Jogador que brilhou no Sporting entre 1974 e 1983 tem-se dedicado ao negócio da família mas continua a acompanhar o Clube.
Freire, jogador do Sporting entre 1974 e 1983, fez parte de algumas equipas do nosso Clube que entraram para a história, convivendo com jogadores da dimensão de Rui Jordão, Manuel Fernandes, Ferenc Meszaros ou António Oliveira. Afastado do desporto-rei, este antigo extremo, hoje em dia com 53 anos, continua no entanto a acompanhar as prestações da equipa de futebol, isto quando a sua atarefada vida profissional o permite.
Era dono de uma velocidade estonteante e destacava-se pela capacidade de enfrentar os adversários no um para um, tendo conquistado dois títulos de campeão nacional, duas Taças de Portugal e uma Supertaça. Fez 142 jogos ao serviço do Sporting, apontando 16 golos.
Desde que deixou os relvados, dedicou-se ao negócio da sua família – um posto de combustível, em São João das Lampas - e é lá que passa muitas horas por dia, sobrando-lhe pouco tempo livre. “Sou eu e o meu irmão que tratamos de quase tudo, o meu pai nesta altura é mais um ‘olheiro’. A minha vida é vender combustível, mas também tenho uma oficina de automóveis, onde vendemos artigos”, explica.
Freire confessa que quando abandonou a carreira, em 1992, não esperava dedicar-se a este negócio. “É certo que este já era o ramo da minha família, mas tinha outras ideias. No entanto, acabei por regressar a esta área, à qual já me tinha dedicado, antes de enveredar pela carreira de futebolista. E se no reinício, estranhei, hoje em dia estou como ‘peixe na água’ e não abdico deste negócio”, garante.
O regresso ao futebol é algo que não está nos seus planos. “É um mundo muito complicado, de grandes negócios e oportunismos, bastante diferente do que acontecia no meu tempo. Não é fácil voltar a entrar neste mundo, mas isso não quer dizer que não conseguisse adaptar-me. Mas confesso que é algo que não me seduz muito, apesar de estar sempre na rectaguarda, pronto para qualquer eventualidade”, confessa, frisando que a sua vida “está organizada noutro sentido”.
Aquele a quem chamavam de “Rummenigge de Alvalade” não duvida na altura de eleger os dois melhores jogadores com quem jogou. “O Manel [Manuel Fernandes] e o Jordão eram os melhores, ‘de caras’! Eram ambos fabulosos e capazes de resolver um jogo de um momento para o outro. O Sporting ficou a dever-lhes muitos pontos! Eram dois jogadores com características únicas, já não existem desses hoje em dia!”, sublinha.
O treinador que mais o marcou foi Fernando Mendes. “Lançou-me na equipa de juniores, quando ainda tinha idade de juvenil e considero que esse foi o grande arranque da minha carreira. Depois, também trabalhei com ele nos seniores e fomos campeões nacionais em 1979/80”, lembra.
No actual plantel, qual é o futebolista que mais se assemelha à forma como Freire jogava? A resposta surge pronta: “O André Carrillo é sem dúvida o mais parecido, pela velocidade e pela forma como encara os adversários, sem medo. Mas penso que as suas qualidades poderiam ser melhor aproveitadas”, sustenta.
Freire ainda hoje não esquece aquela tarde em que se estreou ao serviço da equipa principal do Sporting. “Fui titular num jogo em que ganhámos 3-0 ao Benfica, para a Taça de Portugal, no qual o Manoel marcou três golos. Estava na selecção de juniores e fui chamado à última hora. Tinha apenas 17 anos e foi simplesmente fantástico!”, recorda.
Decididamente, o clube da Luz ficou ligado aos melhores momentos da sua carreira. “O golo mais bonito foi contra o Benfica. Marquei quase da linha de fundo e o Bento, guarda-redes do Benfica, diz que só o Eusébio é que conseguia marcar um golo daqueles!”, conta.
No seu tempo, tinha uma relação de amor-ódio com os sócios e adeptos «leoninos» e dá um exemplo curioso de outro jogador que passava pelo mesmo. “Quando as coisas me corriam bem, sentia muito apoio, mas quando falhava era muito ‘cobrado’. Era exactamente como se passava com o Pedro Barbosa. Quando ele jogava pensava para mim próprio: ‘olha, aí vai o Freire!’ Éramos jogadores especiais, fazíamos coisas que poucos faziam, mas por outro lado também falhávamos muito”, reconhece.
Freire faz parte da equipa de veteranos do Sporting, que no último mês de Dezembro esteve em digressão em Macau e Hong Kong. Vestir a camisola do Sporting, diz, “continua a ser muito especial, pois não é qualquer pessoa que a veste”.
Leia a entrevista de Freire, na íntegra, no jornal Sporting ou em versão electrónica
aqui.
Texto: André Cruz Martins
Foto: Melissa Duarte