Pedro Gonçalves iguala Pedro Barbosa: "É um orgulho para mim"
24 Out, 2025
Os dois criativos são os jogadores com mais assistências dos últimos 30 anos (53)
Foram precisos quase 21 anos para que um Pedro alcançasse a marca de outro. Um foi capitão e símbolo do Sporting Clube de Portugal, encantando pela elegância com que deambulava em campo. Jogava como quem escreve um poema. O outro pode muito bem ser o herdeiro natural: nas costas transporta o mesmo número, une com mestria magia e precisão, e vai-se instalando confortavelmente no imaginário dos adeptos, entre os jogadores mais influentes dos últimos largos anos.
Entre ambos, dá-se agora um passe invisível: o do testemunho de quem lê o jogo como poucos. Pedro Barbosa deixou de jogar em 2004/2005, ano em que ainda realizou cinco assistências. No total, somou 53 passes decisivos em dez temporadas, números que o colocaram no topo dos jogadores com mais assistências na história recente do Clube.
Pedro Gonçalves, a cumprir a sua sexta época de Leão ao peito, atingiu a mesma marca no jogo frente ao Olympique de Marseille, tornando-se o primeiro jogador em duas décadas a igualar o antigo camisola 8. O registo está prestes a ser ultrapassado; um marco mais para o ‘Pote de Ouro’, que colecciona recordes e pode assumir-se agora como o Leão com mais passes para golo nos últimos 30 anos.
"O Pedro [Gonçalves] tem feito a sua história, tem feito o seu caminho. Está aqui há cinco anos e qualquer coisa e tem feito uma história muito bonita. Renovou por mais anos, o que é bom para o Sporting CP e para ele. Portanto, este número vai ser largamente ultrapassado", começou por dizer Pedro Barbosa, numa conversa conjunta entre os dois, promovida pelos meios de comunicação do Clube.
"Sou fã dele. Já era [quando Pote jogava] no FC Famalicão. Quando veio para o Sporting CP, passou a jogar mais à frente e revelou um instinto para o golo. Tem-se mantido por zonas mais avançadas, ainda que de quando em vez recue um pouco, mas sou claramente admirador do Pedro Gonçalves", acrescentou ainda o antigo capitão verde e branco, antes de passar a bola ao actual 8 Leonino.
"É claro que é um momento de orgulho para mim, individualmente, poder chegar a este número. Ainda mais numa competição bonita para o Clube, onde vamos tentar chegar o mais longe possível", confessou Pote, que tem no percurso de Pedro Barbosa um exemplo a seguir.
"Principalmente pelos anos de casa. Sei que o Pedro [Barbosa] representou o Sporting CP durante dez anos e eu também gostaria de cá ficar esse tempo. Vamos ver como corre. Temos personalidades distintas, ele era mais calmo, mais maduro, e eu sou um líder diferente", comparou, ideia que Pedro Barbosa desenvolveu, aprofundando as semelhanças e diferenças entre ambos.
"Eu tinha mais um contra um, ele aposta mais na progressão do espaço, no passe, naquele remate que às vezes parece meio displicente, mas acaba sempre em golo, o que é uma coisa extraordinária. Nos golos já me ultrapassou largamente [risos], porque tem mais chegada à área. Eu joguei em várias posições, desde a esquerda à direita, passando pelo meio, mas nunca joguei tão avançado quanto o Pedro costuma jogar. Ele tem características muito próprias, que ajudaram claramente o Sporting CP ao longo destes anos, e concordo com a sua ideia: os líderes não são todos iguais, mas ele dá ao grupo, com certeza, aquilo que é necessário", avaliou, garantindo também que há algo de ‘poético’ no futebol de Pedro Gonçalves.

"Pela forma natural como as coisas acontecem. Em alturas de decisão, ele toma, muitas vezes, a melhor, e por isso é que está neste lugar, por isso é que tem as assistências e os golos que tem", elogiou.
Já Pedro Gonçalves confessa que gostava de ter "a visão do jogo" de Pedro Barbosa, cuja carreira pela idade já pouco acompanhou, mas de quem conhece as melhores qualidades.
"Aquilo que era o seu entendimento do jogo, as movimentações, como passava a bola e por onde a queria passar. E é verdade também, embora ele diga que não [risos], que tinha um bom remate. E também aquele um para um, que por vezes consigo ter, outras vezes não, mas no qual o Pedro Barbosa era excelente", recordou.
