Your browser is out-of-date!

Update your browser to view this website correctly. Update my browser now

×

Taxonomy term

Português, Portugal

Os árbitros merecem melhor

Por Jornal Sporting
28 Jan, 2016

Artigo de opinião do Presidente do Clube, Bruno de Carvalho

É inaceitável o facto de ter voltado a sair uma nota de um árbitro (de novo negativa e de novo de um jogo do SCP) com a explicação de que teria sido consequência de uma jogada em que o árbitro iria favorecer o Sporting, tendo o árbitro auxiliar anulado o lance. Note-se que:

1 – Concordo com a nota negativa;

2 – Concordo, perfeitamente, que o lance do ‘penalty’ assinalado por suposta mão foi bem anulado;

3 – Considero que toda a arbitragem do jogo foi negativa e que o facto do observador ter referido que a nota negativa o foi apenas por um ‘penalty’ mal assinalado é, mais uma vez, uma fortíssima pressão e condicionamento aos árbitros para que os mesmos, em caso de dúvida, nunca decidam a favor do SCP.

Relembro que isto tem sido constante esta época (nota negativa para Cosme Machado no jogo Arouca-SCP que o Sporting ganhou, duas notas negativas ao árbitro Jorge Sousa nos jogos SLB-SCP e SCP-Sporting de Braga que o Sporting ganhou) e que muitas vezes a saída destas notas ocorre nas vésperas das datas em que os mesmos árbitros voltam a arbitrar jogos do Sporting.

Tenho conhecimento do total desconforto e sentimento de pressão e condicionamento dos próprios árbitros com estas saídas cirúrgicas das notas.

É importante frisar que uma das lutas antigas da classe dos árbitros, com a qual eu concordo plenamente, é a de que as queixas (por exemplo em relação a estas saídas de notas) sejam feitas pela classe e não pelo próprio árbitro. A razão é simples: a classe existe para defender os árbitros e a necessidade de ser o próprio árbitro a ter a iniciativa é, mais uma vez, um motivo de desconforto e condicionamento levando muitos a optar por não fazerem a mesma queixa.

E isto já foi assim! Por algum motivo, e sem aceitação da própria classe dos árbitros, quando os mesmos já tinham conseguido alcançar o desejado que era as queixas poderem ser feitas pela APAF e não pelos mesmos, tudo recua, infelizmente como é apanágio de muitas coisas no futebol, e volta a um sistema que, como já disse anteriormente, acaba por ter um cariz intimidatório. Apesar disso, é do nosso conhecimento que estas saídas de notas têm sido alvo de queixas ao Conselho de Arbitragem e muitas delas ao Conselho de Disciplina.

É também do meu conhecimento o desconforto e descontentamento dos árbitros pelos critérios de nomeação de Vítor Pereira e pelo sistema de classificações que, sendo para eles desconhecido, provoca uma pressão e ansiedade que não são admissíveis numa classe que tem a missão importantíssima de tomar decisões em fracções de segundo e que para tal precisa de ter a calma e o discernimento que tal desconhecimento de critérios não lhe possibilita.

Relembro que, em 2014, antes de apresentar a última versão das suas propostas, o SCP, em reunião com a APAF, verificou estar em perfeita sintonia com aquilo que são as preocupações e exigências da classe dos árbitros, nomeadamente a necessidade de aplicação de critérios perfeitamente transparentes e equitativos na avaliação dos árbitros, de critérios conhecidos e sempre de bom senso nas nomeações, a necessidade de conhecimento prévio dos critérios de selecção dos observadores, a necessidade de criar critérios claros de classificação de árbitros e a introdução de novas tecnologias.

Tem sido essa a defesa intransigente do SCP desde o início do meu mandato, em prol do futebol e da dignificação da classe dos árbitros. Tem sido evidente, não posso deixar de salientar a falta de critério e bom senso em muitas nomeações este ano, nunca sendo de atribuir as culpas aos árbitros porque esses são apenas nomeados. Tem sido claro que após os conflitos públicos existentes entre a instituição Sporting e alguns árbitros, no que diz respeito à sua actuação menos positiva, os mesmos têm sido constantemente escolhidos para arbitrar jogos do SCP numa perfeita afronta ao Clube e num total desrespeito com a própria defesa do respectivo árbitro.

