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Dois passos em frente

Por Pedro Almeida Cabral
01 Out, 2020

(...) jogámos de forma arrumada e consistente. Num mantra que já está na boca de cada Leoa e de cada Leão, vê-se que Rúben Amorim está a construir de trás para a frente

O primeiro jogo do campeonato é sempre especial. Lembro-me bem do primeiro jogo que vi no nosso estádio. Aí pelos meus dez anos, quando se começam os campeonatos, em pleno Agosto, batemos o Rio Ave FC por 4-1, com dois golos do saudoso Paulinho Cascavel. Este brasileiro, hoje já tão esquecido, tinha raro faro para o golo e havia até de ser o melhor marcador dessa época. Criança, esgueirado para dentro do estádio para poupar no bilhete, inebriado com um ambiente de verdadeiro Sportinguismo, não esqueço esse domingo quando o futebol era só desse dia. 

Tantos anos depois, e num domingo tão diferente deste, começou finalmente o campeonato. Assolado por surtos de COVID-19, o Sporting CP não podia prometer muito, tão desfalcado que estava. Porém, o que se viu não foi uma equipa doente. Surpreendendo, jogámos de forma arrumada e consistente. Num mantra que já está na boca de cada Leoa e de cada Leão, vê-se que Rúben Amorim está a construir de trás para a frente, cuidando em especial da defesa, mantendo posse de bola na zona recuada com basta qualidade. 

Jogar em 3-4-3 é exigente e implica passes acertados a todo o tempo. O tridente defensivo – Neto (mesmo com alguns sustos), Coates e Feddal – cumpriu com trocas de bola precisas e cortes competentes. É até curioso ver como o uruguaio se adaptou bem a este sistema, acudindo às dobras como gosta, esbanjando tanta confiança que até deu em golo. Palavra também para Adán, que mostra a segurança que muitos, sem o verem jogar, já lhe negavam à partida, revelando-se agora como era flagrante essa injustiça.

Já se sabe que com três centrais os alas têm que ser preponderantes nos corredores. E aí Porro e Nuno Mendes mandam. O espanhol pareceu ter trocado de pulmão ao intervalo, surgindo tão fresco na segunda parte como na primeira. Ainda marcou um livre directo, bem açucarado, que parece dizer que da próxima entra. Já Nuno Mendes joga com a maturidade de um veterano, mas com a agudeza de um miúdo a jogar na rua. Domina a largura do corredor esquerdo, mas também vadiou pelo direito. De seguida, no meio campo, Wendel lança perfume quando organiza o jogo de forma tão natural. Bons detalhes também de Tiago Tomás, que da próxima não falhará aquele golo certo, de Jovane, que vai desequilibrando a defesa adversária e de Bragança que, a jogar como falso 10, esteve bem à-vontade. Muito há ainda a trabalhar, especialmente no processo ofensivo. Ficam dois golos e baliza imaculada. Dois passos em frente nesta longa caminhada que será este campeonato em tempos de COVID-19. É destes passos seguros que precisamos.