Dois anos incríveis no Sporting'
Por sporting
07 maio, 2013
07 maio, 2013
O ex-guarda-redes Vaz chegou ao Sporting aos 34 anos, a tempo de deixar a sua marca e de ganhar o único título da carreira.
Vaz, antigo guarda-redes do Sporting, representou o nosso Clube durante dois anos, nas épocas de 1979/80 e 1980/81. Um período que, apesar de curto, considera marcante. De resto, foi de «leão» ao peito que conquistou o seu único título numa carreira de 19 anos como profissional: o de campeão nacional, em 1979/80. Vaz começou a jogar futebol bastante tarde, com 19 anos, ao serviço do Penalva do Castelo, da sua terra natal, onde esteve durante duas temporadas. As boas exibições que realizou despertaram o interesse do FC Porto, que representou durante três anos. No entanto, não foi especialmente feliz nos «azuis e brancos»: começou por ser terceiro guarda-redes, pois estava a cumprir o serviço militar e depois foi titular numa péssima época colectiva, em que o clube obteve a sua pior classificação de sempre no campeonato (9.º lugar). De seguida, transferiu-se para o Vitória de Setúbal, onde viveu o seu mais longo período ao serviço de um clube – oito épocas. Antes de chegar ao Sporting, ainda cumpriu um ano no Académico de Viseu. A vinda para o Sporting constituiu uma grande surpresa. Não que se duvidasse do seu valor, mas simplesmente porque estava prestes a cumprir 34 anos e tinha acabado de descer de divisão, ao serviço do Académico de Viseu. “De certeza que fui um dos jogadores mais velhos a chegar ao Sporting. Mas ainda estava num bom nível e demonstrei-o, fiz tudo o que estava ao meu alcance para defender as cores do nosso Clube. Vivi dois anos incríveis no Sporting”, refere. Nessa época de 1979/80, o Sporting sagrou-se campeão nacional e com o importante contributo de Vaz. “O Fidalgo também tinha acabado de chegar, vindo do Benfica. Era mais novo [tinha 26 anos] e todos apostavam nele para titular como guarda-redes. Mas troquei as voltas às pessoas (risos). Ele ainda começou no onze, mas lesionou-se, eu fui para a baliza e nunca mais saí, a não ser em Guimarães, na penúltima jornada e com o União de Leiria, na última jornada, em Alvalade, porque eu tinha partido o dedo”, diz. Vaz recorda especialmente um jogo em que o Sporting empatou no antigo Estádio das Antas e que se revelou decisivo para a conquista do campeonato. “O árbitro foi o senhor António Garrido, que fez tudo para nos prejudicar. Estávamos a ganhar por 1-0 e o Manuel Fernandes fez o segundo de forma limpa, mas o senhor António Garrido anulou-o, de forma inexplicável. Depois, marcou-nos um penalty, após uma falta que foi cometida fora da área, por Vitorino Bastos. Eles empataram, mas depois conseguimos manter o resultado e prosseguimos na liderança do campeonato. No entanto, se não fosse o árbitro, teríamos ganho de forma tranquila”, assegura. O único problema não foi o juiz. “Os adeptos do FC Porto que estavam atrás da baliza atiravam-me de tudo! E até foi um indivíduo que tinha um guarda-chuva quem foi colocar a bola na marca de penalty. Isto num jogo que decidia um título… De resto, era habitual o nosso autocarro ser apedrejado sempre que lá íamos jogar, o mesmo aconteceu quando lá fui ao serviço do Vitória de Setúbal e uma das pedras partiu a cabeça do nosso central João Mendes”, lamenta. O bom resultado do Sporting foi uma «bofetada de luva branca» a algumas más-línguas. “Os jogadores do FC Porto diziam que a nossa equipa era uma das piores da história do Sporting, que não tínhamos a mínima hipótese, mas não sabiam o que diziam… Lutámos de igual para igual com eles e provámos