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Português, Portugal

Carta aberta a João “Mágico” Eduardo

Por Rodrigo Pais de Almeida
21 maio, 2021

João, eu também tenho um sonho. Continuar a ver um dos nossos a ser feliz. Continuar a ver-te jogar de verde e branco e com o Leão rampante na camisola. A espalhar magia em Alvalade e por esse mundo fora

Caro João “Mágico” Eduardo,

Começo como tenho obrigatoriamente de acabar: Obrigado, Campeão! A tua vontade conjugada com a do Clube, o forcing final naqueles dias 5 e 6 de Outubro do presidente Frederico Varandas para que fosse possível o regresso do “filho pródigo” e a validação do míster Rúben Amorim para completar com uma pedra basilar de experiência e de qualidade inquestionável o plantel 2020/2021 foi um factor que considero ter sido essencial para a conquista deste 23.º Campeonato Nacional e da Taça da Liga.

E tanto que tu trouxeste, João! Os posicionamentos, as dinâmicas e a ideia de jogo do nosso jovem treinador parecem ter sido desenhados para ti, mesmo sem saber se podia contar contigo. A dupla de meio-campo com um ‘6’ que fecha espaços e impede a progressão dos adversários, gerindo os timings da transição ataque‑defesa, pedia um jogador que cada vez mais escasseia no futebol mundial. Alguém com a capacidade física para carregar o jogo como um ‘8’, mas que saiba pensar e pautar o jogo como um verdadeiro ‘10’. Alguém que brilhe no passe que define o sucesso de uma jogada ofensiva (seja o último ou o de ruptura), mas que seja o mais altruísta de todos os génios e corra por todos no momento da perda de bola. Alguém que paute o jogo ofensivo, acelerando ao perceber que o adversário está em inferioridade ou mal posicionado, mas que saiba suster a posse de bola, aguentar a pressão de múltiplos adversários sem a perder, e libertá-la para um colega quando todos achavam que já estava perdida. Esse alguém só podias ser tu, João “Mágico” Eduardo.

A arte de tornar o complexo no mais simples dos processos de jogo. A saída de bola na construção do jogo ofensivo, seja entre linhas, dando opção de passe, ou a libertar espaço para jogar nos corredores laterais. O jogo com o tempo de ter e não ter a bola, usando os parcos espaços que existem e que se querem criar. A segurança que deste à equipa com bola, mas também a ocupação de espaços sem bola que tão bem fizeste. O domínio do terreno de jogo sobre “pantufas”, mesmo quando a bola pede um pontapé na frente e tu “investiste” tempo a acarinhá-la como o farias à tua linda recém-nascida Leoa, não cedendo à tentação de te livrares dela mesmo perante superioridades numéricas do adversário. Que me perdoe o Adán, o Gonçalo Inácio, o Pote, o mini-Modric (AKA Daniel Bragança) ou o Paulinho, mas ninguém “fala” com a bola como tu. A verdadeira “insustentável leveza” de carregar às costas e nos pés o jogo do Sporting Clube de Portugal! Classe! Só ao alcance de um jogador de topo Mundial!

Sem legendas talvez possa passar despercebido aos leigos, mas trouxeste muito mais. Fizeste crescer para níveis como o teu o João Palhinha, o Pedro Gonçalves ou os laterais Nuno Mendes e Pedro Porro. O equilíbrio táctico entre a linha defensiva e ofensiva, e a indefinição do corredor preferencial em cada momento (lateral ou central) fizeram aparecer um João Palhinha mais completo e que o fez crescer na construção e no passe (especialmente no longo), libertou o Pedro Gonçalves para deambular no ataque ao lado do avançado, nas suas costas ou em qualquer um dos corredores, aproximando-o da baliza adversária e do golo, e permitiu ainda o crescimento na profundidade dos alas que assim conseguiram brilhar no duelo individual a romper nas defesas contrárias e no cruzamento, criando oportunidades de golo. E sim, o jovem central Gonçalo Inácio e a sua qualidade indiscutível com bola tão inabitual para um central… Eu sei que sabias, mas… foste sempre o seu alvo preferencial no primeiro passe… Porque será?

O belíssimo golo com o Boavista FC na 32.ª jornada, que culminou o trajecto de uma equipa que chega a Campeã Nacional sem derrotas, é um guião perfeito da importância de existires nesta equipa e demonstra a raridade de aparecerem jogadores cerebrais como tu. A forma como apareces entre linhas longitudinais, permitindo ao Feddal encontrar-te no passe. A recepção orientada na latitude com a cabeça já a procurar a movimentação dinâmica dos colegas. A temporização com bola, valorizando o timing da posse e permitindo chamar a ti o “engodo” da marcação dos adversários (e foram quatro), permitiram ao Paulinho ficar 1x1 na área e ao Nuno Santos ficar disponível para receber na esquerda a bola redondinha dos teus pés e centrá-la com conta, peso e medida para o Paulinho facturar. Este golo foi um verdadeiro compêndio do futebol de Rúben Amorim. És a verdadeira personificação deste treinador dentro de campo!

Eu vejo o brilho nos olhos do presidente Frederico Varandas quando fala de ti. Faz por esta altura nove anos daquele título de Campeão Nacional de juniores que conquistaram lado a lado. Conseguirem repetir essa façanha é recordar do que é feito o ADN e o propósito de todo o projecto do Clube. É para isto que dezenas de afortunados jovens são escolhidos e entram na Academia de Alcochete todos os anos. Para começarem, para crescerem, para evoluírem, para conquistarem títulos e a Glória que o nosso Clube merece. Perseguem o sonho de um dia se estrearem na equipa profissional de futebol. Sonham diariamente em serem Campeões e fazerem felizes os milhões de Sportinguistas.