No que convergem, então, ambos? Na apetência por pensar o jogo e dele retirar ‘coelhos da cartola’, fazendo diferente de todos os outros. E na alegria por ajudar o Sporting CP a alcançar os seus objectivos.
"Claro que estatisticamente gostamos sempre de marcar, de assistir, de ver o nosso nome ali. Mas o mais importante para mim é sentir-me feliz, jogar bem, saber que estou a fazer o melhor para a equipa, aquilo que o treinador me pede", referiu Pedro Gonçalves, secundando por Pedro Barbosa.
"O importante é que, no fim da linha, o golo entra, a equipa vence. Como disse, desconhecia o número de assistências que tinha, porque o meu propósito nunca foi esse. O meu propósito era dar o máximo para que a equipa ganhasse. Sempre foi assim. Mas claro, ficamos felizes - eu, pelo menos, e não tenho dúvidas que ele também - por contribuir para que a equipa marque", completou o antigo jogador.
E o futuro, o que guarda? "É importante que o Pedro [Gonçalves] tenha noção da importância da possibilidade de este ano poder ser tricampeão. Saber o que isso representa para ele, para a equipa, para o Clube, para os adeptos", antecipou Pedro Barbosa, apontando também a novos… recordes.
"Sou o tipo de adepto que gosta de ver jogadores muitos anos nos clubes. Não é uma coisa usual, já não era muito usual no meu tempo, cada vez menos nos anos seguintes, mas neste caso o Pedro [Gonçalves] leva já alguns anos de casa e isso é algo que aprecio. Acredito que o Pedro vá atingir números muito, muito relevantes, também no número de presenças. Se ele já está na história, ficará ainda mais na história. Acredito, apesar de estar a 60 e poucos jogos do meu número, que me vai ultrapassar também aí", vaticinou.
Já Pedro Gonçalves explica que essas estatísticas chegam como consequência de um sentimento inegável de pertença.

"Eu tento apenas fazer o meu trabalho, viver o dia-a-dia. Como disse na minha renovação, eu adoro o dia-a-dia do Clube. Sinto-me mesmo em casa. Trabalhar na Academia, os jogos… é bom, é divertido e é isso o mais importante para mim: sentir-me bem. Enquanto me sentir bem, e sentir a confiança do Clube, dos colegas, do Presidente, vou permanecer", garantiu.
Em paralelo, ambos têm também a bonita relação construída com os Sportinguistas. Para Pote, essa ligação baseia-se no compromisso e entrega dos jogadores, valorizados desde as bancadas.
"Essa ligação foi construída com boas exibições, com golos, com títulos. Quando mostras dentro de campo o jogador que és, claro que as pessoas ganham um carinho especial por tudo aquilo que dás", sublinhou.
"Eu cheguei ao Sporting CP com 24 anos, vim para ficar três anos e fiquei dez. Acreditei sempre que se me sentisse bem e as pessoas gostassem de mim, as coisas aconteceriam naturalmente e assim foi. Foram três anos, mais três anos, mais três anos e mais um. E foram dez anos de grande satisfação, de imenso orgulho. Quando és bem tratado e também dás de ti, as coisas acontecem", acrescentou Pedro Barbosa, que carrega ainda assim uma mágoa.
"Claro que as vitórias e os títulos sobressaem. O meu primeiro título acontece cinco anos depois de cá estar, e foi uma sensação muito especial para nós, os jogadores. Mas claro que houve maus momentos nesse período, porque, acima de tudo, e disse isso na minha conferência de despedida, não conquistei os títulos que queria conquistar. A minha intenção era ganhar muito mais", apontou.
Algo que Pedro Gonçalves tem a oportunidade de reverter.
"Essa é a mensagem que eu e os jogadores que já aqui estamos há mais tempo tentamos passar: qualquer jogo pode fazer a diferença no final do campeonato e temos de nos mentalizar disso, porque a nossa Champions é ganhar o título. Por isso, temos de dar tudo para conquistar o Tricampeonato. Pode ser um ano histórico para o Clube e é isso que vamos tentar fazer", apontou.
Pedro Barbosa, esse, ficará a torcer de fora. "Acho que a equipa tem qualidade suficiente para atingir esse objectivo. Existe matéria-prima, existe qualidade. Essa é a expectativa da equipa, dos Sportinguistas e de todos os que apoiamos o Clube", rematou - como quem passa, pela última vez, o testemunho ao outro Pedro.