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Albano, o violino que tinha mais talento do que tamanho

By Jornal Sporting
26 Jul, 2016

Rápido e habilidoso com a bola nos pés, apesar da baixa estatura, obrigou o Sporting a pagar 20 contos pela sua transferência. Ainda hoje é recordado como um dos melhores pontas esquerdos do futebol português

Nasceu três dias antes do Natal de 1922, não muito longe das margens do Tejo. No Seixal, para ser exacto, onde era ainda uma criança quando começou a dar os primeiros pontapés na trapeira, a bola de trapos comum a muitos outros miúdos na altura. A paixão pelo futebol era tanta que Albano passava os dias a jogar com os amigos na rua e nos descampados da terra.

Daí até passar a federado na equipa local foi um passinho. Sim, muito pequeno, tal como a sua estatura. Mas desengane-se se pensa que o seu físico franzino o atrapalhava nos treinos e nos jogos. Muito pelo contrário. Uma teoria comprovada nos juniores do Barreirense, onde jogou antes de voltar ao Seixal, já como sénior. O seu talento era como o algodão: não enganava.

Rápido, com uma aptidão anormal em termos técnicos e uma capacidade de drible acima da média, obrigou o Sporting a pagar 20 contos – uma fortuna na época (1943) – pela sua contratação. Era visto pelo Dr. Amado de Aguilar, que na altura dirigia os leões, como o jogador ideal para ocupar a vaga de estremo esquerdo deixada em aberto por João Cruz, um nome consagrado do Clube. O problema é que as finanças leoninas, na altura, passavam por um período difícil – lutava-se pela renovação das instalações verde e brancas –, o que motivou uma forte contestação dos adeptos.

Nada que preocupasse o pequeno Albano, que se mostrou à altura do desafio e pegou de estaca na equipa principal. Fez parte dos famosos Cinco Violinos e ainda rendeu juros: conquistou um total de oito Campeonatos, quatro Taças de Portugal, três campeonatos de Lisboa e uma Taça Império. Um palmarés que o torna num dos atletas leoninos com mais troféus. Mas mais do que títulos, Albano provou durante 13 anos na ponta esquerda do ataque do Sporting que o talento não se mede aos palmos.

Com fintas desconcertantes, não tinha medo das diferenças de cabedal e, por isso, deixava a cabeça em água dos defesas adversários – uma vez até passou por entre as pernas de um adversário escocês. Que é como quem diz que se punha a jeito para levar umas pancadas valentes. Algo que contribuiu para que fosse um jogador muito querido entre os Sócios e adeptos, que não toleravam tal comportamento perante tamanha genialidade. O cartão-de-visita também ajudou: 161 golos em 335 jogos de leão ao peito.

Para a história fica ainda o seu humor e boa-disposição, simbolizada na sua estreia pela Selecção Nacional, contra a Suíça, no Jamor, no célebre jogo da chuva que terminou com dois golos para cada lado. "Choveu tanto naquele Portugal-Suíça que eu encolhi mais dois centímetros”, contou Albano, anos mais tarde, que com 13 internacionalizações e três golos de quinas ao peito ganhou com mérito um lugar de honra no futebol português.

Teve a sua festa de homenagem e despedida a 29 de Junho de 1957, quando muitos já o chamavam de velho: realizou apenas seis jogos nessa época. Ainda assim, teve a humildade para afirmar que jogaria nas reservas ou onde fosse necessário, até o Sporting o mandar embora.

Pouco tempo depois, pendurou as botas e abriu um café no Seixal com o dinheiro que juntou durante a carreira. O problema é que o negócio falhou: as ‘borlas’ que dava aos amigos custaram-lhe caro. Albano não se deu por vencido e, depois de arregaçar as mangas, começou a trabalhar como corticeiro numa fábrica local.

Faleceu a cinco de março de 1990, com 67 anos. Ainda hoje é recordado como um dos melhores pontas esquerdos que o futebol português conheceu. De pequeno nunca teve nada. Que o diga Fernando Peyroteo, que o descreveu um dia desta forma: “Nada fazia em força, mas em jeito. Tudo era feito de uma maneira leve e suave”.

Albano em números:

Temporadas: 13

Títulos: 8 Campeonatos Nacionais, 4 Taças de Portugal, 3 Campeonatos de Lisboa e 1 Taça Império

Jogos: 335

Golos: 161

Lista de vítimas: Benfica: 16 golos; Atlético: 15 golos; FC Porto: 15 golos; Belenenses: 12 golos; Académica: 10 golos; V. Guimarães: 10 golos; Estoril: 10 golos; Sp. Braga: 9 golos; V. Setúbal: 7 golos; Oriental: 7 golos; Boavista: 6 golos; Elvas: 6 golos; CUF: 5 golos; Salgueiros: 5 golos; Sp. Covilhã: 5 golos; Lusitano VRSA: 5 golos; Olhanense: 4 golos; Lusitano Évora: 4 golos; Barreirense: 3 golos; Famalicão: 3 golos; Nice: 1 golo; U. Lisboa: 1 golo; Fósforos: 1 golo; Oliveirense: 1 golo; Sanjoanense: 1 golo