Sabes João, sempre disse e escrevi: Zero ídolos uma “treta”! Estes jovens, esta equipa, o NOSSO Clube… Todos nós precisamos de referências, de ídolos, de pessoas que nos guiem e nos façam sonhar. Que nos façam acreditar que os sonhos são realizáveis e podem sair da utopia ou das conversas com a nossa almofada. Tu és a realização do sonho de todos os nossos jogadores da formação. De todos nós. Vieste do zero. Cresceste. Afirmaste-te na formação. Nos seniores. Internacionalmente. E nunca esqueceste as tuas origens e quem te ajudou. Teres regressado para cumprir o sonho de criança de seres Campeão na equipa principal não fecha este capítulo… não pode fechar!

Vieste para seres feliz. Hoje és feliz. Fizeste-nos felizes! Ajudaste numa das maiores conquistas do Sporting CP dentro de campo e também fora dele. O Sporting CP voltou a ser o Clube mais atractivo para todos os jovens que se querem afirmar no futebol em Portugal e será o mais apetecível para todos os jovens talentos! Hoje és uma das maiores referências desportivas no Sporting Clube de Portugal. Hoje mereces continuar a ser feliz… estou seguro do que aquele sorriso e o “tal” brilho nos olhos de Frederico Varandas, quando te abraçou no final do jogo com o Boavista FC que quebrou o jejum de 19 anos sem vencer o Campeonato, queria dizer. És um dos nossos! Como diz a música, faremos tudo o que pudermos para que continues a ser feliz onde gostas de ser feliz. Aqui, que é a tua casa!

João, eu também tenho um sonho. Continuar a ver um dos nossos a ser feliz. Continuar a ver-te jogar de verde e branco e com o Leão rampante na camisola. A espalhar magia em Alvalade e por esse mundo fora. Com o escudo de Campeão. Com o símbolo da Champions League na lapela a lutar contar os melhores clubes da Europa. O melhor para o Sporting CP é o melhor para o João Mário Eduardo… Continuarmos juntos em 2021/2022.

Obrigado, Campeão!

O início de uma nova era

Por Rodrigo Pais de Almeida
07 maio, 2021

(...) não é preciso pisar ninguém para afirmar o que se pensa e como se pensa

Nos dois jogos desta semana a equipa liderada por Rúben Amorim derrotou pelo mesmo resultado ambos os adversários, os quais exigiram abordagens e opções de jogo muito díspares para se atingir as ambicionadas vitórias, tendo o nosso jovem treinador mostrado toda a sua capacidade de análise dos momentos do jogo e dos seus jogadores.

O CD Nacional entrou em Alvalade com uma defesa muito junta e com muitos elementos, num estilo de jogo em que os níveis de agressividade foram muito para além do que as leis do jogo permitem, não tendo a equipa de arbitragem sabido gerir essa abordagem, ao beneficiar quase sempre o infractor. O intervalo chegava com 21 faltas para a equipa forasteira contra quatro dos nossos Leões. Escrevo 21, mas apenas 19 foram assinaladas. Dois lances que se enquadravam perfeitamente no protocolo do VAR, e que escaparam à visão do árbitro de campo, foram omitidos. Qualquer um deles levaria a equipa do Sporting Clube de Portugal para a marca do pontapé de penálti (e um deles com o indubitável cartão vermelho para o agressor).

Mas a equipa não tremeu perante estas omissões. Rúben Amorim começou a mexer nos seus “soldados” e a dotar a equipa de mais frescura e de mais ritmo. A pressão da primeira linha defensiva e uma construção de jogo sapiente, com critério, e sem se deixar incomodar pelo avançar do tempo de jogo permitiram a Jovane Cabral desbloquear um jogo que só podia acabar com os três pontos amealhados, dada a superioridade da nossa equipa.

Em Vila do Conde morava um adversário a precisar também ele de pontos para respirar na tabela, mas com uma ideia de jogo completamente oposta à do anterior. Com intérpretes de muita valia técnica e habituados a pisar palcos de maior relevância, Miguel Cardoso abordava o líder da Liga NOS com a sua tentativa de futebol positivo, de construção a partir do seu guarda-redes por forma a que a posse de bola chegasse ao seu trio de meio-campo de qualidade (Guga, Filipe Augusto e Chico Geraldes), que em superioridade poderiam gerir e esperar pelas entradas dos elementos mais rápidos nas costas da usual linha defensiva de três homens de Rúben Amorim.

A ideia era boa, mas não resultou. E não resultou por enorme mérito da equipa do Sporting CP. O jogo começou com muita velocidade e rotação de ambas as equipas, mas cedo se percebeu que a equipa Leonina vinha ao reduto Vilacondense para se afirmar e não para deixar andar e ver o que dava o jogo. Rapidamente se apoderou da posse de bola com uma pressão desenfreada no momento de perda da mesma, ou quando o adversário pretendia sair a jogar. Conquistou muitas bolas no último terço de ataque, obrigou o adversário a recorrer à falta, ao pontapé de canto e encostou-o completamente às cordas. Não fosse o poste esquerdo por duas vezes e Kieszek noutras duas ocasiões e na primeira meia hora o jogo estaria resolvido. O golo de Pedro Gonçalves trouxe alguma justiça ao resultado ao intervalo, ainda que pecasse por escasso.

Mexeu bem a equipa do Rio Ave FC com a entrada do velocista Carlos Mané, conseguindo algum domínio territorial nos primeiros oito minutos da segunda parte. Mostrando novamente que não olha para o relógio nem tem substituições no “chip pré-match”, Rúben Amorim logo aos nove minutos da segunda parte coloca em campo Matheus Nunes no lugar de Nuno Santos. Com esta mexida reequilibrou a equipa e não mais se viu o Rio Ave FC, arrancando a equipa do Sporting CP para uns últimos trinta minutos de jogo com um brilhantismo ao nível de toda a primeira parte.

