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O futebol e os cata-ventos

Por Rodrigo Pais de Almeida
23 Abr, 2021

(...) Da minha parte ficas já com a garantia, irei onde vocês forem, como vocês forem e quando vocês forem, para mim é inegociável desde que nasci! Lá estarei convosco! SEMPRE!

Parte da beleza e das paixões que o futebol desperta tem a ver com o facto de muito se escrever, se falar, se discutir, mas a sua dose de imprevisibilidade, e por vezes de irracionalidade, tornarem os 90 minutos do jogo num espectáculo único e que nos leva a sofrer, a rir, a chorar, tudo no mesmo encontro.

O trajecto imaculado da equipa principal de futebol profissional do Sporting Clube de Portugal ao longo da presente Liga NOS tem sido alvo de inúmeras análises, justificações, estudos. Se, no início, a desconfiança era total face a um plantel e staff tão jovens, os resultados primeiro, as exibições depois, e a consistência por último lugar levaram a que se fosse invertendo o discurso para de candidatos à Liga Europa darem esta equipa como candidata a um lugar de Champions.

A conquista contundente da Taça da Liga, depois de vencer o Campeão Nacional em título nas meias‑finais e a equipa da casa na final, elevou a fasquia inicial e esta equipa começou a ser vista como um verdadeiro “case study”. Não sofria golos. Era muito eficaz pois em poucas oportunidades construía vantagens que depois conseguia guardar. Era pragmática na abordagem aos jogos. Sabia até onde podia ir e como ir, para depois segurar, sofrer e sempre acreditar. Não tinha um futebol avassalador com inúmeras oportunidades. Tinha um jogo seguro, fluído, sólido do ponto de vista defensivo, e conseguia levar os jogos até final com vantagens que lhe permitiam somar os três pontos.

A genialidade da comunicação do treinador, a capacidade de levar os jogadores a transcenderem‑se face àquele que era apontado como o seu real valor, o edificar as raízes de uma equipa baseada em 13 jogadores da sua Academia de formação, e os resultados… Sempre os resultados… A imprensa, os comentadores, os adeptos, os Sócios, todos rendidos ao jovem talento Rúben Amorim. Quando invicto ele continuava a afirmar que a Liga NOS é muito longa e quando menos se espera os obstáculos se iriam erguer, escreviam que era falsa modéstia. Todos se iam esquecendo dos objectivos iniciais. Do ponto de partida. Do que custou erguer e chegar a este ponto.

Nos últimos quatro jogos o Sporting CP consentiu três empates e viu o seu mais directo perseguidor aproximar‑se pontualmente da sua performance. Continuando líder. Continuando com vantagem. E permanecendo invicto. Mais ou menos conhecedores face ao que se passou no rectângulo de jogo, rapidamente tudo se coloca em causa. Tudo se eleva para lá da sua importância. Tudo se questiona!

Futebol é também isto. É ter de aceitar que em Setembro o mesmo indivíduo diga e escreva tudo, em Dezembro o seu contrário, em Fevereiro dá uma volta ao texto, e em Abril completa a sua bela pirueta. Escrever sobre o futebol para alguns com agenda própria e que perdem a vergonha ao esquecerem que hoje em dia a tecnologia e a internet não permitem apagar a história, não é mais do que um exercício de malabarismo, de equilíbrios, uma tentativa de navegar ao sabor das ondas e das marés, e que fazem inverter o que pensam conforme a direcção dos cata‑ventos. Quando a coisa vai bem, vamos TODOS bem. Quando a coisa vai menos bem, ELES vão menos bem!

Com isto esquecem exactamente o que é futebol. Nunca vão saber o que é futebol. Que é um desporto e que a sua beleza advém da dimensão física, técnica, psicológica, mas também da sua incerteza face ao resultado porque é um desporto de competição e que se joga contra adversários. Vivem a paixão do seu clube em função de quem lá está e não do amor genuíno de o querer ver vencer e elevar os seus ideais e valores. Vivem do momento e em função dos seus interesses futuros.

O Sporting CP nos últimos quatro jogos conquistou seis pontos dos doze possíveis. Permanece invicto. Permanece líder. Mas viu o perseguidor aproximar‑se. Mas dos 28 jogos já disputados nesta Liga NOS, foram precisamente nestes quatro jogos aqueles onde mais vezes rematou à baliza dos adversários (média superior a vinte remates nestes quatro jogos). Foram os quatro jogos onde menos remates concedeu (média de dois remates à baliza concedidos por jogo). Foram os quatro jogos onde os adversários tiveram menos acções na área Leonina (média inferior a cinco acções). E foram os jogos onde o Sporting CP teve mais acções nas áreas adversárias (média superior a vinte e cinco acções).

Os adversários começaram a perceber como o Sporting CP joga” – pois sim, condicionam a saída por fora para envolver por dentro invertendo essa tendência da equipa, mas o Sporting continua a chegar a zonas de finalização, altera a forma de atacar em número de unidades, em dinâmicas e em ideias. “A equipa tem dificuldade em circular a bola porque os médios estão lentos” – mas as basculações de flancos são constantes, a profundidade é dada nos corredores ao invés das costas porque os blocos defensivos dos adversários baixaram muito no terreno e não dão esse espaço. “O treinador tem de mexer na equipa e nos jogadores” – se há treinador que altera a plasticidade da equipa ao longo dos 90 minutos com jogadores e com funções dos mesmos em campo esse alguém em Portugal chama‑se Rúben Amorim. Chegamos ao ponto de questionar porque é que o nosso Campeão Europeu e um dos mais experientes jogadores é o batedor de penáltis. E por último “Rúben Amorim tem de deixar de ser teimoso”.

Pois bem, caro Rúben Amorim: como tenho memória, como sou coerente, como escrevo livremente e com o único propósito de partilhar com os Sportinguistas o que penso, deixa‑me dizer‑te que vivo e convivo muito bem com a tua teimosia. A teimosia que te leva a defender intransigentemente o Sporting CP, os nossos jogadores, o nosso jovem plantel e uma ideia que há oito meses só estava na tua cabeça e de mais dois ou três “loucos” que acreditavam em ti. Uma ideia que não muda pelo que dizem, pelo que escrevem, ou pela forma como tantos “artistas” te tentam atingir.

“Onde vai um vão todos” é fácil de dizer. De soletrar. De cantar. De escrever. Mas é mais difícil de praticar em toda e qualquer circunstância! Sobretudo quando o resultado é menos bom. Mas são precisamente esses momentos que marcam, que fazem a diferença e é quando mais precisamos de todos. Faltam seis finais esta época. E ainda conto viver mais uns quantos anos. Da minha parte ficas já com a garantia, irei onde vocês forem, como vocês forem e quando vocês forem, para mim é inegociável desde que nasci! Lá estarei convosco! SEMPRE!