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Um leão genuíno

Por Juvenal Carvalho
10 Nov, 2022

Ter memória é apanágio do Sporting Clube de Portugal. Até porque, diz-se naquela imensa sabedoria popular, que quem não tem memória não tem história. E quem, como eu, sem que seja mais Sportinguista que ninguém, porque isso não se mede, gosto não só de ter memória, como de ser justo para quem o merece, decidi escrever sobre alguém que tanto deu de si ao Clube no quase anonimato, até porque nunca quis as luzes da ribalta. 
A página número 28 da anterior edição do nosso Jornal, na lógica do ter memória e do ser justo para quem o merece, despertou em mim um motivo extra para escrever. 

E faço-o hoje sobre o Marcelo Garcia, um amigo de décadas, com quem felizmente me cruzei no nosso andebol, e sei bem da sua imensa paixão pelo seu/nosso Clube, que o sente como respira, de forma natural.

O Marcelo, homem que sempre foi de extravasar emoções como ninguém, daqueles que não verga, como um verdadeiro Leão, é o exemplo vivo de que o Sporting tem memória. Esta ida do Marcelo Garcia, acompanhado da sua linda neta Margarida, numa passagem de Sportinguismo de geração em geração, ao Centro de Memórias do Museu Sporting para doar uma bola do andebol juvenil − como ele se entregou de forma altruísta e verdadeira à modalidade − e um stick do "mago" António Livramento do ano da conquista da primeira Taça dos Campeões Europeus em 1976/77, com uma história deliciosa − aconselho a leitura pela forma como o adquiriu, e que quem o conhece bem, e serão muitos, rebobinam o filme e dizem: 'Realmente só tu, Marcelo!'

E este só tu, Marcelo, é porque realmente só ele mesmo. O Sporting CP é por ele vivido e sentido a cada poro. Como só quem o conhece sabe. Que sempre deu tudo de si ao Clube sem nada receber, que não a amizade e o reconhecimento dos atletas e treinadores − tantos − que consigo se cruzaram, e que pelo mérito ao reconhecimento do seu trabalho foi galardoado com o Prémio Stromp no ano do centenário do nosso Clube, o que tanto, mas tanto, o mereceu. Se calhar apenas pecou por tardio, mas valeu pelo simbolismo da data.

Estas minhas palavras neste espaço são porque merece. A sua doação ao nosso Museu é à sua escala. Pelo Sporting CP, tudo. Sem interesse algum que não a paixão eterna.

Com ele lembro tantos outros que como ele, e porque são seus amigos também, deram muito de si ao símbolo. 
Falo do Zeca, do Frade, do Paradela, do Cantarinha, do Edgar, do Adérito, do Estevão, do Gonzaga, do Ferrão, do Coutinho, do Atanásio, do Honório, e de tantos, tantos outros, que não escrevendo o seu nome por limitações de espaço, deram e fizeram tanto ao Clube como os citados.

Esquecer Homens como o Marcelo Garcia, seria apagar a História. E essa não se apaga. Ele, como vários outros − levava as bolas para casa, os equipamentos, era de noite, de dia, de madrugada. A cada chamada dizia presente. O Museu, já de si tão valioso, ficou ainda mais rico. Obrigado por seres quem és. Genuíno. Um verdadeiro Leão!