Com uma equipa equilibrada e com uma organização defensiva que lhe permite ser a defesa menos batida da Europa saltaram à vista três exibições de uma qualidade absurda. Sebastián Coates, o nosso capitão, que continua a liderar esta equipa em campo de forma imperial e com uma classe que já não o deverá afastar de MVP da Liga NOS. João Palhinha, que tanto melhorou no processo ofensivo e de construção da equipa, permitindo-lhe ser o pivô da mesma e libertar João Mário para funções mais criativas, e que continua a mostrar uma disponibilidade infindável para o jogo em todos os momentos. Ele pressiona, ele tira bolas ao adversário, ele condiciona todas as efémeras tentativas de contragolpe. Mas depois consegue também equilibrar no ataque, sair a jogar com qualidade e profundidade. E, por fim, Paulinho. Que jogo fez o nosso camisola 21. Um golo que tem tanto de merecido como de bonito para calar as vozes que já começavam a entoar e a criar um ruído tão próprio do passado recente do nosso Clube que tanto talento já limitou e castrou. Paulinho é um verdadeiro jogador de equipa. Ele é o primeiro defensor o que, sendo ele avançado, é nota de grande sacrifício pelo bem comum da equipa. Ele vem atrás dar “engodo” aos defesas para os arrastar e criar espaços na frente para os colegas. Paulinho consegue jogar a um toque, a dois toques, com ambos os pés, mas também conduzir a bola com mestria e sem a perder, dando tempo e espaço para chegarem apoios ou para libertar a pressão do sector intermédio. Bem sabemos que os avançados vivem de golos, e Paulinho vai fazer muitos e bonitos com a verde e branca ao peito, mas arrisco-me a dizer que este avançado vive para a equipa!

Duas notas finais. A primeira para a conquista da segunda Liga dos Campeões de futsal pela equipa liderada por Nuno Dias e Paulo Luís, que vem engrandecer ainda mais o Museu do Sporting.

Mas o Sporting CP não conquistou “só” a Liga dos Campeões de Futsal. O Sporting CP conquistou o mais importante troféu de clubes da modalidade perante o melhor, mais caro e valioso plantel do mundo: o FC Barcelona, que era o vencedor da competição em título. O Sporting CP afastou dessa final “apenas” o campeão russo e o campeão espanhol. O Sporting CP fez a remontada de um 0-2 ao intervalo para um 4-3 final. E o Sporting CP fez tudo isto com nove jogadores formados no Clube, seis deles com idades até aos 22 anos (dois ainda com idade de juniores).

Por tudo isto, na minha opinião, que me perdoem todos os outros que engrandeceram com todo o brilhantismo o Museu Sporting, estamos perante a maior e mais épica conquista de uma modalidade do Clube e que enaltece os seus valores e ideais. Conquistada com o ESFORÇO de toda uma estrutura que vai do Treinador, Jogadores até ao Roupeiro. Com a DEDICAÇÃO de todos os que contribuíram para um trabalho realizado nos últimos 15 anos na formação do Clube e que lhe permite ter trinta e quatro jogadores formados no Clube na principal Liga Nacional. Com a DEVOÇÃO de um plantel identificado com o Clube, com os dirigentes e com os seus Treinadores. Que conquistou a GLÓRIA virando mais uma página épica e inesquecível para todos os Sócios e adeptos do Sporting Clube de Portugal.

A última nota vai para a fundamental entrada directa na Liga dos Campeões da equipa profissional de futebol. Este era um objectivo que muitos diziam inalcançável e que esta equipa atinge, com todo o mérito, a três jornadas do final da Liga NOS. Chegar à mais importante prova de clubes em termos mundiais permite, para além de um encaixe financeiro mínimo garantido que possibilita continuar a construir de uma forma sólida e robusta o futuro do Clube, colocar o Sporting CP na primeira linha do mapa Europeu de clubes.

E conseguiu-o com: i) uma equipa formada maioritariamente na sua Academia; ii) com uma média de idades que permite olhar o futuro com toda a confiança; iii) com a defesa menos batida da Europa; iv) com um treinador jovem, irreverente e ambicioso; v) recolocando na sua lista de prioridades os valores de decência, integridade e os ideais olímpicos de desportivismo e leal espírito competitivo dos seus fundadores; vi) sem ceder a pressões externas que tentaram colocar obstáculos no seu caminho; vii) mas  também às pressões “internas” que continuam a perseguir as suas agendas próprias com inversões e inflexões constantes de discurso entre o apoio para entreter as redes sociais, e a crítica absurda ilustrativa da sua falsa modéstia nos momentos bons e da sua tentativa de aproveitamento nos momentos maus.

Atingir o sucesso, tendo de percorrer este caminho com todas estas curvas e obstáculos, é uma pedrada no charco no nosso Portugal. Numa modalidade como o futebol onde reinou durante décadas a impunidade, a canalhice, a bandidagem e a falta de decência, este percurso marca com toda a certeza um momento de viragem e início de uma nova era. De um Clube afirmativo e sem medos. Que busca dia-a-dia, com confiança, a sua felicidade e a dos seus. Que vai com tudo e com todos. É a demonstração clara de que não vale tudo para ganhar. Que não é preciso pisar ninguém para afirmar o que se pensa e como se pensa. É acima de tudo o vencer de uma nova mentalidade no Desporto Português!

Crença e sede de vencer

Por Rodrigo Pais de Almeida
29 Abr, 2021

O jogo disputado na Pedreira no passado domingo resume de forma perfeita o percurso desta equipa, destes jogadores, deste staff e desta equipa directiva. Mas, sobretudo, a verdadeira mentalidade de todos estes!

