Your browser is out-of-date!

Update your browser to view this website correctly. Update my browser now

×

Foto DR

Os Deuses devem estar loucos

Por Jornal Sporting
04 Jan, 2018

Editorial do Director do Jornal Sporting na edição n.º 3657

Os Deuses devem estar loucos” é um filme de que muitos se recordarão, e cujo argumento se centrava no desequilíbrio social provocado por uma Coca-cola atirada pelo piloto de uma avioneta.  A garrafa, “vinda dos céus”, caiu numa tribo de Bosquímanos.

A organização social vivida pelos Bosquímanos foi afectada por aquele desconhecido e estranho objecto. Tentaram descobrir a utilidade da coisa, experimentaram utilizá-lo como instrumento de sopro, pilão para amassar,… rapidamente se tornou no objecto do desejo, criando desestabilização e quebra da harmonia até aí vivida. Todos queriam a garrafa, objecto “aspiracional”, de ostentação e de pretenso poder.  

Os últimos acontecimentos do futebol português revelam, e aproveitando a analogia, uma garrafa de Coca-cola que veio colocar em alvoroço o sossegado e conivente sistema que rege o desporto-rei. Muitos continuam, e citando o meu amigo Augusto Inácio, a dizer que o que estamos a ver é uma “Pepsi” quando se vê claramente que é “Coca-cola”.  

Tudo estava “bem” na tribo do futebol, e com as suas cooperações, até cair um “objecto” que veio abanar as suas estruturas e pôr em causa a sua transparência, seriedade e credibilidade. Um processo, tal como o famoso slogan de Fernando Pessoa, “primeiro estranha-se e depois entranha-se”, que impediu que a Coca-cola fosse comercializada em Portugal, porque se tinha coca não poderia estar à venda, e se não tinha tratava-se de publicidade enganosa. Se o slogan afirmava que primeiro se estranhava e depois se entranhava, era então o reconhecimento do processo análogo aos estupefacientes que também se estranham, depois entranham-se, viciam e provocam dependência.

A era das tecnologias da informação que vivemos, forçou os “objectos estranhos” que caem do céu (ou do inferno) a assumirem as formas mais diversas, e o caso dos emails bem o comprova. O desdém com que foi, ou ainda é, tratado por entidades com responsabilidades nesta matéria que, ou ignoram e desvalorizam ou até mesmo ridicularizam aqueles que alertam ou alertaram para a gravidade do que se estava a passar. Para que fique claro, não falamos das entidades de investigação, pois acreditamos que estejam a fazer diligentemente o trabalho que lhes compete. 

O Presidente do Sporting anda há cinco anos a denunciar um conjunto de situações graves que existem no futebol português, recebendo por parte de cartilheiros e afins o epiteto de “pirómano” ou “maluquinho”. Mas não deixa de ser curioso que, o que vem denunciando, cada vez mais se revela, infelizmente, verdade. Tanto assim é, que o próprio advogado dos nossos rivais já reconheceu que o caso dos emails pode indiciar o crime de tráfico de influências. Para o crime de corrupção a distância está cada vez mais curta…

A suspeição da viciação de resultados volta a ter os mesmos protagonistas. 2018 pode ser mesmo o ano do “penta”… se conquistarmos o campeonato esta época, e se como é da mais elementar justiça, nos atribuírem os quatro títulos do Campeonato de Portugal. Mas o “hexa" também pode ser realidade. A provarem-se as irregularidades, o título de 15/16 pode ser-nos entregue. Se assim for, passaremos apenas a ter a oportunidade de jogar com o nosso eterno rival através da Equipa B… na Ledman Liga Pro.

Regressemos ao filme. Para os Bosquímanos voltarem a viver em harmonia, o protagonista desta história partiu, com sentido de missão e para preservação da sua tribo, para a terra dos deuses para lhes devolver o “objecto”. Conhecemos bem as peripécias que o Bosquímano viveu nesta sua caminhada…

Para que a transparência, credibilidade, paz e harmonia voltem ao futebol português, é necessário que Governo, FPF e Liga deixem de assobiar para o lado e parem de ignorar vouchers, e-mails e afins, pois quanto à justiça e às entidades de investigação criminal acreditamos que façam o que todos esperamos delas: descubram a verdade e façam justiça! Uma coisa é certa, ninguém apagará da nossa memória o que já pudemos ler.

Boa leitura!