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Português, Portugal
Foto DR

Fazer justiça a Peyroteo

Por Jornal Sporting
10 Mar, 2018

Mensagem do Presidente Bruno de Carvalho no Suplemento do Jornal Sporting dedicado ao emblemático avançado verde e branco

Fernando Peyroteo foi a mais fantástica ‘máquina goleadora’ que o futebol conheceu até aos dias de hoje. Olhe-se para os números conseguidos pelo avançado do Sporting Clube de Portugal ao longo das 12 épocas em que jogou envergando a camisola do Sporting CP e compare-se: ninguém o iguala! E se o futebol teve, e tem, avançados absolutamente magníficos!

O melhor rácio entre jogos de Campeonato (189) e golos (309) ainda hoje lhe pertence, com a impressionante média de 1,6. Mais: na história deste jogo, apenas outros quatro avançados superaram a média de um golo por desafio, embora ficando bem baixo dos números de Peyroteo. Schlosser (1,3), Langara (1,17), Takacs (1,1) e McGrory (1,0) acompanham-no neste quadro de honra Mundial.

Tem, ainda hoje, um outro recorde, o de nove golos num só jogo, algo que nunca foi igualado nas principais ligas mundiais. E deteve, entre 1942 e 2015, o penta (cinco golos) mais rápido da história, num Sporting-V. Guimarães, feito apenas superado por Lewandowski precisamente em 2015, num Bayern Munique-Wolfsburgo.

É disto que falamos quando o assunto é Fernando Peyroteo. E é por isso que o Sporting Clube de Portugal pretende ver a Federação Portuguesa de Futebol a reconhecer e a promover estes feitos extraordinários, por forma a que a FIFA faça justiça ao perpetuar o seu nome como o do jogador com melhor rácio jogos/golos na história do futebol.

Peyroteo jogou num tempo em que o futebol não era televisionado. Em boa medida, esta falta de reconhecimento mundial pode prender-se com isso. Mas os números não carecem de imagens e o Sporting Clube de Portugal nunca deixará que tais feitos caiam no esquecimento. Por isso assinalamos o centenário do seu nascimento atribuindo-lhe o eterno número 9 de sócio, decisão aprovada e aclamada na Assembleia Geral de 3 de Fevereiro. Por isso mudaremos o nome da Tribuna Centenário para Tribuna Peyroteo a partir do dia 18 de Março, dia do Sporting-Rio Ave, a contar para a Liga NOS.

Peyroteo deixou o futebol ao fim de 12 anos. Com 332 jogos oficiais e 540 golos marcados. Despediu-se jogando na melhor linha avançado do Mundo, os Cinco Violinos, ao lado de Travassos, Albano, Vasques e Jesus Correia. Em três anos marcaram 1211 golos pelo Sporting Clube de Portugal. 

É por tudo isto que Fernando Peyroteo tem que ser reconhecido, com toda a justiça, como o maior goleador da história do futebol mundial!    

Bruno de Carvalho
Presidente do Sporting Clube de Portugal

Leia mais aqui.

Duas orquestras que não tocavam de improviso

Por Jornal Sporting
21 Nov, 2015

Fernando Peyroteo, o 'Stradivarius' dos eternos 'Cinco Violinos'

Ainda eu não era nascido na última vez que o Sporting ganhou aqui por três golos”. Autor da frase: Jorge Jesus; contexto: sala de imprensa do Estádio da Luz, na sequência da vitória dos ‘leões’, por 3-0, esta época, no reduto do rival. Mas o que uma frase proferida em Outubro de 2015 tem a ver com a carreira de Peyroteo, o ‘violino’ que afinava a equipa do Sporting na frente de ataque, marcando 541 golos em 12 épocas? Neste particular, tudo. O tal jogo a que Jesus se refere, que aconteceu a 25 de Abril de 1948 – seis anos antes do nascimento do técnico dos ‘leões’ – foi protagonizado por Peyroteo, que apontou os quatro golos com que os ‘verde e brancos’ derrotaram o eterno rival (4-1) no seu reduto (na altura o terreno do Campo Grande, cedido pelo Sporting) e conquistaram o primeiro tricampeonato da história do futebol português, juntamente com a Taça Monumental de ‘O Século’. 

