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Gato de Frankfurt? Sim. Leão voador? Sempre

Por Jornal Sporting
10 Jul, 2015

Azevedo, o primeiro grande guarda-redes nacional, faria hoje 100 anos

João Azevedo faria hoje 100 anos. O primeiro grande guarda-redes português não tocava na frente com os Cinco Violinos mas conseguiu a maior sinfonia de títulos: 22!

Há qualquer coisa de especial no Barreiro. Foi lá que nasceu Carlos Gomes. Foi lá que nasceu Carvalho. Em pequenos não viram fantasmas; em grandes tornaram--se monstros; hoje são como os diamantes – eternos. Mas a história mostra que nunca há duas sem três e, antes dos guarda-redes que se notabilizaram na baliza do Sporting nos anos 50 e 60, um outro se destacou como herói improvável. Era pequeno (para a posição) mas saltava mais do que os outros. Ágil, destemido, sempre com um estilo felino. Ganhou a alcunha de ‘Gato de Frankfurt’ após uma exibição de sonho na Alemanha; foi também chamado de ‘Tigre português’ pelos reflexos apurados sem precedentes no País; será, para sempre, um exemplo de leão que nem ferido virava a cara à luta. Só queria ganhar. E, no final, ganhava. João Azevedo, o jogador mais titulado de sempre, faria amanhã 100 anos.

Começou no Barreirense, passou para o Luso e tentou a sorte no Benfica. Não ficou. As indicações deixadas até agradaram os responsáveis ‘encarnados’, mas foi o jovem João a não gostar da forma como foi tratado, sobretudo pelo facto de não dispensarem sequer o dinheiro para regressar ao Barreiro. O guarda-redes era uma pessoa de princípios e não se revia naquelas faltas de atenção. Sorte do Sporting, que o contratou. E provavelmente era a opção onde mais dificuldades teria em jogar: os ‘leões’ já contavam com Jaguaré, um dos primeiros brasileiros a alinhar no Clube que veio do Corinthians depois de já ter passado pelo Barcelona, e com Dyson, um internacional português ex-Benfica. Todavia, foi só uma questão de tempo: desde a estreia com o Boavista, em Fevereiro de 1936, não mais perderia o lugar até 1953, ano em que perdeu de vez o lugar para Carlos Gomes.

Mesmo não sendo alto, destacava-se pela agilidade e pela capacidade de sofrimento que ainda hoje deveria servir de exemplo enciclopédico para qualquer atleta ‘verde e branco’. E episódios, esses, encontram-se avulso. Como o encontro decisivo do Campeonato de Lisboa de 1946, em que fracturou a clavícula, saiu de campo mas regressou quando o 1-1 se mantinha para garantir que o Sporting chegaria à vitória por 3-1 (e consta que, pelo meio, ainda fez uma defesa vistosa com um só braço a remate forte de Espírito Santo). Como a final da Taça de Portugal de 1948, diante do Belenenses, em que nem a fractura no pé conseguiu fazer com que encostasse no banco sem mais jogar (recorde-se que, na altura, não havia substituições). Ou como outros jogos onde abriu a cabeça mas preferiu levar pontos para fechar a ferida apenas depois de garantir os pontos da vitória.

Reza a lenda que Azevedo tinha um feitio refilão. Não se importava de contestar o que achava mal, mesmo que tal atitude pudesse causar dissabores pessoais. Várias imagens mostram o gosto em jogar de boina, nenhuma revela outro dos hábitos em alguns jogos especiais: fumar um cigarrinho às escondidas dos treinadores e companheiros antes da entrada para o início da partida. Ganhou nove Campeonatos de Lisboa, sete Campeonatos Nacionais, quatro Taças de Portugal e dois Campeonatos de Portugal. Foi internacional por 19 ocasiões. Chegou a capitão dos ‘leões’ após o abandono de Álvaro Cardoso. Na frente, ouvia-se a melodia saudosa de Cinco Violinos talhados para fazer golos; atrás, na rectaguarda de uma defesa de betão, esteve sempre um maestro na arte de evitar golos.

“A consagração de um ídolo – João Azevedo, um jogador que honra o desporto português, recebeu um justo prémio por uma carreira a todos os níveis notável”, escrevia o jornal ‘A Bola’ no dia em que o guarda-redes recebeu uma justa homenagem depois de terminar a carreira. A seguir ao futebol, foi taxista na terra que o viu nascer e motorista num colégio em Londres antes de regressar a Portugal, onde morreria em 1991. Hoje, 100 anos depois do nascimento, fica o eterno exemplo de quem mostrou que não há impossíveis quando se quer ganhar. Porque João Azevedo era assim – queria ganhar mais do que os outros. Sempre com o respeito máximo pelo ‘leão’ que envergava ao peito.