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Foto D.R.

"Causa ou Consequência?"

Por Jornal Sporting
05 Abr, 2018

Editorial do Director do Jornal Sporting na edição n.º 3670

Cada vez mais se torna evidente que vivemos, a nível global, numa crise de valores que implica e revela outros males maiores que afectam profundamente a nossa Sociedade. Também por isso, é com algum incómodo que assistimos a que queiram considerar o desporto, e em particular o futebol, como o mal de todos os males. 

A tendência é abordar o futebol de forma isolada, sem considerar que o futebol é, ele próprio, um reflexo da própria Sociedade. Esta abordagem é recorrente, seja por explorar o tema pela rama, por falta de conhecimento ou por simples demagogia. Mas mais grave ainda é que, por vezes, é feito intencionalmente para desviar atenções e defender interesses opacos. 

A Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto organizou, na passada terça-feira, uma Conferência Parlamentar subordinada ao tema “Violência no Desporto”. O primeiro painel – A Violência no Desporto Vista pelas Organizações do Fenómeno Desportivo – teve a participação dos presidentes da FPF, Liga, Confederação do Desporto, APAF, Sindicato dos Jogadores e dos Comités Olímpico e Paralímpico. Entre os convidados, esteve o Presidente Bruno de Carvalho, o qual teve oportunidade de relembrar que já em 2013, naquela casa, esteve reunido com todos os Grupos Parlamentares, apresentando um conjunto de propostas para a melhoria do futebol, na qual se incluía precisamente, entre as diversas temáticas, a violência no desporto.

Por esta ser uma temática com que o nosso Clube muito se tem preocupado, sobre a qual, aliás, tem produzido um válido e aprofundado trabalho, não podemos estar de acordo com uma das ideias-chave ventiladas que faz da punição a base da resolução dos problemas da violência. Dito isto, quem quiser de facto atacar a fundo os problemas do futebol, tem de, em primeiro lugar, perceber a sua origem e o que realmente os provoca. Caso contrário, não irá muito além de medidas profilácticas que apenas podem momentaneamente atenuar sintomas, mas não os solucionar e uma vez mais adiar uma necessária e premente intervenção estruturante. 

Como referiu o Presidente Bruno de Carvalho, o maior activo do fenómeno futebol são os seus adeptos. Sem tirar relevância naturalmente a jogadores e outros protagonistas, considerou que são os adeptos quem devem ser a primeira prioridade, salientando a sua preocupação pelos milhões de adeptos que por este mundo fora se têm afastado do futebol. Isto sim, é um problema que a todos nos deve preocupar, no sentido de percebermos as suas razões, para que possamos tomar medidas que possam inverter esta realidade. Acreditamos que mais transparência e mais verdade desportiva podem contribuir decisivamente.

O Director International Football Association Board (IFAB), Lukas Brud, afirmou na última edição do Congresso Internacional The Future ao Football (TFOF) relativamente à exibição de imagens do VAR, já implementada na Liga Americana de Futebol (MLS), que não há, por parte daquele organismo, quaisquer objecções para que tal aconteça em Portugal. Por seu lado, o Presidente Fernando Gomes, veio agora reafirmar na Conferência Parlamentar que os regulamentos não permitem a passagem de lances duvidosos nos écrans dos estádios, adiantando ainda que na sequência das intervenções no TFOF, está em contacto com o IFAB sobre esta temática. Percebe-se assim que não havendo impedimento do IFAB, mas apenas dos regulamentos em Portugal, então a passagem das imagens do VAR nos ecrãs dos estádios, permitindo maior transparência e escrutínio, depende tão só da vontade política da FPF para tal. Sendo assim, a simples alteração dos regulamentos, torna-o viável, permitindo aos adeptos acompanharem em tempo real as incidências do VAR, introduzindo mais transparência e valorizando o seu papel.  

Fica também claro que na organização actual do futebol, os clubes não estão a ter o reconhecimento da sua real importância e do seu contributo nas suas múltiplas dimensões. 

Quem quiser debater e resolver seriamente estas temáticas não se pode deixar levar pelo ruído, ou seja, não se pode preocupar apenas com o fumo e esquecer o fogo que lhe dá origem. Sobretudo quando as cortinas de fumo são provocadas por cartilhas estrategicamente trabalhadas, tendo por base a propaganda e o terrorismo comunicacional tentando abafar os crimes que estão a ser investigados.

Boa leitura!