Não se trata aqui de afirmar que os árbitros, nos jogos seguintes, não façam boas arbitragens. Significa apenas o total desnorte e a falta de bom senso daquele que devia decidir em prol do futebol e da classe dos árbitros: Vítor Pereira.

Sabemos que Vítor Pereira, ao contrário do que afirma publicamente, tem conhecimento das notas. O mesmo foi confirmado numa das últimas reuniões de árbitros pelo Sr. Ferreira Nunes (Presidente da Secção de Classificações), afirmando perante os mesmos que ele próprio diz sempre a Vítor Pereira se as notas são positivas ou negativas.

É também do nosso conhecimento que para Vítor Pereira a questão dos ‘vouchers’ não tem qualquer relevância. Tenta ele, com esta posição, atrair para o seu lado uma classe que sabemos estar cada vez mais afastada de si e cada vez mais desconfortável com a sua forma de liderar o sector. Coloca a tónica em que os ‘vouchers’ nada interessam e que, por isso, nem a sua oferta nem o seu não reporte nos relatórios por parte dos árbitros têm qualquer relevância.

Nada disto poderia ser mais falso! Devemos, claramente, separar aqui duas atitudes distintas: a de quem oferece e a de quem recebe. A de quem oferece não pode ser branqueada de forma alguma porque colide claramente com o artigo 62.º dos regulamentos e com as indicações expressas da FIFA e da UEFA. Não podemos passar a vida a ver tudo aquilo que é mal feito, ferindo gravemente os regulamentos como dolo sem intenção. A oferta de 1.120 jantares por época não é regulamentarmente nem moralmente aceitável. Tenham os responsáveis do futebol português a coragem de o assumir de vez e de punir quem tal acto cometeu.

Aos delegados, observadores e árbitros fica apenas a nota de que a prudência mandaria terem escrito nos relatórios estas ofertas. A pressão e condicionamento sobre as pessoas nem sempre advêm de actos agressivos e críticos: também o excesso de ‘cortesia’ é uma forma sobejamente conhecida de obter os mesmos resultados.

O futebol não pode viver de hipocrisias e quando agora, depois de um árduo trabalho do SCP em Portugal, na UEFA e na FIFA, e em várias intervenções públicas e entrevistas em Inglaterra (note-se que o International Board, onde se decidem as grandes alterações do futebol, é composto por oito elementos sendo quatro nomeados pela FIFA e os restantes nomeados pelo futebol do Reino Unido – Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales) na defesa intransigente da introdução das novas tecnologias, este trabalho surte efeito (apesar de, como é do conhecimento público, estas entidades serem até há bem pouco tempo totalmente contra as mesmas), pois é justamente quando o International Board informa da autorização do início de testes de utilização de novas tecnologias no futebol (decisão que vai revolucionar e modernizar de vez o futebol) que Vítor Pereira vem a terreiro dizer que é a favor dessa mesma introdução.

Recordo a todos que após uma reunião no dia 16 de Janeiro de 2014 na FPF com os representantes máximos da mesma e a reacção pública de Vítor Pereira a afirmar que “as propostas do SCP não trazem melhorias” e que algumas delas “contrariam normas dos organismos que tutelam o futebol europeu e mundial”, referindo-se de forma notória à introdução das novas tecnologias porque, na altura, a FIFA e a UEFA eram contra as mesmas. É caso para dizer: mudam-se os ventos, mudam--se as marés... Enquanto uns lutam pelo que acreditam e por reformas fundamentais pela o futebol, outros vão-se deixando levar apenas pelo decurso dos acontecimentos sem convicção nem rumo.

Para cúmulo e para que não restem dúvidas nenhumas do porquê das minhas afirmações públicas sobre situações ridículas no futebol, sobre o que de mal se passa na arbitragem e sobre o total alheamento de Vítor Pereira na utilização de critérios de bom senso e equitativos, relembro dois factos para que, de uma vez por todas, fique clara a sua forma de pensar, agir e liderar.