O mundo tem sustentado muito da sua evolução (seja no ambiente, na tecnologia, no desporto, na educação, na economia, etc.) na capacidade das pessoas/sociedade resistirem e se adaptarem ou serem elas próprias catalisadoras da mudança, sem olharem ao percurso sinuoso que por vezes têm de percorrer para atingir um objectivo final.

Tenho vindo a escrever neste espaço acerca da(s) grande(s) mudança(s) que o Sporting Clube de Portugal tem vindo a preconizar neste ciclo. Há quem reconheça essa mudança no projecto/cultura desportiva traçado por quem gere o Clube. Há quem veja na equipa de futebol profissional o dínamo dessa mudança. Há quem perceba pela forma e conteúdo da comunicação o que mudou no paradigma do Clube. Há quem refute tudo isso e circunscreva a mudança apenas à conquista de melhores resultados desportivos. Pois bem, se tivesse de resumir o que me parece a charneira da mudança foi… A Mentalidade!

O jogo disputado na Pedreira no passado domingo, para além de um dos capítulos mais dramáticos e bonitos desta época desportiva da nossa equipa de futebol profissional, resume de forma perfeita o percurso desta equipa, destes jogadores, deste staff e desta equipa directiva. Mas, sobretudo, a verdadeira mentalidade de todos estes! Uma crença e uma sede de vencer de verdadeiros Leões… Uma mentalidade competitiva que luta, de uma forma leal, para superar todas as adversidades… Uma união de sangue de uma verdadeira família, em que todos encarnam a alma, o sonho e o coração de todos os Sócios e adeptos do Sporting Clube de Portugal!

Rúben Amorim colocou Nuno Santos no lugar de Tiago Tomás para dar maior rapidez e solidez ao último terço do campo e fez regressar Feddal ao lado esquerdo do trio defensivo depois uma paragem para gestão dos seus índices físicos. O Sporting CP começava o jogo de forma a suster o maior ímpeto inicial do SC Braga, não sofrendo golos e ir paulatinamente gerindo a posse de bola, trazendo assim intranquilidade à equipa adversária que também gosta de a ter.

Um jogo equilibrado com Carlos Carvalhal a recuar Nico Gaitan para verdadeiro organizador do jogo ofensivo, pautando as entradas de Fransérgio e de Ricardo Horta entre os centrais Leoninos com a largura a ser dada pelos mais alas que laterais Ricardo Esgaio e Galeno. Sem marcações fixas no eixo defensivo face à superioridade aparente de 3 contra 1, eram Feddal e Inácio a taparem as entradas dos jogadores com maior mobilidade e velocidade do adversário que em bolas na profundidade tentava ludibriar a defesa menos batida da Europa.

O Sporting CP foi tendo mais bola, foi gerindo a mesma, mas foi algo precipitado em alguns passes que valeram alguns calafrios e um primeiro cartão amarelo a Gonçalo Inácio logo na primeira falta do jogo. Com uma posse de bola de quase o dobro do SC Braga nos primeiros 20 minutos e com o jogo equilibrado e no momento definido para começar a ferir a defesa bracarense (já o tinha feito por uma vez) o jogo ficava ferido de verdade em dois lances no mesmo minuto. Numa entrada imprudente e perigosa que poderia lesionar gravemente João Palhinha, Artur Soares Dias poupa o jogador do SC Braga à merecida expulsão e nem o VAR (que podia ser chamado de acordo com o protocolo) interveio. Na jogada seguinte, num lance sem perigo e dominado territorialmente pela defesa do Sporting CP, e logo na segunda falta da equipa no jogo, o mesmo árbitro e de forma precipitada, pressionado, incoerente e contra o que a lei determina, expulsa com segundo amarelo o jovem Gonçalo Inácio condicionando um jogo de futebol que tinha tudo para ser dos melhores desta Liga NOS.

A ter de jogar com menos um elemento durante 70 minutos contra uma das melhores equipas da Liga NOS, a tarefa da nossa jovem equipa parecia impossível. Abdicou rapidamente do trio ofensivo fazendo recuar Nuno Santos para a ala esquerda e Nuno Mendes para o trio defensivo, optando Rúben Amorim por manter o equilíbrio de trás para a frente e confiando na capacidade física/técnica de Paulinho e Pedro Gonçalves para conseguirem fechar os caminhos da primeira linha de construção do SC Braga. Quando a equipa recuperava a posse de bola a sua missão era dar alguma profundidade aos ataques que libertassem a pressão atrás e conquistassem as possíveis jogadas de perigo junto do último terço da equipa bracarense, sem inverter as prioridades de cada sector.

O desejado intervalo chegou para reorganizar os dez verdadeiros Leões que tinham de procurar trazer algo de Braga. Rúben Amorim chamou à partida Luís Neto e Matheus Nunes, confiando na experiência e capacidade de liderança do primeiro, e na capacidade física e de criar desequilíbrios do segundo. A equipa defendia mais atrás para dar o engodo ao adversário sem nunca se desequilibrar e, mesmo com superioridade numérica, o SC Braga apenas por uma vez assustou António Ádan que respondeu de forma brilhante e com uma defesa que irá surgir seguramente nos momentos mais marcantes da Liga NOS. O toque subtil que permitiu segurar o empate naquele momento e fez uma equipa acreditar que, contra todas as adversidades, era possível. Que por muito escassas que fossem as oportunidades, naquele momento, naquela hora em que e se surgisse, a eficácia iria ditar o resultado final.

