A mesa que já não tem o borrego de sempre
25 Set, 2015
Antevisão do Boavista-Sporting da 6.ª jornada da Liga NOS
Setembro de 1990, quarta jornada do Campeonato. O Sporting tinha começado a época da melhor forma com três goleadas convincentes: 3-0 com o V. Guimarães, 5-2 em Penafiel, 5-1 frente ao Salgueiros. Era uma espécie de futebol total que assustava toda a gente menos a ‘besta negra’ dos ‘leões’ – o Boavista. Durante três décadas, o máximo que o conjunto ‘verde e branco’ conseguira tinha sido arrancar alguns empates (e não foram assim tantos). Parecia fatídico: cada jogo no Bessa eram mais dois pontos perdidos (nesta altura a vitória ainda não valia os actuais três pontos). Todavia, essa noite foi diferente. Tudo mudou: Careca, com um fantástico golpe de cabeça, inaugurou o marcador após cruzamento de Litos, antes de Cadete voltar a mostrar o seu oportunismo a desviar da melhor forma um livre lateral de Douglas. Perto do fim, Filipe concluiu uma fantástica jogada colectiva dos comandados de Marinho Peres e fixou o 3-0 que permitiu, como escreveram todos os jornais da altura, ‘matar o borrego’. 25 anos depois, ultrapassar os ‘axadrezados’ continua a não ser tarefa fácil mas, daí para cá, já não é a mesma coisa. Longe disso.
Nas últimas 20 partidas realizadas fora com o Boavista, o Sporting já conseguiu vencer cinco e empatar por sete ocasiões. O que para um Clube desta grandeza é um registo pouco apreciável e desejável, mas ainda assim menos negativo do que o saldo actual em encontros no Campeonato com os ‘leões’ a jogarem fora frente às ‘panteras’: em 52 jogos, a formação ‘verde e branca’ só ganhou 12 vezes e somou 19 empates, além de 22 derrotas. Depois desse quebrar do ‘feitiço amaldiçoado’ em 1990, o Sporting foi conseguindo dar melhor réplica àquele que, durante alguns anos na década de 90 e no início do século, foi denominado de ‘Boavistão’, tendo mesmo quebrado a regra dos ‘três grandes’ a nível de títulos nacionais na temporada de 2000/01, quando eram comandados pelo também antigo jogador ‘leonino’ Jaime Pacheco.
Depois, é a história que se sabe: houve a descida administrativa, um autêntico calvário na luta pela (re)conquista da subida ao escalão principal do futebol português e, por fim, na temporada transacta, o regresso à I Liga. E com os ‘leões’ a não se fazerem rogados num terreno outrora quase impossível de passar: vitória por 3-1 construída na segunda parte, com golos de Carrillo, Mané e João Mário.
O Boavista de hoje é diametralmente oposto ao que causava fortes dores de cabeça a qualquer treinador ‘verde e branco’ na altura de preparar o encontro: o futebol ofensivo e com fortes transições rápidas que estilhaçavam qualquer defensiva deu lugar a um jogo mais musculado, de contenção e com uma forte componente táctica muito à imagem do seu treinador e ex-jogador, o internacional Petit.
Os ‘axadrezados’ não marcam muitos golos (um por jogo) mas também sabem blindar dentro do possível a baliza de Mika (sete tentos sofridos) e vêm de um moralizador triunfo em Coimbra frente à Académica, que valeu a ascensão ao nono lugar da prova. Com um eixo central experiente, um meio-campo de combate e um ataque à base da criatividade de Zé Manuel e do jogo posicional de Uchebo, é sempre um adversário complicado. Mas a história já não é o que foi no passado.