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A nossa Campeã

Por Miguel Braga
18 Ago, 2022

Editorial da edição n.º 3885 do Jornal Sporting

Auriol Dongmo é sinónimo de vitórias, recordes e medalhas. Assim foi, mais uma vez, em Munique, por ocasião dos Campeonatos da Europa de atletismo. Nem uma lesão no braço a impediu de conquistar a prata e de bater o recorde nacional ao ar livre a escassos 18 centímetros da marca dos 20 metros: "Queria a medalha de ouro, mas, devido a esta lesão, não consegui dar mais de mim. Agradeço a Deus pelo que consegui hoje, mas queria mesmo lançar mais longe e vencer".

Ainda nos Camarões, Auriol Dongmo gostava de praticar andebol em criança. Um dia, porém, uma competição de lançamento do peso na sua escola, trocou-lhe as prioridades: "Fui lá, lancei nove metros e ganhei uma medalha de bronze", recordou em entrevista ao Jornal Sporting em 2020. Mas não se pense que foi amor à primeira vista: "Para mim, naquela altura, o lançamento do peso era para os homens e não para as mulheres. Não gostei logo".

Anos mais tarde, foi a fé, por Fátima, e as circunstâncias do seu país natal que lhe despertaram uma curiosidade lusa. Apesar de ter um convite para ir para um Clube francês, acabou por preferir encontrar-se com o Sporting CP e rumar a Leiria para treinar com Paulo Reis. "A primeira coisa que fiz quando cheguei a Portugal foi ir a Fátima directamente do aeroporto. Fiquei muito feliz. (…) Quando cá cheguei, o meu recorde pessoal era 17,92 metros. Fui a um meeting no Brasil e o meu treinador foi comigo a Fátima. Comecei a rezar e a pedir a ajuda. No Brasil, bati o meu recorde pessoal com 18,37 metros. Quando consegui os 19,27 metros aqui, em Leiria, a Ana Lopes [nota: ama do filho] foi com o meu filho a Fátima". Este ano, recorde-se, Auriol conseguiu 20,43 metros, o que lhe garantiu o título mundial em pista coberta, em Belgrado.

Sabemos que agora, na sua cabeça, está o próximo meeting, a próxima competição, os próximos campeonatos. Com uma humildade desconcertante, esta campeã quer continuar a fazer história pelo Sporting CP e pelo nosso país. Só podemos estar enormemente agradecidos por ter encontrado em Portugal o porto de abrigo que a faz brilhar.

O Sporting CP despediu-se esta semana de Matheus Nunes, que rumou à Premier League e ao Wolverhampton WFC de Bruno Lage. 101 jogos de Leão ao peito, um Campeonato, uma Supertaça, duas Taças da Liga, oito golos marcados e nove assistências, contando já com oito internacionalizações e um golo marcado pela selecção nacional. Uma venda dolorosa do ponto de vista desportivo, mas indispensável para a sustentabilidade do Clube.

Ainda há dois anos, a garantia dada pelo presidente Frederico Varandas de que Matheus sozinho pagaria o investimento feito no treinador, foi recebido com cepticismo pelo mundo do futebol. Agora, é certo e sabido que o miúdo que servia bolos na pastelaria na Ericeira e corria pelo GDU Ericeirense transformou-se num craque. Que tenha toda a sorte do mundo nos próximos capítulos.