A equipa uniu-se. A equipa lutou. Um a um os jogadores cortavam e festejavam cada sucesso defensivo como se de um golo na baliza adversária se tratasse. Motivaram-se. Acreditaram. Compromisso e pacto de sangue entre TODOS. A nove minutos do final surgiu o momento. O Sporting CP esperou por ele como um verdadeiro Leão espera pela sua presa. Soube sofrer como nunca. “Fingiu-se” de morto para que o adversário cedesse à sua sobranceria e com humildade, na raça, e no momento certo, matava o jogo numa troca de olhares de Pedro Porro que sinalizava a esperança de todos os Sportinguistas, isolando Matheus Nunes. Com um remate em força, de raiva, que detinha a esperança e a sagacidade de todos os Sportinguistas dava corpo a um jogo de transcendência dos bravos Leões e a uma vitória com contornos épicos. Vitória que teve tanto de sonhada/ficcionada como de real pela chama e alma que nunca esteve em causa desde o início desta Liga NOS.

Nota final para algo que tenho vindo a escrever sobre as crianças e os jovens Sportinguistas. Se tem tanto de magnífico como de difícil ser do Sporting CP, muito mais complicado é ser do Sporting CP sem nunca ter visto o Clube campeão. Se cada um de nós tem a obrigação de, como diz a música, passar este amor de geração em geração, a verdade é que para o sucesso desta continuidade e crescimento da comunidade jovem Sportinguista muito tem contribuído outra mudança no universo Leonino à qual tenho de fazer aqui e agora a devida vénia. A forma e o formato da comunicação no Clube. A aposta clara em conteúdos digitais modernos, pioneiros na mudança e na mentalidade desportiva em Portugal. Estratégia que tem ultrapassado a barreira do futebol e alastra diariamente a todas as modalidades do Clube. Comunicação que eleva o sentimento de orgulho e pertença ao Clube a cada segundo por todas as famílias Sportinguistas. No site. No Jornal de clube mais antigo do Mundo. No próprio estádio. Nas redes sociais cada vez mais rápidas na difusão desta atmosfera Leonina tão díspar da de todos os nossos adversários. Ver os meus filhos a perguntarem quando sai o Inside Sporting, qual a música desta semana do Backstage Sporting e o que é que o Senhor Paulo Gama (é assim que o tratamos lá em casa) vai fazer no TikTok desta semana, ou quais as histórias mais divertidas deste episódio do “ADN de Leão”, é tão importante como qualquer vitória em qualquer modalidade. É educação. É forma de ser e de estar. É amor. É a paixão por este Clube, por estes valores e ideais que nos passaram os nossos antepassados desde os fundadores em 1906 a cultivarem-se, a alimentarem-se e a transmitirem-se para as próximas gerações de Sportinguistas. É a mudança e o garantir do desenvolvimento sustentável e do futuro do Sporting Clube de Portugal!

O futebol e os cata-ventos

Por Rodrigo Pais de Almeida
23 Abr, 2021

(...) Da minha parte ficas já com a garantia, irei onde vocês forem, como vocês forem e quando vocês forem, para mim é inegociável desde que nasci! Lá estarei convosco! SEMPRE!

Parte da beleza e das paixões que o futebol desperta tem a ver com o facto de muito se escrever, se falar, se discutir, mas a sua dose de imprevisibilidade, e por vezes de irracionalidade, tornarem os 90 minutos do jogo num espectáculo único e que nos leva a sofrer, a rir, a chorar, tudo no mesmo encontro.

O trajecto imaculado da equipa principal de futebol profissional do Sporting Clube de Portugal ao longo da presente Liga NOS tem sido alvo de inúmeras análises, justificações, estudos. Se, no início, a desconfiança era total face a um plantel e staff tão jovens, os resultados primeiro, as exibições depois, e a consistência por último lugar levaram a que se fosse invertendo o discurso para de candidatos à Liga Europa darem esta equipa como candidata a um lugar de Champions.

A conquista contundente da Taça da Liga, depois de vencer o Campeão Nacional em título nas meias‑finais e a equipa da casa na final, elevou a fasquia inicial e esta equipa começou a ser vista como um verdadeiro “case study”. Não sofria golos. Era muito eficaz pois em poucas oportunidades construía vantagens que depois conseguia guardar. Era pragmática na abordagem aos jogos. Sabia até onde podia ir e como ir, para depois segurar, sofrer e sempre acreditar. Não tinha um futebol avassalador com inúmeras oportunidades. Tinha um jogo seguro, fluído, sólido do ponto de vista defensivo, e conseguia levar os jogos até final com vantagens que lhe permitiam somar os três pontos.

A genialidade da comunicação do treinador, a capacidade de levar os jogadores a transcenderem‑se face àquele que era apontado como o seu real valor, o edificar as raízes de uma equipa baseada em 13 jogadores da sua Academia de formação, e os resultados… Sempre os resultados… A imprensa, os comentadores, os adeptos, os Sócios, todos rendidos ao jovem talento Rúben Amorim. Quando invicto ele continuava a afirmar que a Liga NOS é muito longa e quando menos se espera os obstáculos se iriam erguer, escreviam que era falsa modéstia. Todos se iam esquecendo dos objectivos iniciais. Do ponto de partida. Do que custou erguer e chegar a este ponto.

Nos últimos quatro jogos o Sporting CP consentiu três empates e viu o seu mais directo perseguidor aproximar‑se pontualmente da sua performance. Continuando líder. Continuando com vantagem. E permanecendo invicto. Mais ou menos conhecedores face ao que se passou no rectângulo de jogo, rapidamente tudo se coloca em causa. Tudo se eleva para lá da sua importância. Tudo se questiona!

Futebol é também isto. É ter de aceitar que em Setembro o mesmo indivíduo diga e escreva tudo, em Dezembro o seu contrário, em Fevereiro dá uma volta ao texto, e em Abril completa a sua bela pirueta. Escrever sobre o futebol para alguns com agenda própria e que perdem a vergonha ao esquecerem que hoje em dia a tecnologia e a internet não permitem apagar a história, não é mais do que um exercício de malabarismo, de equilíbrios, uma tentativa de navegar ao sabor das ondas e das marés, e que fazem inverter o que pensam conforme a direcção dos cata‑ventos. Quando a coisa vai bem, vamos TODOS bem. Quando a coisa vai menos bem, ELES vão menos bem!

