O saber estar e o nem por isso
11 Dez, 2025

O dérbi eterno teve como saldo um empate. Como escrevi na edição anterior, é daqueles jogos que são como o melão, só depois de aberto é que se sabe a qualidade e o que vamos degustar.
E dizer que este foi um bom resultado – sabendo das vicissitudes de um dérbi – é algo que não o farei. Até porque ser do Sporting CP é ter a noção de que, quando entramos em campo... em qualquer campo, mesmo contra adversários de qualidade, é sempre com o foco na vitória.
Mas hoje, no futebol moderno o jogo é muito mais do que os 90 minutos. E é precisamente por esse factor, porque desde o apito final até à edição do nosso Jornal estar em bancas, já tudo foi dissecado sobre o jogo e algumas vezes – demasiadas até – por "comentadeiros" de lentes vermelhas, alguns que não passam da voz do dono e que tentam por todos os meios fazer forte fraca gente.
Dizia-me sempre, nas suas sábias palavras o meu avô Zé, sendo eu uma criança nascida num bairro, que podia ser pobre, mas para ser sempre humilde, honesto e de carácter. Andar sempre de cabeça erguida. E ao ouvir o nosso míster na conferência de imprensa, lembrei-me dele. Ter idoneidade e carácter não é, infelizmente, para todos. E o nosso treinador, Rui Borges, deu uma lição de carácter e honestidade na abordagem ao que viu durante o jogo. Viu o que todos viram. Assumiu o lado menos bom, falou das virtudes e dos defeitos... em suma foi sério. Honesto intelectualmente, uma imagem de marca de alguém humilde e que sabe estar na vida e no desporto. Um "tasqueiro" que deu uma "goleada" ao seu opositor que tem o "mestrado da arrogância". No campo foi um ponto para cada um, fora dele foi o que se viu.
O treinador do rival, o que lhe tem faltado em arte e engenho para colocar uma equipa que gasta milhões acima dos demais, que era fantástica e de nível europeu quando então andava pela Turquia e era ainda seu adversário, mas que agora, qual milagre da transformação, tem "muitas debilidades". Fala com sobranceria em doses industriais. Vê jogos diferentes. Vive de um passado fantástico, mas que já lá vai no tempo. Assumo que não sou fã da criatura desde um episódio de uma camisola do Sporting CP ter sido rasgada das mãos do Paulinho, quando então andava por outras paragens mais a Norte. Hoje, depois de anos de glória, parece alguém ultrapassado no tempo em termos técnicos, mas que não perdeu a "arte" linguística – perdoa-lhe Morten Hjulmand. Sempre de língua afiada, até para falar de factos e jogos em que ainda nem treinava a colectividade que hoje é o seu patrão e onde lhe deveriam pagar para treinar mais e falar menos. Assim a modos de alguém que não acrescentou ainda nada no campo, mas que fica como factor relevante da sua passagem até este momento, pasme-se, a retórica de querer acabar com o VAR que, com falhas – a perfeição não existe – é o melhor mecanismo encontrado para minimizar erros no futebol. E eu, que sou pouco mais novo que ele, sei bem disso. É que valia tudo para ganhar por parte do clube de que ele é associado e agora assalariado. Parafraseando alguém, era tudo "limpinho, limpinho".
Este estado de alma que aqui descrevo é apenas porque estou farto – sei que muitos de vocês também, de pessoas que não sabem estar. Ou sabem. Sabem que têm uma boa imprensa. Que lhes é tão fofinha e subserviente tantas vezes. Felizmente que não são todos.
Para alguns deles, uns são "taberneiros". Outros são "speciais"... ou se calhar, para lhes avivar a memória, já foram.
Mas vamos ao que mais importa. Estamos na luta e vamos provar que é possível conquistar o tão ambicionado Tri. Ganhar ao AVS SAD no sábado, em Alvalade. Nós acreditamos em vocês!
P.S – Em Munique, se já era difícil com o plantel todo disponível, mais difícil se tornou com tantas ausências de jogadores nucleares. Não existem vitórias morais, mas da Baviera saiu um Leão com muita dignidade. Faltam agora dois jogos e a hipótese de sermos apurados para o play-off da Champions League mantém-se de pé.