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Foto DR

Alegadamente, um gabinete de crise…

Por Jornal Sporting
15 Mar, 2018

Editorial do Director do Jornal Sporting na edição n.º 3667

A crise é descrita, em diferentes manuais, como uma mudança repentina que altera o estado de normalidade de uma organização, alterando as suas rotinas e equilíbrio natural. As crises podem ter inúmeras proveniências: causas naturais, tecnológicas, de mercado, má conduta, entre muitas outras. Estas, por sua vez, podem dar origem a diferentes tipos de crises, como por exemplo, de litigância, jurídico-legais ou reputacionais.

Há várias ferramentas e instrumentos de apoio à gestão de uma crise no sentido de minimizar o seu impacto negativo, possibilitando uma gestão mais eficaz ou até mesmo evitá-la. Para isso, é necessário trabalhar de forma preventiva antes mesmo das crises eclodirem. A gestão de crise está, assim, intimamente correlacionada com a gestão de risco. Quando se gerem cenários de crise, o primeiro passo é a elaboração de uma matriz de risco. Esta assenta na exposição ao risco, probabilidade de ocorrência e impacto causado, caso o risco identificado venha de facto a ocorrer.

Percebe-se assim que seja através da análise da matriz de risco que venha a ser preparada a resposta da organização, e respectivos planos de contingência, em função dos diferentes cenários que eventualmente se perspectivem. Toda esta informação, responsabilidades, procedimentos, meios e recursos para dar resposta a uma crise são sistematizados num documento que tem o nome de Manual de Gestão de Crise. O conceito de crise, tipologias, cenários, alertas e respostas estão nele tipificados, com a responsabilidade de intervenção claramente definidas para cada uma das situações. Um dos instrumentos previstos, em função da gravidade e da evolução da própria crise, é a necessidade de juntar, num mesmo local, aqueles que têm a capacidade legítima de decisão e de alocar os recursos necessários com a maior brevidade possível. Trata-se da constituição de um Gabinete de Crise a quem competirá, nos moldes definidos, a responsabilidade de gerir a crise instalada.

Dito isto, e conhecendo os nossos rivais tão bem esta realidade, foi com alguma surpresa que fomos confrontados com a declaração de Luis Filipe Vieira que iria, a partir de segunda-feira passada, contar com um gabinete de crise. Primeiro, porque a crise existe de facto e já é reconhecida para os lados da Luz há muito tempo, pelo que “das duas, três”: não souberam avaliar correctamente a situação por se considerarem impunes ou intocáveis; entraram em negação e meteram a cabeça na areia; ou então, haverá uma outra qualquer razão que a própria razão desconhece.

Curioso, ou não, é que o anúncio da criação do gabinete de crise não foi mais do que um ultimato, uma ameaça e tentativa de coacção, sobre aqueles que coloquem em causa ou questionem o que se está a passar, sejam eles quem forem. Desde adeptos, agentes desportivos, agentes da justiça e de investigação ou jornalistas... Quanto a estes últimos, clara e inequivocamente visados e intimados no seu direito à informação, à opinião e à liberdade de expressão, não escutámos, até agora, reacção alguma. Nem dos próprios, nem tão pouco das instituições que costumam ser tão diligentes no que respeita ao Sporting CP e ao seu Presidente, mesmo sem razão ou motivo para que se pronunciem, como foi o caso do Sindicato dos Jornalistas, do CNID ou da ERC, para não falar em outros.

Este gabinete de crise, como li algures, é constituído por juristas e mais juristas, reforçado com mais juristas, com a missão de atacar tudo quanto mexe numa estratégia de intimidação e eventual coacção, remetendo o caso para o que realmente é, embora queiram fazer parecer o contrário, um caso de polícia e de justiça. Este é para ser tratado pelos tribunais, não esquecendo a silenciosa justiça e disciplina desportiva. Não se trata, de facto, de uma crise comunicacional ou reputacional (esta é, quanto muito, a consequência) apesar de o lugar-tenente da propaganda de Vieira ser, aparentemente, o coordenador deste gabinete. 

As ameaças à justiça, tentando inverter papéis entre os titulares do direito e os eventuais prevaricadores, são de facto uma grande paródia. O líder da luz, nas suas persecutórias afirmações, diz que não quer acreditar na clubite da justiça. Sendo verdade as revelações feitas pelo Expresso, os responsáveis do Benfica teriam tido conhecimento prévio das buscas e outras diligências ao estádio da Luz que, entre outras coisas, revelam uma violação clara do segredo de justiça, mas não só. Aliás, ao que parece, existem mesmo alegadas toupeiras equipadas a rigor.

Pelo nosso lado, continuaremos a acreditar que a justiça, pese algumas toupeiras e outros eventuais bicharocos, continua tal como é simbolizada pelo equilíbrio de uma balança e vendada. Ou seja, cega não olhando a cores ou outras quaisquer diferenças.

Boa leitura!