Com isto esquecem exactamente o que é futebol. Nunca vão saber o que é futebol. Que é um desporto e que a sua beleza advém da dimensão física, técnica, psicológica, mas também da sua incerteza face ao resultado porque é um desporto de competição e que se joga contra adversários. Vivem a paixão do seu clube em função de quem lá está e não do amor genuíno de o querer ver vencer e elevar os seus ideais e valores. Vivem do momento e em função dos seus interesses futuros.

O Sporting CP nos últimos quatro jogos conquistou seis pontos dos doze possíveis. Permanece invicto. Permanece líder. Mas viu o perseguidor aproximar‑se. Mas dos 28 jogos já disputados nesta Liga NOS, foram precisamente nestes quatro jogos aqueles onde mais vezes rematou à baliza dos adversários (média superior a vinte remates nestes quatro jogos). Foram os quatro jogos onde menos remates concedeu (média de dois remates à baliza concedidos por jogo). Foram os quatro jogos onde os adversários tiveram menos acções na área Leonina (média inferior a cinco acções). E foram os jogos onde o Sporting CP teve mais acções nas áreas adversárias (média superior a vinte e cinco acções).

Os adversários começaram a perceber como o Sporting CP joga” – pois sim, condicionam a saída por fora para envolver por dentro invertendo essa tendência da equipa, mas o Sporting continua a chegar a zonas de finalização, altera a forma de atacar em número de unidades, em dinâmicas e em ideias. “A equipa tem dificuldade em circular a bola porque os médios estão lentos” – mas as basculações de flancos são constantes, a profundidade é dada nos corredores ao invés das costas porque os blocos defensivos dos adversários baixaram muito no terreno e não dão esse espaço. “O treinador tem de mexer na equipa e nos jogadores” – se há treinador que altera a plasticidade da equipa ao longo dos 90 minutos com jogadores e com funções dos mesmos em campo esse alguém em Portugal chama‑se Rúben Amorim. Chegamos ao ponto de questionar porque é que o nosso Campeão Europeu e um dos mais experientes jogadores é o batedor de penáltis. E por último “Rúben Amorim tem de deixar de ser teimoso”.

Pois bem, caro Rúben Amorim: como tenho memória, como sou coerente, como escrevo livremente e com o único propósito de partilhar com os Sportinguistas o que penso, deixa‑me dizer‑te que vivo e convivo muito bem com a tua teimosia. A teimosia que te leva a defender intransigentemente o Sporting CP, os nossos jogadores, o nosso jovem plantel e uma ideia que há oito meses só estava na tua cabeça e de mais dois ou três “loucos” que acreditavam em ti. Uma ideia que não muda pelo que dizem, pelo que escrevem, ou pela forma como tantos “artistas” te tentam atingir.

“Onde vai um vão todos” é fácil de dizer. De soletrar. De cantar. De escrever. Mas é mais difícil de praticar em toda e qualquer circunstância! Sobretudo quando o resultado é menos bom. Mas são precisamente esses momentos que marcam, que fazem a diferença e é quando mais precisamos de todos. Faltam seis finais esta época. E ainda conto viver mais uns quantos anos. Da minha parte ficas já com a garantia, irei onde vocês forem, como vocês forem e quando vocês forem, para mim é inegociável desde que nasci! Lá estarei convosco! SEMPRE!

As vitórias do Sporting CP e de Rúben Amorim

Por Rodrigo Pais de Almeida
15 Abr, 2021

Rúben, gostar do Sporting CP não é fácil (…) e não é para qualquer um… Mas habitua‑te, porque impossível mesmo é deixar de o amar!

Era de antever um jogo muito disputado com o FC Famalicão. A entrada de Ivo Vieira para o comando da equipa minhota conseguiu finalmente colocar um plantel de enorme qualidade e com potencial para outros patamares a praticar um bom futebol e com resultados condizentes com essa realidade. Com um futebol de apoio na construção e jogadores muito rápidos na frente e nos corredores. Com uma equipa confiante e com atletas à procura de chamar a atenção dos “grandes”. Com um treinador inteligente, experiente e conhecedor do futebol português. Uma equipa que se encontrou para este último terço da Liga NOS para fazer jus ao potencial de equipa europeia que tem.

Rúben Amorim procurou baralhar o meio‑campo famalicense ao recuar Pedro Gonçalves para a posição oito e ao adiantar João Mário para o apoio lateral/frontal a Paulinho e Tiago Tomás. Rapidamente respondeu Ivo Vieira com o recuo de Gustavo Assunção para terceiro central e aglomerando no bloco central ao condicionar também a saída de jogo pelas alas do Sporting Clube de Portugal e ao direccioná‑lo para a superioridade numérica da sua equipa. Poucos duelos. Poucas oportunidades. Bola dividida. E uma primeira parte onde o empate se ajustava e só satisfazia aos forasteiros.

A equipa do Sporting CP precisava de mais bola, de bola mais rápida entre corredores e de profundidade. As entradas de Daniel Bragança e Matheus Reis empurraram o Sporting CP para uma segunda parte de muita qualidade ofensiva na construção de oportunidades de golo e de segurança defensiva que facilmente controlava as parcas investidas do seu adversário (apenas uma defesa de Adán na segunda parte, na realidade, a sua única defesa nos últimos dois jogos, tão poucos têm sido os remates consentidos à baliza).

À semelhança de Moreira de Cónegos, aconteceu futebol. E em futebol nem sempre a melhor equipa, a que jogou melhor, a que construiu oito vezes mais oportunidade do que o adversário, a que dominou o jogo…. Ganha. As entradas de Jovane e Nuno Santos ainda acrescentaram critério até chegar à finalização, mas a eficácia falhou. A subida de Coates na tentativa de acrescentar centímetros ainda proporcionou mais duas situações de golo nos derradeiros minutos, mas a bola teimou em não entrar. O Sporting CP fez tudo. Os jogadores deram tudo. Mas o empate persistiu e castigou duplamente a equipa de Rúben Amorim.

