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Mais que uma equipa

Por Pedro Almeida Cabral
23 Dez, 2021

São um colectivo solidário que interiorizou admiravelmente os conceitos tácticos de Rúben Amorim

Sábado à noite, jogo em Barcelos, numa noite fria, em que só os três pontos interessavam. Quantas e quantas vezes não vimos nós este filme, temendo pelo final? E havia sempre algo a acontecer.  Ou uma arbitragem questionável. Ou um guarda-redes adversário que fazia a noite da vida dele para nunca mais jogar pevide. Ou um daqueles acontecimentos em que o futebol português é pródigo, como um gato a atravessar o campo inesperadamente, impedindo um golo nosso. Talvez aqui fosse um galo, mais apropriado para Barcelos. Mas nada disso aconteceu. Vitória indiscutível do campeão por três bolas nas redes sem nenhuma em resposta. 

A primeira parte do jogo contra o Gil Vicente FC ainda se aproximou do que tantas vezes vimos. Expulsões imprevistas, arbitragem duvidosa e um penálti falhado. Tudo somado obrigou Rúben Amorim a uma recomposição táctica surpreendente, com a saída de Sarabia para entrada de Nuno Santos. O intervalo clarificou o que valia cada uma das equipas e o Sporting CP partiu para uma exibição segura e quase imaculada. Seria Nuno Santos a abrir o livro, em jogada de antecipação, roubando descaradamente a bola a um jogador gilista. Pedro Gonçalves e Gonçalo Inácio em remate do primeiro e desvio do segundo cavaram a distância para dois golos. Seria Daniel Bragança a fechar a contagem, com um golo ao cair do pano, respondendo muito bem a um excepcional trabalho de Paulinho. Foi assim a segunda parte deste jogo: um vendaval Leonino com mentalidade, jogo colectivo e vontade de ganhar. Não foram apenas dez que estiveram em campo. Foi todo o plantel que se aplicou para demonstrar o que vale, pensando todo o tempo na vitória.

E tanta equipa houve que quase passaram despercebidos alguns dos nossos jogadores. O que seria injusto. Destaco alguns. Gonçalo Inácio continua a crescer, com o seu maravilhoso pé esquerdo, rasgando espaços onde ninguém os vê. Gonçalo Esteves joga com o à-vontade de um veterano quando nem maior de idade é. Ugarte continua em desenvolvimento acelerado, sabendo até gerir o jogo como se fosse um experiente centro-campista. Daniel Bragança não passa um jogo sem inventar jogadas só ao alcance de jogadores excepcionais. E, Paulinho, tantas vezes mal dito, só pode deixar indiferente quem não vê os jogos. É um jogador dos pés à cabeça, com excelente posicionamento, drible pronto a usar, passe eficaz e golo por perto. Estes e todos os outros oferecem a quem vê um espectáculo de futebol em que cada peça encaixa nas restantes, compensando desacertos e equilibrando falhas. Bem mais que uma equipa, são um colectivo solidário que interiorizou admiravelmente os conceitos tácticos de Rúben Amorim. Há muito que merecíamos ter uma equipa assim, bem mais que uma equipa.