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Coisas das mulheres de César

Por Miguel Braga
03 Fev, 2023

Editorial da edição n.º 3909 do Jornal Sporting

É uma expressão com mais de 2000 anos e que, de uma maneira ou outra, a grande maioria das pessoas já ouviu: “À mulher de César não basta ser séria, tem de parecer séria”. Há quem diga que a história aconteceu quando Pompeia, uma das mulheres do imperador romano, deu uma festa exclusivamente feminina para a qual um jovem incauto se disfarçou para marcar presença. Foi descoberto e expulso da mesma, mas a mancha na reputação de Pompeia nunca se apagou. Noutras fontes, foi o próprio César que lançou um rumor sobre Calpúrnia quando estaria perdido de amores por Cleópatra, manchando irremediavelmente a reputação da sua terceira mulher. Independentemente da origem, a expressão viveu até aos dias de hoje, salvaguardando que o ser e o parecer devem, em último caso, estar alinhados em nome da ética e da moral.

Isto a propósito de uma notícia veiculada esta semana, no dia do jogo entre FC Porto e CS Marítimo. Segundo O Jogo, “o FC Porto chegou a acordo com o CS Marítimo para o pagamento de uma dívida de um milhão e 50 mil euros, ainda a propósito da transferência de Pepe para o Real Madrid CF, em 2007” – o caso arrastou-se durante anos, até que, no ano passado, o Tribunal Judicial da Madeira condenou o FC Porto ao pagamento de um milhão e 50 mil euros ao clube insular pela referida transferência. Ainda de acordo com o mesmo jornal, o FC Porto terá “assumido a vontade de pagar a verba em causa de forma voluntária, havendo também um acordo com os insulares para a liquidação em prestações.”

Numa indústria que tem tanta importância para o país, mas que infelizmente tem casos judiciais que perduram no tempo e outros com finais prescritos, aconselharia a prudência em não ser tão voluntarioso na data em questão. Faria assim tanta diferença que a dívida fosse liquidada passadas umas semanas ou que o tivesse sido há um mês?

Compreende-se a vontade dos dirigentes de um clube em receber uma quantia que reclama há 15 anos e não está, de todo, em causa a idoneidade dos jogadores ou da equipa técnica. Em causa, está apenas um modus operandi que em nada ajuda o futebol português. A vida e o futebol não são apenas sobre as leis e os contornos da legalidade. E valores como a ética não devem ser remetidos para a porta dos fundos. Tal como dizia Oscar Wilde, “chamamos de ética o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão a olhar. O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está a olhar chamamos de carácter”. Com uma ética destas, assusta pensar no carácter.

PS – na primeira jornada da segunda volta, e no jogo que colocou frente-a-frente FC Porto e CS Marítimo, Sérgio Conceição foi novamente expulso. Escrevo novamente porque foi a 22.ª expulsão da carreira do treinador, a 12.ª desde que defende os azuis e brancos. É a chamada força das reincidências…