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O futebol de hoje, segundo Jorge Jesus

Por Jornal Sporting
06 Jul, 2015

Treinador ‘leonino’ em entrevista alargada na SIC Notícias

Jorge Jesus esteve presente no programa ‘Play-off’ da SIC Notícias, “por ter um painel composto por gente feita no futebol e com a linguagem do futebol” como explicou, e abordou variados temas do futebol actual e do Sporting ao longo de quase duas horas, com perguntas não só do jornalista João Maia Abreu como do comentador Rui Santos e dos ex-jogadores e técnicos Rodolfo Reis, António Simões e... Manuel Fernandes.
 
Da contratação pelo Sporting aos objectivos do Clube, passando por questões de estrutura, organização e mesmo de jogadores, o treinador ‘leonino’ deu uma autêntica aula daquilo que considera ser o futebol actual, muitas vezes adaptado à realidade do Sporting, naquela que foi a primeira grande entrevista de fundo desde que chegou a Alvalade.
 
Aqui fica o resumo alargado das ideias do técnico ‘verde e branco’ ao longo da conversa.
 
Conseguia imaginar a troca do Benfica pelo Sporting?
“Não dava para imaginar nem quando acabou esta temporada. Foi tudo muito rápido, de um momento para o outro que aconteceu”
 
Como foi o mês de Junho?
“Foi normal, a pensar como faço sempre não só em relação ao final da época mas também à pré-época. Tive mais trabalho, como é óbvio, porque uma coisa é seres treinador de uma equipa um, dois ou três anos, outra coisa é entrares numa casa que desconheces. Ando à procura de conhecer melhor a realidade do Sporting e por isso tenho de trabalhar mais, entrar às sete na Academia e sair às oito ou nove da noite e o meu trabalho tem sido assim”
 
Como é que se precipitou a passagem para o Sporting?
“Vivi tudo normalmente, tenho muitos anos de futebol. Não é uma mudança qualquer mas terminava contrato, portanto ou ficava ou saía do Benfica. Acabei por sair. Durante estes seis anos senti-me desejado no Benfica e no último ano não senti. Apareceu um Clube que me desejava e como tal tomei essa opção. Tenho muita experiência do futebol e percebo bem esse desejo. Tive de tomar uma decisão”
 
Treinar o Sporting era um desejo?
“Se quando estava no Sp. Braga sonhava treinar um dos três grandes claro que sim. Depois de ter chegado ao Benfica, não sabia que poderia ter essa possibilidade mas quando ela surgiu, e quando vi que havia tanta vontade de me contratarem, não hesitei nem discuti nada, veja lá... Nem verbas discuti: quanto me querem oferecer, está feito. Tinha outras propostas de bons clubes, que não tinham comparação, apesar de não serem aqueles que podem ganhar a Champions. Já ganhei tudo em Portugal e fui duas vezes à final da Liga Europa. Se tivesse de olhar pela parte financeira, tinha ido para o estrangeiro porque tinha propostas de seis e oito milhões. E ainda há as questões dos descontos – em Portugal desconto 60% (...) Para Itália tinha quatro clubes como o AC Milan, o Inter, o Nápoles e a AS Roma”
 
Foi o entusiasmo de Bruno de Carvalho que o convenceu?
“Exactamente, foi o entusiasmo que me convenceu. Senti que era este treinador que queriam e em dois dias resolvi a questão. É óbvio que a questão sentimental pesou. Foi tudo muito rápido mas é verdade que o meu pai teve alguma influência na decisão”
 
O que é uma estrutura no futebol?
“O que alimentam as estruturas são as vitórias, não há estrutura sem vitórias. O FC Porto tinha a mesma estrutura mas deixou de ganhar, porque é que agora não ganha?”
 