Faltam oito jogos para terminar a Liga NOS. Depois do empate em Famalicão na primeira volta a equipa perdeu apenas mais dois pontos até final da mesma. Este é um tónico e um guião para os oitos encontros que faltam. Aliás, nestes dois empates consecutivos a única coisa que faltou foi a bola entrar. O futebol é também isto, momentos. E este é um momento para dar a volta, de regressar aos três pontos de acordo com a realidade do que se passa no rectângulo de jogo, e de mostrar as garras Leoninas empurrando a bola para beijar as redes dos adversários. É isso que esperamos todos para a primeira de oito finais, em Faro, já amanhã.

Nota final para as palavras de Rúben Amorim na antevisão do jogo da última jornada da Liga NOS “O treinador é que pode perder o campeonato… o Sporting CP já o ganhou…”. Os Sportinguistas não estão habituados a um discurso frontal e realista como este de Rúben. Alguns podem, num momento de maior exaltação, depois de dois empates, esquecer o ponto de partida desta temporada quando previam que estivéssemos apenas a lutar pelo acesso a um possível lugar na Liga Europa. Outros não acreditavam nos objectivos, na forma de os alcançar, nas pessoas que o lideravam e, em Abril, a oito jogos do fecho da Liga NOS assistem estupefactos à performance estável, segura, sólida e consistente que esta equipa vai apresentando.

Dizes que o Sporting CP já ganhou e eu não podia estar mais de acordo, Rúben. Mas já ganhou muito para além do recorde dos 26 jogos consecutivos invicto que acabou de estabelecer. Já ganhou pela forma como o fez e que abre um novo horizonte no Clube. O Sporting CP já ganhou porque teve a coragem de apostar no momento certo e nas pessoas certas para encabeçar um projecto para o futebol do Clube. O Sporting CP já ganhou porque nesse projecto recuperou o seu ADN de Leão, de clube dotado de uma Academia de Formação ao nível das melhores do Mundo e onde se forma a grande parte do seu plantel sénior de futebol profissional. O Sporting CP já ganhou porque tem hoje uma equipa onde os Sócios se revêem muito para além da excelência dos resultados alcançados. O Sporting CP já ganhou porque se sente nestes jogadores, nesta equipa técnica e em quem lidera o Clube uma verdadeira, clara, radical e convincente mudança de atitude e forma de ser e de estar.

Uma atitude que se diferencia pela forma e pelo conteúdo. Porque relativiza a vitória da mesma forma que confia nos momentos menos bons. Porque resiste à tentação de responder à letra aos ataques fora do campo dos rivais e de outros artistas colocando‑os no lugar de indiferença de onde nunca devem sair. Porque comunica com clareza, firmeza e confiança quando o futebol é “apenas” isso, futebol. Porque não entra em crises prematuras de histeria colectiva e de autoflagelação. Porque trata valores, ideias e ideais de forma inegociável, e que nunca qualquer resultado os fará desviar ou mudar o seu rumo!

Sabes, Rúben, tu também já ganhaste. No dia em que aceitaste sair da tua zona de conforto e aceitar a “louca” ideia de Frederico Varandas e Hugo Viana para encabeçares o seu projecto para o futebol do Clube. No dia em que acreditaste que o Sporting Clube de Portugal era o local certo para desenvolveres o teu percurso profissional. No momento em que entraste na Academia e percebeste o potencial imenso deste Clube, destas gentes, deste amor infindável e que nunca esmorece. No jogo em que disseste “Onde Vai Um Vão Todos” e em que à nossa equipa ligaste os nossos corações até onde ela tiver de ir. E porque aceitaste desde o dia em que chegaste que a atitude e a forma de estar neste Clube estava em mudança e era o primeiro passo para voltar a vencer!

Rúben, gostar do Sporting CP não é fácil pelo histórico de incerteza, de autoflagelação, de “crises de meia idade” ou pelas “dores de crescimento”… Não é para qualquer um, Rúben… Mas habitua‑te, porque impossível mesmo é deixar de o amar!

As lições dos jovens Leões

Por Rodrigo Pais de Almeida
08 Abr, 2021

(...) E também é por isso que domingo, seja quem for, de que forma for, e em todos os momentos: Onde for um, vamos sempre todos!

Como disse Rúben Amorim, algum dia iria acontecer. Já tivemos exibições menos conseguidas que nos deram os sempre ambicionados três pontos ao cair do pano, mas algum dia iria acontecer uma boa exibição não conseguir ser coroada com o objectivo. E logo no derradeiro minuto do encontro.

Num estádio sempre difícil e contra um adversário que se encontra cómodo na tabela classificativa, o Sporting Clube de Portugal fez uma exibição, a meu ver, bem positiva. Do ponto de vista defensivo, ao longo do jogo concedeu “meia oportunidade” de golo ao Moreirense FC no remate à entrada da área e descaído para a ala esquerda em que Walterson desfeiteou António Adán. O único remate enquadrado do Moreirense FC ao longo de todo o encontro.

Ao invés, construiu uma dezena de oportunidades de golo. Fez um golo. Viu dois golos anulados pelo VAR por milímetros (o que despoletou a discussão dos já famosos 24 frames que as câmaras televisivas captam por segundo e que podem obrigar o protocolo a dar uma margem de segurança na análise a pretensos foras‑de‑jogo). Obrigou o guarda‑redes adversário a fazer quatro excelentes defesas. Disparou três vezes a centímetros dos postes. E teve três cruzamentos de golo cortados in extremis quando iriam ser facilmente finalizados. A eficácia que tanto tem sido evocada pela inveja rival, traiu‑nos e retirou‑nos a vitória que estava mais do que justificada!

