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Doping Comunicativo

Por Jornal Sporting
14 Dez, 2017

Editorial do Director do Jornal Sporting na edição n.º 3654

Tentando perceber o contexto e tendências da comunicação nas organizações desportivas, li um artigo científico de Miguel de Moragas Spa intitulado “Desporto, Meios de Comunicação e Identidades da Sociedade Global”, em que se aborda a relação entre os media e as organizações desportivas. 

O autor afirma que “as novas relações entre os media e as instituições desportivas afectam o trabalho jornalístico que tende a perder a desejável independência do espectáculo narrado. Os media convertem-se em parte implicada no evento, em actores do próprio espectáculo, obrigados pelas necessidades empresariais de obter o máximo retorno dos seus investimentos, tentando obter mais audiências e subscrições. Então o jornalismo deixa de ter um relacionamento «jornalístico» com o desporto e tem um novo relacionamento «business to business», uma relação comercial na nova rede global”.

Esta situação, mesmo que tenhamos consciência dela e a vivamos diariamente, é preocupante, tanto mais quando se sabe do grau de iliteracia no campo dos media que assola o nosso país, ou seja, o desconhecimento por parte da população de como os media se organizam e produzem os seus conteúdos. Mas se esta explicação nos ajuda a entender determinados contextos e posicionamentos, o mesmo não poderá justificar práticas sem ética, abusivas, difamatórias e mesmo criminosas, que se refugiam no manto de um pretenso jornalismo.

Muitos se recordarão por certo da expressão utilizada por Arsène Wenger, o experiente treinador francês do Arsenal, sobre o valor da transferência galáctica de Cristiano Ronaldo para o Real Madrid, que classificou como “doping financeiro”. 

Aproveitando este conceito, quando nos vemos confrontados com o que se tem passado nos últimos tempos em que as recentes revelações de emails apenas vêm confirmar e evidenciar o que há muito se sabia ou suspeitava, somos levados a afirmar que vivemos uma situação de “doping comunicativo”.

Existe, na verdade, uma teia, uma rede, que cada vez mais está a emergir. Tal como aqueles que conseguem, através do doping, resultados avassaladores, estes atingem também níveis de eficiência e eficácia na comunicação via práticas de “terrorismo”, difamação, tráfico de influências e de condutas que muito se assemelham a acções mafiosas.

Estas práticas aparecem de diferentes formas em diversos meios e conteúdos. Existe um embuste para criar uma aparente e percepcionada pluralidade clubística em diversos media, com supostos actores independentes e de diferentes clubes. Quanto a este último, vemos alguns programas de TV, por exemplo, com figuras apenas afectas a um clube (não seguramente o nosso), e, no que respeita aos independentes, estes ou são os regentes da cartilha ou, então, os seus fiéis intérpretes. 

O que se está a passar, e que os últimos emails denunciam, é inaceitável! A divulgação de dados pessoais do Presidente do Sporting Clube de Portugal e seus familiares é um acto criminoso. Aqueles que têm (ir)responsabilidade e que tentam minimizar ou ridicularizar uma situação gravosa ocorrida na residência de um familiar do Presidente Bruno de Carvalho como se se tratasse apenas de um cachecol, deviam ter consciência do que realmente se trata (se é que não a têm) e dos riscos e perigos que este seu comportamento inclui. 

Sei, por experiência própria, os danos que o ódio e a violência no desporto comportam. Numa atitude consciente, prevendo o risco que uma eventual revelação pública do sucedido poderia ser susceptível de retaliação e de vitimizar também um qualquer inocente, decidi, em boa hora e em prejuízo próprio, remeter-me ao silêncio e assim continuarei. Mas não podemos deixar de alertar para a gravidade do que está a acontecer e para o facto de que mais situações de violência gratuita venham a ocorrer.

O apelo que o Presidente do Sporting Clube de Portugal fez inúmeras vezes para que as entidades actuem no âmbito das suas competências, rapidamente, porque ontem já era tarde, não pode continuar a cair em saco roto. Governo, FPF e Liga não podem assobiar para o lado, por mais que estes dossiês lhes queimem as mãos e não lhes dêem votos. Quanto à justiça e autoridades de investigação criminal, impõe-se que prossigam o seu trabalho, sem pressões ou obstáculos.

Boa leitura!