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As lições dos jovens Leões

Por Rodrigo Pais de Almeida
08 Abr, 2021

(...) E também é por isso que domingo, seja quem for, de que forma for, e em todos os momentos: Onde for um, vamos sempre todos!

Como disse Rúben Amorim, algum dia iria acontecer. Já tivemos exibições menos conseguidas que nos deram os sempre ambicionados três pontos ao cair do pano, mas algum dia iria acontecer uma boa exibição não conseguir ser coroada com o objectivo. E logo no derradeiro minuto do encontro.

Num estádio sempre difícil e contra um adversário que se encontra cómodo na tabela classificativa, o Sporting Clube de Portugal fez uma exibição, a meu ver, bem positiva. Do ponto de vista defensivo, ao longo do jogo concedeu “meia oportunidade” de golo ao Moreirense FC no remate à entrada da área e descaído para a ala esquerda em que Walterson desfeiteou António Adán. O único remate enquadrado do Moreirense FC ao longo de todo o encontro.

Ao invés, construiu uma dezena de oportunidades de golo. Fez um golo. Viu dois golos anulados pelo VAR por milímetros (o que despoletou a discussão dos já famosos 24 frames que as câmaras televisivas captam por segundo e que podem obrigar o protocolo a dar uma margem de segurança na análise a pretensos foras‑de‑jogo). Obrigou o guarda‑redes adversário a fazer quatro excelentes defesas. Disparou três vezes a centímetros dos postes. E teve três cruzamentos de golo cortados in extremis quando iriam ser facilmente finalizados. A eficácia que tanto tem sido evocada pela inveja rival, traiu‑nos e retirou‑nos a vitória que estava mais do que justificada!

Os golos – inclusive o anulado – do Paulinho são notas de destaque deste jogo e reveladores do que pode acrescentar o goleador. A capacidade de surgir nos espaços de finalização como no primeiro golo, e o rasgar da defesa culminado com um toque de classe a passar por cima do guarda‑redes no tento anulado mostram a capacidade de Paulinho no último terço. Mas os seus atributos não se esgotam na finalização. Paulinho é um avançado fino, de classe, com toque de bola e que sabe aparecer entre linhas para atrair defesas e criar espaços para a entrada dos colegas. Consegue segurar, mas também jogar a um toque. É canhoto, mas usa o pé direito sem comprometer. É exímio no jogo colectivo. Pode jogar em cunha no centro de ataque ou com apoio e em apoio. É o avançado moderno para equipas que gostam de jogar em posse, a dominar o espaço e tempo/timing do jogo, e que procuram os momentos certos para se acercarem das balizas adversárias sem quererem ser avassaladoras, mas sim letais. É o avançado perfeito para este Sporting CP que Rúben Amorim está a construir!

A nota menos positiva do jogo foi a lesão aparentemente grave do jovem Nuno Mendes. Nuno Mendes é um jogador júnior. Nuno Mendes é um jogador com uma capacidade física fora do normal. Nuno Mendes estreou‑se no Sporting e ganhou maturidade. Nuno Mendes foi chamado à selecção nacional A e foi titular da actual campeã da Europa. Nuno Mendes é hoje em dia o jovem defesa‑lateral mais cobiçado do futebol europeu aos 18 anos. Nuno Mendes sofreu uma entrada agressiva e nada leal no último jogo que o obrigou a sair lesionado. Chocante? Sim. Mas para mim a maior nota de relevo foi que a mesma não foi alvo do critério disciplinar. Centrou‑se a discussão pública na questão de ser uma entrada merecedora de cartão amarelo ou vermelho dada a imprudência da mesma, mas fez esquecer o mais grave. Como é possível não ter existido sequer a admoestação de um cartão amarelo? A negligência e falta de protecção ao talentoso jogador conheceu o capítulo mais negro da sua já longa história na segunda‑feira em Moreira de Cónegos.

Nota final para algo que intriga todos os nossos adversários (e quem sabe até alguns Sócios e adeptos do nosso Clube). O Sporting CP não vence o campeonato de futebol desde 2002 e a sua falange de apoio, Sócios e adeptos, nas camadas mais jovens (sobretudo nascidos após o ano 2000) e que nunca viram/sentiram o Clube a vencer o maior troféu de Portugal, continua a aumentar e a ser cada vez mais fervorosa.

Tenho lá em casa dois Sócios desde que nasceram (dez e 14 anos) e neles revejo cada um desses jovens rostos que nos surpreendem com juras e manifestos de amor Leonino do mais puro e genuíno que há. Dia após dia. Vestem orgulhosamente a camisola listada mesmo quando não há jogo. Fazem birra quando lhes dizemos que não podemos comprar todas as sucessivas novidades de merchandising do Clube. Dormem agarrados ao Jubas como se fosse o seu melhor e mais protector amigo. Colocam o cartão de Sócio na lapela, qual ADN ou tipologia sanguínea. Sabem de cor todas as músicas e cânticos do Clube que entoam desde que acordam a cada dia de jogo. Assistem a cada jogo ao nosso lado vibrando a cada golo e sofrendo a cada momento menos bom.

No final do jogo com o Moreirense FC e observando a tristeza e frustração do pai, mas a cabeça sempre erguida dos jogadores e do nosso jovem treinador, o Afonso disse‑me “Sabes pai, gosto mesmo da nossa equipa. É que não há nenhum jogador que eu não goste. Eles são mesmo fixes. Mesmo quando não ganhamos, gosto mesmo de os ver. Eles dão tudo papá. O Adán, o Porro, o Palha, o Seba, o Pote ou o TT… Todos! Agora até já temos o Paulinho bem, pai. Só espero que a lesão do Nuno Mendes não seja grave…”.

O melhor do mundo são mesmo as crianças. E ensinam‑nos lições de vida todos os dias. Na segunda‑feira, os milhares de “Afonsos” espalhados por todo o universo Leonino e que nunca viram o Sporting CP ganhar um título, sentiram um enorme orgulho por serem do Sporting Clube de Portugal mesmo depois de um resultado injusto e menos bom. Ao ler algumas publicações de preocupação (excessiva…) nas redes sociais do universo Leonino depois do jogo de Moreira de Cónegos não consegui deixar de sorrir e de me lembrar do meu Afonso. Uma equipa invicta, com um percurso imaculado, depois de um jogo com uma exibição bem conseguida, mas onde consentiu um empate fortuito no último minuto, que lidera a Liga NOS com oito pontos de avanço a nove jornadas do final… será motivo para tanta apreensão?

É pelas lições e constantes manifestações de afecto e carinho destes jovens Leões. É pela lucidez que nos vão ensinando quando procuramos fundamentos que não existem para temer algo. É pela paixão fervorosa que têm. É pela incompreensão que lançam aos nossos rivais que não entendem como é possível estas crianças cultivarem tanto este amor sem o retorno de títulos desde que nasceram. É muito por eles que estamos a sofrer este ano. Porque ansiamos pelo dia em que eles vão ter essa alegria pela primeira vez. Que sintam o que já sentimos. Essa é uma ansiedade mais nossa do que deles, mas que é reveladora do que é a verdadeira paixão da família Leonina pelo Sporting Clube de Portugal. E também é por isso que domingo, seja quem for, de que forma for, e em todos os momentos: Onde for um, vamos sempre todos!