Como se deram as chegadas de Octávio Machado e Manuel Fernandes?
“Quem manda no Sporting Clube de Portugal é o Presidente Bruno de Carvalho, está acima de toda a gente. Aquilo que peço está em sintonia com ele. Banco? Se ele entender que deve ir para o banco, deve ir. É o Presidente que disse. É importante perceber-se quem toma as decisões. Estou a conhecer o Presidente, é um homem com muita dinâmica, muito apaixonado. É um pouco como eu e tenho a certeza que nos vamos entender muito bem. O que aconteceu no passado não me interessa. Quem escolheu Octávio Machado e Manuel Fernandes? O Octávio é um homem do futebol, que tem ideias muito próprias e que, dentro de uma estrutura a qual eu e o Presidente achámos que era o melhor para o Sporting, foi a opção porque tem todos os requisitos. Foi treinador, jogador, já faz parte também da comunicação, com um conhecimento profundo do que é gerir o dia-a-dia. A vinda do Manuel tem o mesmo sentido. O Presidente também achou bem, porque ele é soberano, acreditou nestes regressos. São pessoas que estão ligadas ao Clube, com muita capacidade. O que faz a diferença numa estrutura são as pessoas no sítio certo. Não é um bicho de sete cabeça, são pessoas. Tenho uma forma de trabalhar muito em sintonia com todos os presidentes, sou eu e ele e agora não vai fugir à regra. Passado? Só me interessa o presente e o futuro. Aceitei de forma fácil e estou muito entusiasmado com este projecto. Organização é escolher as pessoas certas para a estrutura e engloba muita coisa”
 
Que organização entrou no Sporting?
“A estrutura do Sporting já tem pessoas bem organizadas e com um conhecimento muito profundo do que é aquele grande Clube. Só entraram duas pessoas. Entendemos, eu e o Presidente, que poderiam corresponder ao melhor para o Sporting. As comparações fazem-se dentro de campo, aí é que se define tudo porque não há estrutura quando não se ganha. Agora, quando temos uma estrutura forte estamos mais próximos de ganhar”
 
Vai conseguir imprimir a mesma dinâmica ofensiva no Sporting?
“Vou tentar e acredito que vou conseguir faze-lo com o mesmo modelo. A ideia de jogo vai ser a mesma, o que define o resto é o modelo de treino e de jogador. Parece muito fácil mas depois é muito complicado... O modelo de treino e de jogador é que determina tudo o resto da ideia de jogo”
 
Quais são os pressupostos que colocas em relação aos jogadores de formação?
“Existem muitos mitos. Antes de chegar, quantos havia da formação? Ninguém sabe. Depois passaram pela equipa André Gomes, Cavaleiro, André Almeida, Oblak... Vamos ver uma coisa: formar, formam-se todos os jogadores, uns mais novos e outros mais velhos. Hoje, os miúdos da formação têm uma forma de pensar diferente”
 
Os jogadores do Sporting também podem dar mais?
“Quando disse isso ao chegar ao Benfica, via que tinha bons jogadores mas não era tão bem aproveitada em termos tácticos. No Sporting, não posso dizer a mesma coisa: teve dois treinadores que, nos últimos dois anos, apresentaram equipas bem trabalhadas a nível técnico-táctico. Essa é a diferença – a qualidade do treinador português”
 
A candidatura do Sporting ao título
“A história do Sporting, a cultura do Sporting, nenhum treinador com identidade e conhecimento do Clube em termos desportivos não pode ir treinar se não for assumido candidato ao título. As armas têm influências mas não é tudo. Não há outro caminho e não entendo que qualquer treinador dos grandes não se assuma. Nos últimos 30 anos o Sporting ganhou dois Campeonatos mas houve um passado. Os grandes clubes têm de ter massa adepta e o Sporting tem. O Sporting exige que se ganhe títulos porque é essa a história do Clube e não há outro caminho”
 
Quantos reforços necessita o Sporting?
“Como todos os clubes, toda a gente melhora o seu plantel. Dentro do que conheço por fora a equipa do Sporting, é provável que se troque no máximo cinco e no mínimo três jogadores. O plantel do Sporting tem muita qualidade e podemos melhorar com esses tais reforços, partindo da ideia que mais ninguém tem de sair. Em relação ao Danilo, era um jogador que fazia parte de uma ideia em função do nosso modelo de jogo, não foi possível mas há muitos jogadores e não fiquei muito preocupado porque sinto que o mais importante era reforçar outras posições. Preferia não falar em nomes, são ‘dossiers’ da responsabilidade do Presidente. Quando cheguei Bryan Ruiz estava a ser negociado. Ricky? É uma hipótese, foi o melhor marcador antes de sair, não conseguiu vingar nos últimos dois anos mas não é a posição prioritária”
 
