Muita classe em 'pezinhos de lã'
By sporting
31 May, 2013
31 May, 2013
Carlos Xavier recorda a sua longa passagem pelo Sporting e fala da culinária e do golfe, outros dos seus amores.
Carlos Xavier defendeu a camisola do Sporting durante 15 épocas e foi um jogador que se distinguiu pela capacidade técnica, fazendo-se notar pela excepcional capacidade para colocar a bola a longa distância e pela forma fantástica como marcava livres. Quando subiu a sénior, foi lançado em 1980/81 por Srecko Radisic como defesa central, mas construiu a sua carreira preferencialmente no meio-campo, nomeadamente como número 10, posição na qual se assumiu definitivamente ao serviço da Real Sociedad, clube que representou entre 1991 e 1994. Apresentou ainda alto rendimento como defesa direito na época de 1990/91, com Marinho Peres, época em que a nossa equipa chegou às meias-finais da Taça UEFA. Xavier cumpriu uma época como juvenil e duas como júnior em Alvalade e subiu a sénior em 1980/81. “Fiz uma temporada na equipa principal e estriei-me com um golo, frente ao Amora. No início da época seguinte, era intenção dos dirigentes emprestarem-me. No entanto, o Malcolm Allison, que tinha acabado de chegar para treinador, pediu aos futebolistas que iriam ser dispensados que fizessem um curto exercício de passe e recepção. E depois disso, decidiu que eu iria ficar”, recorda. “Essa época de 1981/82 foi magnífica, a melhor de todas! Fomos campeões, ganhámos a Taça de Portugal e chegámos à terceira eliminatória da Taça UEFA, com o Neuchatel Xamax. Malcolm Allison «lançou-me aos tubarões» a líbero, fazia dupla no centro da defesa com o Eurico, que marcava os avançados”, lembra, enaltecendo a política seguida: “Havia uma aposta na formação, praticamente só com portugueses e tínhamos um jogador estrangeiro, que fazia a diferença na baliza [Ferenc Meszaros]. Jogávamos para a frente, com um trio no ataque fabuloso, formado por Oliveira, Jordão e Manuel Fernandes”. Nessa temporada de ouro, em 1981/82, Malcolm Allison instituiu uma série de regras que eram do agrado dos jogadores. “Em dias de jogos, horas, almoçávamos às 10 da manha e podíamos comer tudo o que quiséssemos, batatas feridas, ovos estrelados, tudo! E até vinho, quem gostasse! E dentro de campo não nos ressentíamos, dávamos o litro”, conta. Alisson “não era uma pessoa de berrar com os jogadores”. Por isso, quando queria chamar-lhes à atenção, dizia-lhes calmamente: “Não me lixes!” Carlos Xavier recorda igualmente com grande saudade a época de 1990/91. “Fui lateral-direito, com o Marinho Peres e estivemos muito bem, colectivamente e individualmente. Serviu-me como «trampolim» para Espanha, onde representei a Real Sociedad. Mas já tinha sido defesa-direito em 1984/85, com John Toschak. Bom, não era bem defesa, pois jogávamos com três centrais e estava sempre lá na frente, fazia uma ala terrível com o Mário Jorge…”, diz. Um dos jogos ao serviço do Sporting que não esquece foi a finalíssima da Supertaça Cândido de Oliveira, disputada a 30 de Abril de 1996 com o FC Porto, em Paris, que terminou com vitória «verde e branca» por 3-0. “Foi um jogo em que estivemos muito bem do início ao fim, com dois golos do Sá Pinto e uma grande exibição do Amunike. Esse FC Porto era muito forte, mas tivemos todo o mérito”, defende. Ao longo dos anos, Carlos Xavier foi ficando cada vez mais eficaz na marcação de livres directos. Algo que, naturalmente, foi fruto de muito trabalho. “No tempo do Balakov, eu e ele ficávamos muito tempo a marcar livres, com o Vital na baliza. Tínhamos muita eficácia e só temos de agradecer ao Vital, pois não era fácil ele ficar ali tanto tempo, depois de acabar o treino. Este dom de marcar livres nasce com a pessoa, mas sem treino, nada feito…”, defende. Após terminar a carreira, em 1996, Carlos Xavier abraçou diversos projectos, desde o futebol de formação ao golfe, passando pelo futebol de praia e, ultimamente pela culinária. “Quando deixei de jogar, tive um projecto que foi a Foot Escola, que correu bastante bem durante alguns anos. Mas é preciso ter sorte com as pessoas com quem trabalhamos e infelizmente não tive essa sorte…”, lamenta. Depois, juntamente com Humberto Coelho e Mário Jorge, foi um dos criadores da primeira selecção de futebol de praia de Portugal. “Foi a partir daí que a modalidade ganhou credibilidade no nosso país. E buscar o Madjer, pois conhecia-o de São João do Estoril, jogava futebol com ele e percebi que ele daria um fantástico jogador de futebol de praia”, diz. E não se enganou, pois chegou a ser considerado o melhor do mundo. Posteriormente, teve uma escola Academia Sporting no CIF, mas reconhece que o projecto “não correu bem”. Até que se virou para outra área, abrindo o restaurante Taberna XXL, em Cascais juntamente com o irmão Pedro. “Tem comida tipicamente portuguesa e sou uma das pessoas que cozinha. A culinária é uma paixão que tenho há muitos anos e que cresceu quando vivi em San Sebastian, cidade que tem muitos restaurantes com estrelas Michelin. Não é a profissão ideal, gostaria de estar ligado ao futebol, nomeadamente sendo útil ao Sporting mas gosto muito do que faço”, confessa. Nos tempos livres, Carlos Xavier passa horas a jogar golfe e até entra em competição. “O meu gosto pela modalidade surgiu em 2000, nas colónias de férias que organizava com os miúdos da minha escola. O golfe era uma das actividades, comecei a praticar e a ganhar o «vício». Quando comecei a conseguir lançar a bola a 20,30, 40 metros, deslumbrei-me e passei a jogar com cada vez maior frequência. O meu «handicap» é 7.9 e há dois anos ganhei um torneio organizado pelo Sporting”, revela. O antigo futebolista do Sporting é ainda o padrinho em Portugal de uma nova modalidade, o futegolfe. “É jogado num campo de golfe, com uma bola oficial de futebol, com os pés, mas com as regras do golfe. A baliza é um buraco grande, fora do green. A malta mais nova gosta muito, já fizemos dois torneios na Beloura”, enaltece. O objectivo é “fazer uma selecção portuguesa e entrar em torneios no estrangeiro”. Nome: CARLOS Jorge Marques Caldas XAVIER Data de nascimento:26 de Janeiro de 1962 (51 anos) Naturalidade:Lourenço Marques (Moçambique) Posição: médio-centro, defesa-direito e defesa-central Clubes: SPORTING (1976/77-1985/86; 1987-88-1990/91; 1994/95 e 1995/96) Académica (empréstimo, em 1986/87) Real Sociedad (1991/92-1993/94) Títulos: um campeonato nacional, três Supertaças e duas Taças de Portugal Texto: André Cruz Martins Foto: Melissa Duarte