"A gravidade do que aconteceu exige resposta ao mais alto nível institucional"
18 Mar, 2019
Reacção de Frederico Varandas, presidente do Conselho Directivo do Sporting CP
No seguimento das agressões sofridas por elementos do Sporting Clube de Portugal no Estádio do Bessa e no Dragão Caixa, Frederico Varandas mostrou-se crítico e anunciou várias medidas para combater a violência no desporto. Numa conferência de imprensa que também contou com Miguel Afonso, vogal do Conselho Directivo para as modalidades, o presidente do Sporting CP começou por fazer uma declaração aos jornalistas.
"Estamos aqui porque em pouco mais de uma semana duas pessoas foram cobardemente agredidas em recintos desportivos. No Bessa, há cerca de nove dias, e no Dragão Caixa, há cerca de 48 horas. São episódios de violência física que nós repudiamos, combatemos e, sobretudo, que não queremos ver repetidos. No episódio do Bessa, tivemos um elemento do Conselho Directivo que foi agredido por trás com murros na nuca. No Dragão Caixa, uma agressão miserável a uma senhora que foi esmurrada na face. Em ambos os casos, existe a particularidade de serem casos cobardes. É preciso existir uma matilha de cobardes, não chega um. O que aconteceu não pode ser esquecido, ignorado ou tolerado. Gente desta tem de ser banida dos recintos desportivos. Federações, Liga, conselhos de Justiça e Disciplina, Secretaria do Desporto não podem fingir que isto não aconteceu. Se as leis e regras existem, que haja coragem para as aplicar. Sinceramente, não chega um telefonema pessoal para o presidente a pedir desculpa. Não chega um pedido de desculpa envergonhado. Ficámos à espera do que aconteceria depois do jogo do Bessa e, para além da nossa queixa-crime, nada aconteceu", começou por dizer Frederico Varandas.
"Recebi um telefonema de Pedro Proença a demonstrar solidariedade, mas é preciso uma reacção da Liga. Isto é um problema grave do desporto e o exemplo vem sempre de cima. Se eu não tenho bons comportamentos numa tribuna, como posso exigir bons comportamentos nos recintos desportivos? Não consigo. É preciso enfrentar o problema de frente. É raro o jogo em que não tenho uma multa por um cântico insultuoso ao adversário ou por uso de pirotecnia. Existem multas para as claques, para os espectadores. E para estes senhores, o que acontece? Assobiamos para o lado? É muito mais grave. Os agressores têm de ser banidos. Os dirigentes, se são cúmplices, têm de ser expulsos. Os clubes têm de ser responsabilizados. As federações têm de repudiar estes actos publicamente. O Estado tem de legislar e de ser co-responsável para criar condições para que isto não se repita. Portugal é um Estado de Direito, mas o desporto não pode ser um território sem lei, sem justiça e sem decência. A gravidade do que aconteceu exige resposta ao mais alto nível institucional. Vamos pedir uma audiência ao Governo, uma reunião com os presidentes das federações dos campeonatos e ligas onde o Sporting CP participa e propomos a formação de um conselho estratégico para a segurança no desporto. Não é um problema do futebol, das modalidades, dos seniores, do futebol jovem, das claques ou das tribunas. É um problema de quem é responsável pelo desporto nacional. No Sporting CP, e esta direcção garante isso, todos os nossos rivais foram tratados com dignidade e segurança e é assim que vão continuar a ser recebidos. No nosso programa eleitoral estava um pilar chamado «zero tolerância, zero suspeição». Não estava escrito em vão porque acreditamos nos nossos valores. Enquanto direcção não governamos o Sporting CP preocupados com o nosso mandato, mas sim com o que o SCP precisa. O que desejamos é que quem tutela as organizações com responsabilidade no desporto tenha a mesma coragem que nós e façam o que tem de ser feito para defender o desporto sem se preocuparem com mandatos e eleições. O problema da violência é grave e envergonha este país. Pode demorar tempo, mas o Governo português pode contar com o SCP e a sua coragem, tanto internamente como externamente. Apelo à coragem de todos os que têm a responsabilidade de decidir no desporto e na Nação", acrescentou.
Para Frederico Varandas, o Boavista FC e o FC Porto tiveram responsabilidades nos incidentes que resultaram nas agressões a elementos do Sporting CP. "Aconteceram duas coisas. Estavam selvagens e cobardes em recintos desportivos, onde não deviam estar, e a segurança falhou. E isso é da responsabilidade do clube que organiza o evento", contou, admitindo que era positivo ver presidentes de outros clubes a tomar uma posição contra a violência no desporto. "Garanto que o desporto português estaria muito melhor", disse.
Revelando que os presidentes do clube e da SAD do Boavista FC apresentaram desculpas pessoalmente e que o presidente do FC Porto fê-lo através de um telefonema, Frederico Varandas é da opinião de que tais medidas não são suficientes. "É preciso que as entidades com responsabilidade no desporto em Portugal digam o que têm a dizer. (...) Surpreende-me o facto de o presidente da Federação Portuguesa de Patinagem não ter feito qualquer declaração. No Bessa, ninguém veio criticar publicamente. É preciso dar o exemplo, colocar o dedo na ferida", referiu, explicando que "o Sporting CP vai ter sempre relações institucionais".
Por fim, o líder Leonino deixou uma garantia aos Sportinguistas. "É verdade que nos temos concentrado muito em questões internas como empréstimos obrigacionistas, caso de Alcochete, rescisões dos jogadores e a lamentável herança financeira que recebemos. Mas quero garantir que não vamos ignorar esse assunto. Jogadores profissionais disseram em tribunal que foram aliciados para perder um jogo, o que não é surpresa para mim. Não vamos largar este caso até ao fim, porque temos a convicção que o Sporting CP foi prejudicado desportivamente e financeiramente. Temos sérias convicções que ainda vem aí muita coisa", concluiu.