que éramos melhores, acabando por ser campeões de forma justíssima. Tínhamos grandes jogadores, como o Manuel Fernandes, o Jordão e o Fraguito”, defende. Vaz não esconde o orgulho por ter representado o Sporting e, sem falsas modéstias, reconhece que o seu rendimento em Alvalade foi positivo. “Tive muita honra por ter estado num Clube de tão grande dimensão. E nunca me irei esquecer do enorme carinho dos adeptos. As coisas começaram a correr-me bem e caí no goto das pessoas. Costumo dizer que os guarda-redes das equipas grandes só podem dar um ‘frango’ por jogo. Nessa primeira temporada, não dei nenhum e em 1980/81 só tive culpa num golo, numa vitória por 4-1, em Alvalade, com o Sp. Espinho”, diz. O antigo futebolista elege dois jogos como os seus melhores de «leão» ao peito. Precisamente o tal FC Porto-Sporting de 1979/80 e um Sporting-Benfica, também nessa época e que acabou com o triunfo da nossa equipa por 3-1: “Foi uma bela exibição da nossa equipa, mas tive muito trabalho e fui importante. Esse resultado afastou o Benfica da luta pelo título e mantivemo-nos no ombro-a-ombro com o FC Porto”. Vaz conheceu quatro treinadores em Alvalade. “Na primeira época, fui orientado pelo professor Rodrigues Dias e por Fernando Mendes. Este último foi campeão nacional mas não sei porquê mandaram-no embora! Em 1980/81, os técnicos foram o [Srecko] Radisic e, de novo, o Fernando Mendes e lá está, as coisas não correram tão bem, pois foi uma mudança que não se percebeu”, lamenta. Vaz era um guarda-redes que se pautava pela sobriedade. Pouco espectacular, mas eficaz, demonstrava grande segurança na arte de defender as balizas. Aqui fica o seu auto-retrato: “Para começar, a primeira qualidade que eu tinha era a coragem. Não tinha medo de me atirar para os avançados e também não tinha medo de errar, apesar deste posto específico ser possivelmente o que requer maior responsabilidade. E não defendia para a fotografia”. “Curiosamente, eu até tinha sangue quente, pois fervia em pouca água, mas fui melhorando com o passar dos anos”, acrescenta, sublinhando que se destacava “pelo equilíbrio, dentro e fora dos postes e sem defesas para a fotografia”. Isto apesar dos jogos do Sporting serem sempre acompanhados pelo “grande fotógrafo António Capela, que tirava grandes ‘bonecos’ dos jogadores”. Vaz é o dono do restaurante «A Baliza», em Setúbal, que todos os dias oferece peixe fresco, de grande qualidade. De resto, é ele próprio quem grelha os peixes. “Tenho este restaurante há 16 anos. No meu tempo de futebolista, nunca ganhei muito dinheiro, mas tinha a minha vida estabilizada. No entanto, o meu filho teve um grave problema de saúde e houve necessidade de lhe amputarem uma perna. Andou cinco anos de hospital em hospital e o dinheiro que eu tinha deixado de parte desapareceu…”, lamenta. No entanto, como homem de trabalho que sempre foi, meteu as mãos à obra. “Às vezes leio que o ex-jogador x está falido e eu pergunto: ‘mas então ele não pode trabalhar?’ Foi o que eu fiz… Resolvi apostar nesta área e ainda bem que o fiz. É verdade que há uns anos, o negócio corria melhor, mas hoje em dia a crise traz-me problemas… No entanto, não me posso queixar”, frisa. «A Baliza» é frequentada por muitas pessoas ligadas ao futebol. “Há poucos dias, estiveram cá o Peres, o Barão, o Leitão, o Joel, o Mota da Silva… o Calado e o Octávio Machado também costumam cá vir. E sou sempre eu que trato do peixe, porque apesar da crise que para aí anda, são poucas as pessoas que se mostram disponíveis para este género de trabalho”, afiança. Texto: André Cruz Martins Foto: Melissa Duarte