1 – No dia 10 de Setembro de 2010, Luís Filipe Vieira tem uma intervenção extremamente agressiva para com a arbitragem utilizando expressões como “(...) senhores, que se intitulam grandes árbitros, porque errar por um lado e depois vermos do outro lado que lances idênticos ou assinalam ‘penalties’, ou assinalam mãos, ou assinalam foras de jogo. Esses senhores, que agora se devem estar a rir, tenham coragem de assumir os erros que fazem, mas não brinquem com o Benfica”;

Vítor Pereira, em vez de condenar as palavras, veio publicamente dar razão ao Benfica numa conferência de imprensa sintetizada, à época, pelos jornais exactamente com o título ‘Vítor Pereira dá razão ao Benfica’.

2 – Ainda esta época, Luís Filipe Vieira tem uma intervenção no dia 20 de Dezembro em que ataca novamente a arbitragem que considera “escandalosa”, sublinhando: “Gostava de ver amanhã, nas manchetes dos jornais desportivos, o título roubo em letras bem grandes. Vocês, jornalistas, viram bem o que se passou hoje na Luz. E o mais estranho é que o líder dos árbitros é o mesmo da última época. Escrevam a verdade, não tenham receio”. Vítor Pereira não promoveu qualquer acção de envio de queixa para as respectivas comissões competentes.

Já no último dia 18 de Janeiro, perante declarações minhas, a queixa foi imediata, fazendo questão de que se tornasse pública.

Isto é o que não pode acontecer.

São exemplos e factos concretos de que o futebol continua a ser jogado fora das quatro linhas, de que a forma como é feito já nem sequer é velada e é isso que o SCP não permitirá na defesa intransigente da classe dos árbitros e demais agentes desportivos, empenhado na modernização, credibilização e dignificação do futebol quer a nível nacional, quer a nível internacional.  

Quo Vadis, futebol?

Por Jornal Sporting
10 Dez, 2015

Leia ou releia artigo de opinião de Bruno de Carvalho no Jornal Sporting

Depois de uma semana entre Moscovo e Pequim, volto a Portugal para ver um País com um novo Governo, novas expectativas, novos anseios e novas incertezas. Afinal, a vida é feita de mudança e evolução.

Depois de refeita a minha ‘curiosidade social’, dei uma espreitadela ao nosso futebol. E, confesso sem grande espanto, tudo na mesma. Nada se altera, nada evolui, nada se integra, nada se conjuga. A mesma lengalenga de sempre. E ninguém diz nada, somos supérfluos de conteúdos e parcos de palavras. Vive-se num clima de ‘terror’. Uns porque querem ser tão populares que cometem o pecado da uniformização de respostas, quer se faça bem ou mal. Outros porque decidem colocar processos, a torto e a direito, para tentar desesperadamente silenciar quem os incomoda.

Alguns exemplos do nosso futebol:

Chego a Portugal e sou brindado com uma carta do Tribunal onde o Benfica, num processo sem qualquer interesse, de um ‘merchandising’ que nunca vi, alarga o espectro dos visados a mim. A estratégia agora passa por qualquer processo que o Benfica levanta ao Sporting me colocar, a mim, enquanto cidadão em causa (com a desculpa de ser Presidente do Sporting Clube de Portugal) a fim de me tentar condicionar na vida profissional e pessoal. Maior baixeza apenas tenho visto em animais rastejantes. Mas isso é feito com requintes muito próprios: em vez de me fazerem notificar no domicílio profissional, colocam em documentos que serão públicos a minha morada familiar, o que acredito ser a primeira vez que é feito na história do futebol.

