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O nosso capitão

Por Miguel Braga
27 Abr, 2023

Editorial da edição n.º 3921 do Jornal Sporting

Manuel Fernandes estreou-se com a camisola do Sporting CP a 27 de Agosto de 1975 – eu tinha então um ano de idade – num particular contra o Académico de Coimbra, marcando o seu primeiro hat-trick de Leão ao peito. Cresci a ver o Manuel marcar golos, a celebrar títulos – conquistou dois Campeonatos Nacionais, duas Taças de Portugal e uma Supertaça −, a comprar os seus cromos para as minhas cadernetas, a disputá-lo com amigos para as equipas imaginárias que fazíamos. Já em idade adulta, também o vi vencer como treinador uma Supertaça pelo Sporting CP e a ser protagonista de alguns feitos muito especiais pelos “seus” Campomaiorense e Santa Clara.

Foi já nos últimos anos que tive a sorte, honra e privilégio de conviver e privar com o Manuel. Primeiro na Sporting TV no programa Raio-X, mais tarde em modo pessoal, em almoços que serão para mim sempre inesquecíveis ou viagens para ver o Clube do nosso coração. Comemorei com ele algumas vitórias históricas – como a primeira verde e branca em território alemão e o abraço eufórico que demos ao terceiro golo Leonino – e ouvi, ao vivo e a cores, histórias e mais histórias sobre os meus ídolos da juventude e sobre o futebol português. Se há pessoa que sabe como as coisas se passaram (e passam), dentro e fora das quatro linhas, essa pessoa é Manuel Fernandes.

No dia 25 de Abril, o seu filho Tiago decidiu fazer-lhe uma homenagem em Sarilhos Grandes, a sua terra, que contou com a presença de várias figuras ligadas ao universo do Sporting CP – a começar pelo presidente Frederico Varandas −, mas também aos seus rivais SL Benfica e FC Porto e a outras figuras do futebol, árbitros incluídos. Além de ser o eterno capitão do Sporting CP, com 441 jogos oficiais e 260 golos, o Manuel é também o jogador com mais jogos na Primeira Divisão do futebol português, com um total de 486 jogos – é obra. Mas mais do que ser uma obra, este é um caso de uma lenda viva do Desporto Nacional.

Em recentes entrevistas, Manuel Fernandes afirmou que se o VAR existisse na sua altura, muito possivelmente, ele e o Sporting CP teriam conquistado mais títulos. Como se viu no passado fim-de-semana, em mais do que um campo, a precisão do VAR ajuda a repor a verdade desportiva, a impedir golos com a mão que valem títulos ou validados por foras-de-jogo factuais e reais, mas por vezes impossíveis de detectar pelos árbitros assistentes mais competentes. Aliás, um pouco por toda a parte, o VAR como ferramenta é elogiado. A crítica, quando existe, é dirigida para o critério ou protocolo do mesmo – algo que é trabalhado todas as épocas – e por viver ainda, nos dias de hoje, com alguma falta de transparência – a divulgação dos áudios será, espero, no futuro, mais um passo na credibilização do futebol. Daí que seja de espantar, para não dizer de lamentar, que alguns treinadores – neste caso um em particular – afirme em pleno 2023 que para ele “deve dar-se de novo toda a decisão ao árbitro. Não vai estar certo 100% das vezes, mas é o futebol”. Não, lamento, mas não é. Era. E a uns clubes, mais do que a outros, isso custou muito caro.