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A receita para superar barreiras entre duas vidas

Por Jornal Sporting
12 Fev, 2016

Reportagem com Marta Onofre no Jornal Sporting desta semana

Todos temos aquele amigo que falta ao café, à sexta-feira à noite, dizendo-nos que tem de estudar. “Desta vez é mesmo importante!”, afirma, repetidamente, até nos convencer de que, de facto, não tem tempo para tudo. Marta Onofre tornou-se campeã nacional de salto com vara no mesmo ano em que se licenciou em... medicina. Nunca lhe parece ter faltado tempo. Este fim--de-semana bateu inclusivamente o recorde nacional ao alcançar a marca dos 4,45m e já se inscreveu numa pós-graduação em medicina desportiva. Dir-nos-á aquele nosso amigo que é impossível, mas a explicação parece simples: “Conciliar o curso com o salto com vara foi uma questão de disciplina e de organização. Quando queremos muito, é possível conjugar as coisas”. Dito assim nem parece difícil, pois não? Mas das palavras às acções vai muito trabalho de distância. 

Uma das principais dificuldades em gerir as duas actividades, de forma a apresentar resultados positivos em ambas, foi colocada pelo próprio modelo de ensino existente em Portugal. “Sem dúvida que o sistema de ensino não está preparado para alunos atletas de alta competição. Parte dos professores, que também são médicos, acham que só se pode ser médico ou atleta. Na cabeça deles é perfeitamente inconcebível fazer as duas coisas, o que não facilita”, afirma a jovem de 24 anos, que, mesmo sem o regime de atleta de alta competição, tinha média para entrar no curso de medicina em três universidades distintas. Para melhorar a situação, Marta Onofre sugere implementar... o que está previsto. “Supostamente, está escrito que os atletas têm direito a um professor auxiliar que os ajude a acompanhar a matéria, mas isso nunca aconteceu – penso que seria útil se fosse colocado em prática”, sustenta.

Mas, afinal, o que deu e tirou a medicina ao salto com vara e vice-versa? “O facto de ter estudado medicina tornou-me uma pessoa muito trabalhadora, organizada e até perfeccionista. A nível do conhecimento do corpo, obviamente que também ajuda”. Pelo contrário, o atletismo tem atrasado a integração no mercado de trabalho, mas há sacrifícios a ser feitos por causas maiores... e 2016 é ano de Jogos Olímpicos. “Este ano tenho optado mais pelo treino em detrimento da medicina por se tratar de ano de Jogos Olímpicos. Optei por fazer um ano de pausa, atrasando um pouco a entrada no mercado de trabalho, para dar mais tempo à recuperação”. Não será coincidência ver que esta dedicação redobrada tenha resultado no recorde nacional e consequente qualificação para o Campeonato Europeu de Pista Coberta.

Na época anterior sagrou-se campeã nacional de salto com vara e licenciou-se em medicina, este ano já bateu a melhor marca nacional e conseguiu a qualificação para os Europeus. A questão, virada para o futuro como a própria Marta Onofre, é entender o que falta e o que quer mais. Ou se há mais para querer. Sem pensar muito, como que a provar que se encontra perfeitamente esclarecida e focada, responde, quase através de uma lista de desejos que sabe exigir muito trabalho: “A nível colectivo, poder ajudar a equipa e dar o máximo de pontos e, a nível europeu, se possível repetir o segundo lugar da Taça dos Campeões Europeus de 2014, sendo que ganhar seria o melhor cenário possível. Individualmente, voltar a ganhar, tentar chegar à final no Campeonato Europeu e conseguir os mínimos para os Jogos Olímpicos”.

Marta Onofre já provou ser capaz de alcançar vários objectivos ao mesmo tempo. Este ano aumentou a fasquia, mas a atleta ‘verde e branca’ tem-se dado bem com as alturas. Um pouco mais alto e vai até ao Rio de Janeiro, participar nos Jogos Olímpicos. E o nosso amigo, que continua a dizer que lhe falta tempo para ir até ao café...