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Eterno, o capitão Júlio Rendeiro

Por Juvenal Carvalho
27 Nov, 2025

A notícia chegou-me gélida através de WhatsApp, e trazia algo que não queria ler: "Morreu o Júlio Rendeiro".

E hoje, neste espaço, porque a notícia quando chegou já havia fechado a edição anterior do nosso Jornal, quero lembrar em vida este Homem natural da cidade do Porto, que começou a jogar num histórico da Invicta, o Infante Sagres, e que haveria de rumar a Lisboa para se tornar o capitão daquela que foi a primeira equipa de hóquei em patins do Sporting CP que vi jogar – e que equipa era, simplesmente estratosférica.

Os Heróis nunca morrem e Júlio Rendeiro é um Herói que fará para sempre parte do imaginário de uma criança de então, que era eu, que sofria como poucos a ouvir os relatos do hóquei em patins, às escondidas dos meus pais porque no dia seguinte havia escola, e que teve o privilégio de acompanhar todo o trajecto daquela dream team que em 1976/1977 trouxe para o reino do Leão a primeira das quatro Champions League que já conquistámos na modalidade, embora ao tempo se designasse ainda de Taça dos Clubes Campeões Europeus.

Desde essa conquista épica, já correram 48 anos no tempo, mas as minhas memórias estão bem vivas. Aquele fantástico grupo, que fazia literalmente gato sapo dos adversários, superiormente treinado por Torcato Ferreira, era apenas delicioso de ver jogar. Se Ramalhete "fechava" a baliza, João Sobrinho era o "bombardeiro", Chana a "magia" e António  Livramento o "mago", e Carmelino, Jorge Alves, José Garrido e Carlos Alberto os suplentes que acrescentavam ainda mais qualidade à equipa, o capitão Júlio Rendeiro era o "cérebro". Aquele que estava em todos os momentos do jogo. Aparecia sempre com aquela calma glaciar que lhe era tão peculiar, qual gentleman e voz amplamente reconhecida. A braçadeira de capitão assentava-lhe na perfeição. Era um líder único. Incontornavelmente tem uma história escrita a letras de ouro marcada para todo o sempre, não só na modalidade, mas também ficará inevitavelmente como um dos imortais do nosso Clube.

Além de jogador, foi também, posteriormente, dirigente durante alguns anos. De um Sportinguismo genuíno como poucos. Sempre disponível para servir o "seu" Sporting Clube de Portugal.

Um Senhor no desporto e na vida, o Engenheiro Júlio Rendeiro. 

Tive o privilégio de privar com ele poucas vezes, mas todas elas deliciosas. Falar de Sporting e ouvir as suas estórias de vida Leonina era arrebatador. A última vez foi em 2023, no aniversário do Núcleo do Sporting do Seixal, quando tive o privilégio de ter ficado na sua mesa, a mesa que tinha campeões de modalidades diferentes e que me fez sentir feliz por ali estar entre eles.  Ele, nesse dia, com a sua natural sapiência, abordou os tempos em que começou a praticar a modalidade e recordou momentos épicos passados de Leão ao peito. Todos os que lá estávamos ouvíamos com atenção aquele Senhor que era um verdadeiro gentleman. Agora, que partiu fisicamente, que não do coração de todos os Leões, o Júlio, como era tratado pelos mais próximos... para mim, o Senhor Engenheiro Júlio Rendeiro, deixa o Sporting Clube de Portugal mais pobre, mas onde estiver, estará seguramente a torcer pelo seu/nosso Clube.

Até sempre, eterno capitão Júlio Rendeiro. E obrigado, muito obrigado, por tudo quanto representou para o símbolo do Leão rampante. E tanto foi!

P.S 1 – E que melhor forma teve o nosso hóquei em patins para homenagear Júlio Rendeiro, do que ganhar ao Hockey Bassano (5-0) para a Champions League e ao FC Porto (5-2) para o Campeonato Nacional. O engenheiro gostou e ficou orgulhoso, seguramente. 

P.S 2 – Os meus sentimentos a Edo Bosch e a Xano Edo pela perda, respectivamente, de seu pai e avô. 

P.S 3 – Este post scriptum é dedicado à vida. E o Sporting Clube de Portugal está vivo, recomenda-se e pronto a honrar e a dignificar uma História de quase 120 anos repleta de êxitos e de momentos épicos.