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Memória

Por Pedro Almeida Cabral
25 Ago, 2022

Fez há dias 56 anos um dos Sportinguistas que me deu uma das maiores alegrias da minha vida. Beto Acosta, como era conhecido, foi o argentino matador fundamental para a conquista do nosso campeonato de futebol da época 1999/2000. Chegou na época anterior, em dezembro de 1998, por indicação de um grande treinador que passou pelo Clube, o croata Mirko Jozić. Para não destoar dos tempos actuais, também Acosta chegou, jogou e foi criticado. Tornou-se recorrente comentar, em tom jocoso, que os seus 32 anos eram idade a mais para o futebol e que os seus problemas com ciática eram mais próprios de quem devia estar num lar. Há coisas no Sporting Clube de Portugal que persistem em não mudar. 

Porém, calando todos os detractores e enchendo o peito de todos os admiradores, na época seguinte, Acosta arrancou para a conquista do campeonato com 22 golos e exibições inesquecíveis. Apesar do final feliz, o início não foi brilhante. Nas primeiras dez jornadas, tivemos até alguns resultados comprometedores. Para além do empate a abrir com a equipa mais fraca desse campeonato, o CD Santa Clara, que ficaria em último, empataríamos novamente à quarta e à quinta jornada, com o CF Estrela da Amadora e o Gil Vicente FC, e perderíamos à sétima jornada com uma equipa que, na altura, nos causava especiais dificuldades, o FC Alverca. Já à nona jornada, no clássico no Estádio das Antas com o FC Porto, uma derrota por três golos sem resposta. Chegámos à décima jornada em quarto lugar, a cinco pontos do líder, SL Benfica. O campeonato parecia, uma vez mais, irremediavelmente perdido. Mas, jogo a jogo, o Sporting CP foi escalando na classificação até que recebemos o FC Porto. Se ganhássemos, passávamos para o primeiro lugar. E foi exactamente o que sucedeu, uma vitória por 2-0 que arredou os portistas do título. Acosta marcou o golo que selou a vitória, ainda hoje comentado por todos os Sportinguistas que viram esse jogo. Um passe desastrado de um jogador do FC Porto, Secretário, a quem desejo as melhoras por se encontrar gravemente doente, foi directo para os pés do argentino goleador, que não perdoou. O resto, foi história. Ou melhor, a história do nosso 21.º campeonato. 

Se me lembro de Acosta, não é somente pelo seu aniversário. É porque me recordo especialmente desse campeonato, o primeiro em que, verdadeiramente, festejei como campeão. Sobretudo, lembro-me do início titubeante e da forma como o Sporting CP perdeu, sem apelo nem agravo, o clássico da nona jornada, sofrendo três golos sem conseguir marcar. É, coincidentemente, o mesmo resultado do jogo do fim-de-semana, contra o FC Porto no Estádio do Dragão. Aliás, como me lembro bem dos dois jogos, posso dizer que neste último causámos mais perigo que naquele que se jogou há 23 anos. Não fora a exibição monstruosa do guardião portista e talvez o resultado final fosse outro. A memória não serve só para nos aquecer a alma com boas lembranças. É também para nos recordar que, por vezes, a história se escreve da mesma maneira com palavras diferentes. Deixemos o que ainda de campeonato há para jogar, que é muito, e, no final, fazemos contas.