Quais são os objectivos do Sporting?
“O Campeonato Nacional é o grande objectivo do Sporting, o ‘play-off’ da Champions é muito importante em termos desportivos e financeiros, no início há logo a Supertaça que é o primeiro título. Jogo especial? Não, só é especial porque é o primeiro título. Terei o mesmo respeito que tive sempre que jogava com os rivais. Sem jogadores não se consegue ter uma boa equipa mas há treinadores que conseguem potenciar mais jogadores num ano do que outros em dez. Desde que se tenha matéria prima, e o Sporting tem, acredito que podemos fazer uma equipa para todas as exigências (...) Campeão na primeira época? Acredito que podemos ser campeões. Mas a minha maior responsabilidade é devolver ao Sporting toda a cultura e história desportiva”
 
William é um dos jogadores que pode potenciar e valorizar?
“O William já é uma certeza, mesmo sendo jovens. Se a equipa for potenciada, ele também será. Só poderemos valorizar individualmente se a equipa for aos títulos. É um jogador que tem características para jogar mais e comigo vai jogar mais”
 
O que acha do sorteio dos árbitros?
“O sorteio e a nomeação são diferentes mas com um ou outro tem de haver jogo. Se tivermos um quadro de árbitros de qualidade, porque não o sorteio? A qualidade está lá, a nomeação permite escolher aquele que se pensa ser o melhor mas depois acaba por não ser esse o nomeado... O importante, no meio disto, é ter uma equipa forte, com muita qualidade – isso é que interessa, os árbitros são importantes no trabalho deles”
 
Wallyson, Gelson Martins, Rubio, Ryan Gauld... Vai olhar com atenção para estes jovens da equipa B que se têm destacado?
“Independentemente da nacionalidade ou do nome, o que importa é a qualidade. O Sporting nestes últimos anos é a equipa que mais jogadores têm apresentado no onze mas nada se ganhou. Mas continua a ter jovens de qualidade e em três dias percebi facilmente que isso é uma realidade. Há dois jovens que vão fazer parte do plantel A e que no ano passado estavam na equipa B. Se é algum dos que nomeou? Um é mas há tempo para depois verem tudo isso. Há uma diferença grande entre formação e prospecção e o Sporting, que esteve sempre à frente na formação, deve também estar à frente na prospecção para ter outra margem de recrutamento”
 
Labyad e Viola encaixam-se no perfil?
“Antes de tomar decisões quis conhecer todos os jogadores que são do Sporting e quis trabalhar com eles. É o que estou a fazer. Como não temos ainda uma série de jogadores que estiveram nas selecções, posso observar todos os outros com mais tempo e terei um critério mais prático, tomarei todas as decisões depois de fazer uma análise. Estão todos os emprestados a trabalhar comigo para depois tomar as minhas decisões. Eu crio o meu plantel na pré-época, nunca parto para a pré-época com o plantel definido”
 
Como estão nesta altura os outros rivais e o Sporting?
“O Benfica é bicampeão, tem uma equipa trabalhada de seis anos, uma máquina feita e oleada com todas as possibilidade de partir melhor, um pouco mais à frente”
 
O início mais cedo da época oficial condiciona?
“O meu modelo de treino vai ser completamente diferente dos últimos anos porque não havia necessidade de partilhar com os jogadores ideias que eles desconhecem. Por isso, a metodologia de treino será diferente. Vou ter de criar um modelo e uma ideia diferentes. Entre selecções nacionais de Portugal, Argélia e Peru, foram 12 jogadores. Três começam amanhã, oito só chegam no dia 19. O estágio na África do Sul já estava marcado”
 
Rui Patrício deve continuar a ser capitão?
“O capitão de equipa é uma questão para ser discutida dentro da equipa. É um dos capitães e para mim será sempre aquele que tiver mais qualidade. Mas, para mim, um capitão não deve ser apenas o que tem mais anos no Clube”
 
Vai mudar a forma de estar no banco?
“Porquê? A minha forma de estar, a minha personalidade e a minha paixão pelo jogo não vai mudar, claro. Ser mais penalizado? Acho que vai ser a mesma coisa. Por norma falo com os jogadores, não estou a falar com os árbitros”
 
Gostava de ter reforços da anterior equipa?
“O Benfica tem grandes jogadores mas não digo aquele que gostava de ter. Da mesma forma como quando estava no Benfica gostaria de ter jogadores do Sporting”