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As recordações de Mário Jorge

Por sporting
31 Mar, 2013

Jogou no Sporting durante 17 anos e lembra com saudade colegas e treinadores que conheceu em Alvalade.

Mário Jorge foi formado nas escolas do Sporting e realizou um total de 524 jogos com a camisola do nosso Clube, em todos os escalões, ao longo de 17 anos. Vencedor de dois campeonatos nacionais, subiu aos seniores na época 1980/81, mas em 1979/80, ainda como júnior, foi utilizado num jogo com o Estoril. Fez a formação e os primeiros anos como sénior a defesa-esquerdo, mas passou para o meio-campo, também no lado canhoto, a partir da temporada 1986/87, sob o comando de Manuel José. Numa manhã de 1973, Mário Jorge decidiu experimentar a sua sorte num treino dos escalões de formação do Sporting. “Tinha 12 anos e fui, incentivado por um colega meu que já jogava no Sporting. Faltei às aulas, para realizar um treino de captação, no campo pelado em frente à Porta 10-A. Foi o senhor Aurélio Pereira quem me fez os testes e as coisas correram-me bastante bem e logo na altura pediram-me para ficar vinculado ao Sporting”, recorda, embora confessando que na altura não lhe passava pela cabeça enveredar por uma carreira de futebolista profissional. Na formação «leonina», foi orientado por grandes nomes do nosso Clube, como Aurélio Pereira (iniciados), César Nascimento (juvenis), Cassiano Gouveia e Fernando Mendes (juniores). Quanto à estreia na primeira equipa, recorda-a como se tivesse sido ontem. “Tinha idade de júnior e o professor Rodrigues Dias lançou-me, no dia 12 de Setembro de 1979, no Estoril. Alinhei apenas durante 10 minutos, mas foi o suficiente para ser considerado campeão nacional”, refere. Mário Jorge elege essa temporada de 1981/82 como a mais marcante no Sporting. “Foi fantástico! Ganhámos o campeonato e a Taça de Portugal e até podíamos ter vencido a Taça UEFA, mas fomos eliminados pelo Neuchâtel Xamax na terceira eliminatória, possivelmente porque os desvalorizámos. Empatámos 0-0 em casa e perdemos 1-0 na Suíça. Tínhamos um grupo extraordinário, completamente identificado com o Clube, o presidente e principalmente com o treinador Malcolm Allison”, realça. “Allison era um grande líder e um treinador que dava máxima liberdade, mas também máxima responsabilidade. Foi uma pena não ter continuado mais tempo no Sporting”, diz, lamentando a sua saída, no início da temporada seguinte. O espírito de grupo era fortíssimo. “Juntávamo-nos às segundas-feiras ao almoço, mas nem era preciso essas reuniões para fomentarmos o grande espírito que existia…”, afirma. Mário Jorge foi colega de equipa de muitos jogadores talentosos, mas destaca três: “Oliveira, Manuel Fernandes e Rui Jordão, sem dúvida nenhuma. Também houve outros muito bons, mas estes três eram fantásticos e estavam acima de todos os outros”. Se Malcolm Allison foi um treinador especial para Mário Jorge, a verdade é que diz que todos o marcaram. “Aprendi um pouco com cada um e todos foram importantes no meu trajecto, embora tenha de dar maior relevo aos técnicos que apanhei na formação, que sempre me transmitiram grandes valores, o que me permitiu ter uma carreira sólida no Sporting”, esclarece. A passagem para o meio-campo, na época 1986/87, sob o comando de Manuel José, permitiu-lhe ganhar outra projecção. “Na defesa era mais um, no meio-campo não. A defender, aproveitei o balanço que trazia como lateral, mas começaram a olhar para mim de maneira diferente, pois viam que tinha algumas qualidades que antes tinham passado despercebidas…Até passei a ser chamado à Selecção Nacional, o que até aí não tinha sucedido”, recorda. Quando se fala no nome de Mário Jorge, os sportinguistas lembram-se imediatamente de dois jogos com os principais rivais. Um em Alvalade, com o FC Porto, que os «leões» ganharam por 1-0, golo por si apontado e que constituiu um passo determinante para a conquista do título de campeão nacional em 1981/82 e, claro, os 7-1 ao Benfica, no qual marquei dois golos”, elege. No primeiro desses jogos, Mário Jorge, então com apenas 20 anos, foi surpreendentemente titular. “Houve uma grande polémica durante a semana com o Jordão, que acabou por ficar de fora do onze. Algumas pessoas ficaram apreensivas ao verem um miúdo tão novo no lugar de um consagrado, mas provou-se que o treinador Malcolm Allison tinha razão. Em determinadas situações, ele colocava-me a jogar no ataque e nesse jogo foi por uma questão táctica, pois o FC Porto tinha um defesa-direito muito ofensivo, o Gabriel, que mais tarde jogou no Sporting. A intenção foi travar as subidas dele”, conta. Mas Mário Jorge diz que a sua melhor exibição “foi em Alvalade, numa vitória por 2-0, com o Auxerre, na Taça UEFA, em 1984/85”. Alguns dias depois, o título do jornal «Sporting» foi «O Furacão dos Açores», isto porque Mário Jorge é natural de Ponta Delgada, tendo vindo viver para Lisboa com 5 anos. De resto, considera que jogar em Alvalade “era especial”, falando num “ambiente verdadeiramente único, que se vivia em poucos estádios da Europa, proporcionado em grande parte pela Juventude Leonina”. Quando a equipa entrava em campo “olhava para trás e via a Superior Sul completamente cheia, o que dava uma grande força para entrar em campo”. A temporada de 1990/91 é também recordada com saudade por esta figura do nosso Clube. “Éramos treinados pelo Marinho Peres e chegámos às meias-finais da Taça UEFA, acabando eliminados pelo Inter Milão, depois de um empate 0-0 em Alvalade, no qual falhámos muitos golos e de uma derrota por 2-0 em Itália, em que também fomos infelizes”, recorda, fazendo ainda referência às “11 vitórias consecutivas nas primeiras jornadas do Campeonato Nacional”. Quanto de fala de presidentes do Sporting, Mário Jorge destaca João Rocha. “Foi um grande presidente do nosso Clube. Tenho apenas uma palavra para o definir: liderança”, elogia. Por outro lado, lembra que João Rocha “modernizou o Sporting e defendeu sempre intransigentemente os interesses do Clube”. O antigo futebolista «leonino» conta um episódio que ilustra a forma como João Rocha vivia o Sporting e era próximo dos jogadores. “Num jogo que realizámos fora de casa com o Neuchâtel Xamax, para a Taça UEFA, elas alagaram o campo de propósito. Não tínhamos pitons próprios para aquele terreno e foi o presidente João Rocha quem foi comprar os pitons. E depois, ele próprio os colocou nas botas”, recorda. Texto: André Cruz Martins Foto: Melissa Duarte