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Alma

Por Pedro Almeida Cabral
26 Ago, 2021

Este futebol do Sporting é, neste momento, música para os nossos ouvidos

Quem toca guitarra, sabe o que é a alma. É um fino varão dentro do braço da guitarra que permite regular a curvatura do braço. O ajuste da alma tem que ser perfeito para que as cordas não trastejem, não fiquem demasiado perto dos trastos, nem fiquem demasiado longe. Se a alma não estiver na posição certa, e o braço estiver côncavo ou convexo, o som da guitarra não sairá em condições. Uma guitarra sem alma, nunca soará limpidamente. Uma equipa de futebol sem alma também nunca jogará decentemente.

A diferença é que ajustar a alma de um grupo de duas dezenas de jogadores não é tão fácil assim. As variáveis são muitas. É preciso calibrar a táctica, assegurando duas ou três mudanças por jogo, garantindo que todos compreendem como fazê-lo. Também tem que se trabalhar arduamente a mentalização dos jogadores, para que mantenham o foco durante 90 minutos (ou em alguns jogos do Sporting CP, 110 minutos). E talvez a parte mais difícil: treinar os atletas para que se leiam uns aos outros com facilidade, antecipando onde se irão colocar e o rumo das jogadas. O futebol é o desporto mais popular do mundo porque uma equipa pode ter as maiores estrelas, mas não conseguir ganhar. Ou o inverso. Ter apenas jogadores esforçados, mas jogar de olhos fechados e alcançar vitórias.

O Sporting CP do último sábado, que defrontou a Belenenses SAD, ganhou tranquilamente o desafio por 2-0. Tentos de Gonçalo Inácio e de Palhinha. Podia ser só mais um jogo do campeonato, competentemente ganho pelo nosso Clube. Mas foi bem mais que isso. Fomos uma equipa absolutamente dominadora, anulando toda e qualquer construção do adversário, jogando sempre com muita intensidade e robustez. Todos contaram e jogaram com todos. A prova é que as cinco substituições pouco mudaram no fio de jogo. Este Sporting CP tem dinâmicas tão rotinadas e esclarecidas que cada jogador cumpre o seu papel impecavelmente encaixado no papel colectivo da equipa. Mais do que dominar a Belenenses SAD, acabámos por dar um espectáculo de bom futebol.

Não vi muitas equipas do Sporting CP a jogar assim. Só podemos esperar e desejar que Rúben Amorim continue a trabalhar a alma desta equipa como tem feito, tal como se ajusta a alma de uma guitarra. É que o futebol também se ouve. E este futebol do Sporting é, neste momento, música para os nossos ouvidos.