Os golos – inclusive o anulado – do Paulinho são notas de destaque deste jogo e reveladores do que pode acrescentar o goleador. A capacidade de surgir nos espaços de finalização como no primeiro golo, e o rasgar da defesa culminado com um toque de classe a passar por cima do guarda‑redes no tento anulado mostram a capacidade de Paulinho no último terço. Mas os seus atributos não se esgotam na finalização. Paulinho é um avançado fino, de classe, com toque de bola e que sabe aparecer entre linhas para atrair defesas e criar espaços para a entrada dos colegas. Consegue segurar, mas também jogar a um toque. É canhoto, mas usa o pé direito sem comprometer. É exímio no jogo colectivo. Pode jogar em cunha no centro de ataque ou com apoio e em apoio. É o avançado moderno para equipas que gostam de jogar em posse, a dominar o espaço e tempo/timing do jogo, e que procuram os momentos certos para se acercarem das balizas adversárias sem quererem ser avassaladoras, mas sim letais. É o avançado perfeito para este Sporting CP que Rúben Amorim está a construir!

A nota menos positiva do jogo foi a lesão aparentemente grave do jovem Nuno Mendes. Nuno Mendes é um jogador júnior. Nuno Mendes é um jogador com uma capacidade física fora do normal. Nuno Mendes estreou‑se no Sporting e ganhou maturidade. Nuno Mendes foi chamado à selecção nacional A e foi titular da actual campeã da Europa. Nuno Mendes é hoje em dia o jovem defesa‑lateral mais cobiçado do futebol europeu aos 18 anos. Nuno Mendes sofreu uma entrada agressiva e nada leal no último jogo que o obrigou a sair lesionado. Chocante? Sim. Mas para mim a maior nota de relevo foi que a mesma não foi alvo do critério disciplinar. Centrou‑se a discussão pública na questão de ser uma entrada merecedora de cartão amarelo ou vermelho dada a imprudência da mesma, mas fez esquecer o mais grave. Como é possível não ter existido sequer a admoestação de um cartão amarelo? A negligência e falta de protecção ao talentoso jogador conheceu o capítulo mais negro da sua já longa história na segunda‑feira em Moreira de Cónegos.

Nota final para algo que intriga todos os nossos adversários (e quem sabe até alguns Sócios e adeptos do nosso Clube). O Sporting CP não vence o campeonato de futebol desde 2002 e a sua falange de apoio, Sócios e adeptos, nas camadas mais jovens (sobretudo nascidos após o ano 2000) e que nunca viram/sentiram o Clube a vencer o maior troféu de Portugal, continua a aumentar e a ser cada vez mais fervorosa.

Tenho lá em casa dois Sócios desde que nasceram (dez e 14 anos) e neles revejo cada um desses jovens rostos que nos surpreendem com juras e manifestos de amor Leonino do mais puro e genuíno que há. Dia após dia. Vestem orgulhosamente a camisola listada mesmo quando não há jogo. Fazem birra quando lhes dizemos que não podemos comprar todas as sucessivas novidades de merchandising do Clube. Dormem agarrados ao Jubas como se fosse o seu melhor e mais protector amigo. Colocam o cartão de Sócio na lapela, qual ADN ou tipologia sanguínea. Sabem de cor todas as músicas e cânticos do Clube que entoam desde que acordam a cada dia de jogo. Assistem a cada jogo ao nosso lado vibrando a cada golo e sofrendo a cada momento menos bom.

No final do jogo com o Moreirense FC e observando a tristeza e frustração do pai, mas a cabeça sempre erguida dos jogadores e do nosso jovem treinador, o Afonso disse‑me “Sabes pai, gosto mesmo da nossa equipa. É que não há nenhum jogador que eu não goste. Eles são mesmo fixes. Mesmo quando não ganhamos, gosto mesmo de os ver. Eles dão tudo papá. O Adán, o Porro, o Palha, o Seba, o Pote ou o TT… Todos! Agora até já temos o Paulinho bem, pai. Só espero que a lesão do Nuno Mendes não seja grave…”.

O melhor do mundo são mesmo as crianças. E ensinam‑nos lições de vida todos os dias. Na segunda‑feira, os milhares de “Afonsos” espalhados por todo o universo Leonino e que nunca viram o Sporting CP ganhar um título, sentiram um enorme orgulho por serem do Sporting Clube de Portugal mesmo depois de um resultado injusto e menos bom. Ao ler algumas publicações de preocupação (excessiva…) nas redes sociais do universo Leonino depois do jogo de Moreira de Cónegos não consegui deixar de sorrir e de me lembrar do meu Afonso. Uma equipa invicta, com um percurso imaculado, depois de um jogo com uma exibição bem conseguida, mas onde consentiu um empate fortuito no último minuto, que lidera a Liga NOS com oito pontos de avanço a nove jornadas do final… será motivo para tanta apreensão?

É pelas lições e constantes manifestações de afecto e carinho destes jovens Leões. É pela lucidez que nos vão ensinando quando procuramos fundamentos que não existem para temer algo. É pela paixão fervorosa que têm. É pela incompreensão que lançam aos nossos rivais que não entendem como é possível estas crianças cultivarem tanto este amor sem o retorno de títulos desde que nasceram. É muito por eles que estamos a sofrer este ano. Porque ansiamos pelo dia em que eles vão ter essa alegria pela primeira vez. Que sintam o que já sentimos. Essa é uma ansiedade mais nossa do que deles, mas que é reveladora do que é a verdadeira paixão da família Leonina pelo Sporting Clube de Portugal. E também é por isso que domingo, seja quem for, de que forma for, e em todos os momentos: Onde for um, vamos sempre todos!

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