Sou confrontado com processos contra “tudo o que mexe” no Sporting: eu, Jorge Jesus, Octávio Machado, Jaime Marta Soares... enfim, quem comete o ‘delito’ de se referir ao Benfica leva com um processo jurídico. Mas estes processos têm claramente duas finalidades:

a) Tentar escamotear o caso da caixa e dos vouchers, o não cumprimento do artigo 62.º do Regulamento Disciplinar e a respectiva condenação prevista que é a descida de divisão, com a criação de ruído e barulho para que a opinião pública ache que, também o SCP, corre algum perigo de penalização similar. Esta chama-se a táctica da contra-informação: fazer muito barulho para que as pessoas deixem de se focar no essencial e comecem a ficar apenas com os famosos ‘soundbites’;

b) Com tantos processos em tribunal, fica claro que a grande luta do Benfica de conquista do ‘tri’ se fica numa estratégia de conquista do ‘tri-bunal’. Como diz o povo “quem não tem cão, caça com gato”.

A estratégia assumida pelos clubes sobre os direitos televisivos foi pública: centralização dos mesmos. Já com esta Direcção da Liga, todos os seus membros votaram a favor do ‘business plan’ que previa essa mesma centralização. O Benfica foi um dos que votou a favor desse plano. Agora faz mais um ‘negócio do século’ e renega  toda a estratégia por si próprio votada colocando o futebol português em causa – e não falo do Sporting, pois tem contrato até 2018, o que significa que estamos serenos. Coloca em causa os médios e pequenos clubes e traça um destino de quase fatalidade para a 2.ª Liga.
A Direcção da Liga faz um comunicado ambíguo “a bem da estabilidade do futebol português” e guarda uma posição para depois da sua reunião da próxima semana. Coincidentemente, ou não, o Benfica promete explicações do negócio em conferência na mesma data.


Fico feliz de ver o futebol tão ‘alinhado’, mas fico com uma curiosidade: depois dos comunicados à CMVM da NOS e do Benfica, o que existe para explicar? Será que, afinal, esses comunicados omitiam informação relevante ao mercado, situação gravíssima, ou teremos aqui mais um compasso de espera para alinhar posições e discursos? Vamos todos ser brindados com uma conferência de “somos 14 milhões, por isso todos nos querem” ou virão com a teoria dos bastidores que são apenas 25 milhões de euros pelos direitos televisivos e 15 milhões pelo exclusivo da BTV? Ou teremos uma terceira via de dizer que o comunicado não estava certo e existiam outros ‘activos’ envolvidos? Confesso que a curiosidade mórbida me leva a querer ver o próximo episódio. Ao estilo de novela mexicana, acho que a próxima semana vai ser recheada de ‘flique-flaques’ e cambalhotas mortais.

Por fim, Rui Vitória adoptou um discurso que termina sempre nos árbitros: os erros, tem de lhes ser dito que erram, estão sempre a errar, erram muito. Agora o Benfica incumbiu o seu treinador da tarefa de pressionar a arbitragem. Não chegava ter de treinar uma equipa que está em processo de conhecimento do seu novo treinador e suas metodologias, e integração de novos jogadores... dar-lhe, em acumulação, esta tarefa de pressão contínua é, na minha opinião, contraproducente. Ficam desde já novamente convidados os dirigentes do Benfica a assinar a nossa proposta de vídeo-
-árbitro e começarmos em conjunto a lutar pela implementação da mesma. Assim, em vez de andarmos a lamentar constantemente, seremos pró-activos. Mas acrescento hoje um novo convite: falemos em conjunto, e de forma pública, demonstrando a capacidade de elevação e de ‘fair-play’ do futebol português num evento onde analisaremos ao pormenor a arbitragem e, já agora, as exibições em cada jogo desta época dos dois clubes, estando este convite alargado a mais clubes que o queiram fazer. Assim, todos demonstrarão que não se fala só por falar, que a linguagem não é utilizada para pressionar, mas que todos apenas queremos mostrar os factos verdadeiros e contribuir para um futebol melhor.

Depois desta minha análise a uma semana fora de Portugal, vamos para a Madeira e venha de lá esse futebol, o bonito, o atractivo, o que mexe com os corações de milhões de pessoas, aquele que até ao momento lideramos!

Bruno de Carvalho

Lisboa, 4 de Dezembro de 2015

Subscreva RSS - artigo de opinião