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Aquele telefonema

Por Juvenal Carvalho
02 Mar, 2023

O tempo passa decididamente a correr. Passaram tão rapidamente 11 anos desde que comecei a escrever para o Jornal Sporting com carácter de regularidade sem qualquer outro interesse que não o de fazer algo de que muito gosto, falar de coração aberto, e sem qualquer ligação a ninguém que não ao Sporting Clube de Portugal. E essa alegria, que a sinto também com um misto de um enorme orgulho, não tem dinheiro que pague. 

Recordo hoje aquela noite chuvosa do início de Março de 2012, quando me tocou o telefone e do outro lado estava o Rúben Coelho, que durante muitos anos trabalhou no nosso jornal, a convidar-me para ser colaborador semanal do jornal de clubes mais antigo do Mundo − o nosso. Não estava à espera do convite, aliás nem sequer estava nas minhas expectativas mais optimistas. Corria até o tempo em que na presidência do nosso Clube estava o engenheiro Luís Godinho Lopes, de quem fui crítico, sabendo ele pessoalmente, porque tive ocasião de lhe dizer olhos nos olhos, que não votaria na sua lista. Era eu então presidente do Núcleo do Sporting de Paço de Arcos, e apesar de apoiar o meu bom amigo Sérgio Abrantes Mendes, infelizmente já falecido, recebi na sede do Núcleo todos os candidatos a presidente da mesma forma, sem tomar partido algum por ninguém, e com a equidistância que sempre pugnei, sendo eu alguém que com defeitos, afinal sou humano, um que não tenho é esconder as minhas convicções, sejam elas sobre o Sporting CP, sejam elas sobre qualquer outro factor da sociedade. 

Na surpresa inicial, perguntei o porquê daquele convite e foi-me explicado pelo Rúben Coelho que o intuito era que fosse dada opinião a quem não fosse "alinhado" com a direcção. Na surpresa, valorizei sobremaneira o facto, e isso não fez com que mudasse a minha opinião. Nem nunca foi o propósito deste convite. Afinal a pluralidade de opinião levou-me a escrever no nosso jornal, e da forma mais imprevisível, mas que é tão louvável. Dar palavra a quem pensava de forma crítica, numa democracia que sempre foi imagem de marca do Leão.

E se então aceitei o convite desde logo, até pelas razões do mesmo, recordo ainda hoje a minha primeira coluna de opinião que, qual menino a quem haviam dado um brinquedo, o tema foi, desde a minha vivência de criança a acompanhar o Clube, até ter chegado a dirigente, onde servi o clube em modalidades como o basquetebol, o andebol, o futsal e o futebol juvenil.

Hoje, passados que estão estes 11 anos, muito mudou. Tanto no Clube, como também a nível social. Nada é estanque. Pela positiva, ou pelo seu inverso.

O que não mudou em mim foi o amor pelo Sporting CP, e a minha liberdade de pensamento. A minha entrada para o Jornal Sporting só foi possível pela liberdade de opinião, e pela diferença de pontos de vista não o impediram. Sempre achei a liberdade de opinião muito saudável, e no nosso Clube, ainda não havia redes sociais, já eu me deslocava a AG's, e opinava desassombradamente, tanta vez com sentido crítico. Nunca me refugiei em "fakes" da era moderna. Sempre assumi, sem ser dono da verdade, as minhas convicções com o meu nome.

E hoje, a cada coluna de opinião recordo o Rúben Coelho. Que me deu a liberdade para ser honesto intelectualmente e opinar desassombradamente. Se tiver que dar opinião menos simpática, até porque antes como agora ninguém me condiciona a nada, assim o farei. Mas aquilo que quero, gosto e procuro sempre é falar de Sporting. E isso só o consigo com a paixão ao rubro.

Passaram 11 anos. Tantos milhares de caracteres escritos depois disso, jamais esquecerei aquele telefonema.