que a peça original veio do teatro, levada a cena pela Companhia Chaby Pinheiro em 1925, no Politeama.

O jornalista Pedro Caldeira Rodrigues foi o orador – sendo igualmente bisneto de Ernesto Rodrigues, um dos autores da peça original, com Félix Bermudes e João Bastos –, desfiando diversos pormenores da peça que, como se calcula, depois de transpostada para o cinema, não ficou propriamente de acordo com a original uma vez que já havia sido visada pela censura.

"A comédia, estreada a 11 Julho de 1925, coincide com a fase final da I República, com a crise instalada que leva à demissão do Presidente Manuel Teixeira Gomes, com forte crítica social. Recorde-se que, tal como no filme, a peça de teatro dava conta de Anastácio, que já tinha bilhete para o jogo, mas não para o comboio que o levaria ao Porto, o que o leva a elaborar o esquema da viagem de carro com a família, com Artur Agostinho como condutor [personagem era o Miguel]. Pavão dos Santos, assina um artigo no semanário o Jornal, a 23 de Abril de 1976, com o título: O Leão da Estrela dá que pensar? E nele conta algumas passagens que a Inspecção dos Espectáculo visou, leia-se expurgou. 'E dizem que não há dinheiro! Corja de mandriões, quer uma pessoa divetir-se e não há comboio, não há nada! Era eu agora que ia fazer descarrilar o comboio! Isto é política! Se calhar venderam os bilhetes aos contratadores! Isto é que é um País! Não se pode fazer um projecto!... E querem eles a ponte sobre o Tejo e a auto-estrada... E não querem que haja revoluções!... Não querem que haja mendicidade! Gastam tudo na pândega! Bondade! Ainda querem que tenha bondade. A bondade dava-lhe eu mas era com um bomba ali na estação! Não ia eu, mas também não ía mais ninguém", recorda Pedro Caldeira Rodrigues, apresentando precisamente exemplos de temas politicamente sensíveis que no final da década de 1940 era dos maiores tabus da sociedade portuguesa.

A director do Museu Sporting, Isabel Victor, com o jornalista Pedro Caldeira Rodrigues na palestra que decorreu esta manhã no auditório do Museu Sporting sobre a peça 'Leão da Estrela'

A palestra, quase tertúlia pela interactividade com os presentes no auditório do Museu Sporting, enquanto o filme decorria no ecrã gigante do auditório, vem no seguimento da reportagem publicada nesta edição do Jornal Sporting (n.º 3634) e no encontro que este sábado se realiza pelas 18 horas, frente à Fiorentina, referente ao Troféu Cinco Violinos. Isto porque o Leão da Estrela tem no famoso quinteto leonino as suas personagens futebolísticas principais, não apenas com imagens de um encontro entre FC Porto e Sporting CP no Campo da Constituição, como pela ligação ao próprio humor do filme, na mítica cena de António Silva – na pele de Anastácio da Silva –, também relatada no Jornal.

Anastácio está acompanhado pelo seu amigo Filipinho, interpretado por Óscar Acúrcio. "Parece que já os estou a ver. A bola é posta em jogo e os nossos avançam como leões! Canário recebe a bola e passa a Travassos, Travassos dribla Guilhar que se estende ao comprido e passa a Vasques, Vasques recebe a bola e passa a Albano, Albano passa a Jesus Correia, Jesus Correia centra e Peyroteo completamente isolado, corre para a baliza e chuta, golo! Golo!". E derruba o tampo da mesa. "Ai meu Deus, que aconteceu? Mas que foi isto?" diz a sua mulher Carlota ao entrar de rompante na sala. "Foi o senhor Anastácio que meteu um golo", comenta Filipinho.