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O desnorte do Conselho

Por Miguel Braga
17 Fev, 2022

Editorial Jornal Sporting

Os gregos chamavam-lhe Têmis, entre os romanos era conhecida como Justitia, a deusa responsável por manter a ordem social e que se apresentava vendada ao mundo, não por ser cega, mas por conseguir assegurar sempre a imparcialidade. Na passada quarta-feira, horas antes do Sporting CP entrar em campo com a constelação de estrelas do Manchester City FC, na primeira mão dos oitavos-de-final para a Liga dos Campeões, o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, anunciou ao mundo castigos e processos relacionados com o famigerado jogo do Dragão, entre o Sporting CP e o FC Porto.

Ficámos a saber que para o CD, um pontapé de Agustín Marchesín é menos grave que uma estalada de João Palhinha: o internacional argentino foi castigado com dois jogos, o internacional português com três (falhando por isso o confronto com o FC Porto para a Taça de Portugal). Este é o mesmo CD que castigou Uribe com apenas um jogo quando este agrediu violentamente Ricardo Esgaio com uma cabeçada no nariz. Ou seja, uma cabeçada violenta deu direito a um jogo de suspensão, um pontapé a dois jogos, já a estalada corresponde a três jogos (o triplo da cabeçada de Uribe digna de um filme de Steven Seagal).

O expedido CD também anunciou que Matheus Reis – o mesmo jogador que foi agredido por mais do que uma vez por elementos dos coletes azuis e cor de laranja – tem um processo disciplinar “por gesto incorrecto executado no decorrer do jogo, amplamente divulgado na comunicação social e que não foi relatado em relatórios oficiais”. Certamente que o CD achou normal e recomendável o comportamento de Otávio que, em directo, insultou e desafiou consecutivamente Bruno Tabata para um duelo nos balneários. Recordemos também um jogo do ano passado, no mesmo estádio e com as mesmas equipas, quando este CD já estava em funções, e onde o filho do treinador do FC Porto cuspiu na direcção de Pedro Porro, insultando a mãe deste. Foi aberto processo? Não. Aliás, os nomes que se chamam aos familiares dos jogadores servem apenas para abrir processos aos jogadores do Sporting CP, Nuno Santos que o diga. O mesmo jogador que foi suspenso em tempo recorde por um gesto descrito em relatório que as imagens de jogo desmentem.

As imagens também desmentem de forma escandalosa o amarelo que vai retirar Sebastián Coates do próximo jogo com o Estoril. No mesmo lance, Taremi não só pisou de forma grosseira o central uruguaio, como conseguiu voar posteriormente, rebolando no chão cinco vezes sobre si próprio, tal era a dor provocada pelo pisão… que deu. A injustiça decorrente deste lance caricato e revoltante, que marcou o jogo e possivelmente este campeonato, e que foi amplamente divulgado na comunicação social, segundo este Conselho de Disciplina é para manter. Coerência, acima de tudo: que a verdade objectiva das imagens não se sobreponha a erros clamorosos dos homens do apito ou a descritivos subjectivos de um qualquer relatório.

Uma palavra ainda para os nossos Sócios e adeptos e para o final do jogo que acabou com uma pesada derrota por 0-5 com o Manchester City FC:

“É dia de Jogo, toda a gente sabe que eu vou
Andar nas rulotes e cafés
O Sporting apoiar no estádio a cantar
E p'ra semana cá estou outra vez”.

Depois do resultado em causa, ver mais de 45 mil pessoas a apoiar a equipa daquela forma só está, de facto, ao alcance da melhor massa associativa do mundo. Arrepiante.