Peyroteo tinha pontaria particularmente afinada frente às ‘águias’. Não só foi perante o eterno rival que deu o pontapé de saída da sua carreira no Sporting – e que pontapé, logo com dois tiros certeiros, como marcou o seu nome na história dos ‘derbies’ ao apontar o ‘poker’ num jogo para o qual o Sporting partia em desvantagem por ter menos dois golos que o adversário no ‘goal average’, naquele dia de Abril que quase três épocas depois seria dia de Revolução – e que, em 1948, foi símbolo de evolução para os ‘leões’.

O jogo foi preparado com todos os detalhes. Sob o comando técnico de Cândido de Oliveira, o grande obreiro da linha avançada imortalizada como os ‘Cinco Violinos’ (entrou para o Clube como director técnico, assumindo depois a liderança da principal equipa do Sporting), os jogadores compareceram na cabine do campo rival, meia hora antes do jogo, para sorverem a táctica. Com dois golos para recuperarem, a palavra-chave era ‘prudência’, quer no ataque quer na defesa. Travassos jogaria ligeiramente recuado, em auxílio ao sector defensivo, procurando lançar os seus colegas na frente com passes longos enviados, preferencialmente, para os extremos. Assim que o Sporting perdesse a posse de bola, o ‘Zé da Europa’ (outro nome por que era conhecido) recuaria de imediato no terreno. Vasques, interior direito dos ‘Cinco Violinos’, também ajudaria a equipa atrás, mas teria de partir para o ataque assim que a bola estivesse no campo adversário. O defesa Moreira marcaria o avançado ‘encarnado’ Julinho – “Onde ele estiver estarás tu. Não poderá ganhar nenhum lance; antecipa-te sempre, não o largues”, indicou-lhe Cândido de Oliveira –, os médios ‘leoninos’ não poderiam deixar de marcar os médios ofensivos adversários quando estes atacassem, assim como os médios ofensivos ‘verde e brancos’ não deixariam os médios ‘encarnados’ em liberdade. O objectivo era que a linha avançada, mesmo desfalcada pela polivalência de Travassos, conseguisse fazer dois golos o quanto antes, igualando a partida; a partir daí, o ataque seria reforçado, alinhando na sua habitual forma, para aproveitar a expectável perturbação do adversário. Todas as situações estavam precavidas: se o Benfica marcasse antes do Sporting, fosse na primeira parte ou na segunda, os ‘leões’ saberiam o que fazer. Tudo isto foi explicado por Cândido de Oliveira ali mesmo na cabine, naquela meia hora. E dotada de “pernas e cérebro”, no entender de Peyroteo, a equipa interpretou à letra a táctica e ultrapassou o rival, conquistando o Campeonato que viria a ficar conhecido como ‘Pirolito’ – como foi decidido apenas por um golo, tomou o nome de um refrigerante da época, que tinha um berlinde na tampa.

A vitória folgada perante o adversário gerou uma superstição no balneário. No seu livro de memórias, Peyroteo relata que, assim que chegava ao balneário antes de um jogo, vestia o ‘slip’ (uma pequena cueca de malha de algodão), a camisola e requisitava os serviços de Manuel Marques – massagista do Clube conhecido como o ‘mãos de ouro’, tal a eficácia com que recuperava os atletas.

Mas naquele dia 25 de Abril, depois de Manuel Marques tratar de Peyroteo – com um algodão embebido em linimento Sloan (um gel de massagem da época), esfregou-lhe as pernas, joelhos e coxas antes de aplicar uma massagem para aquecer os músculos – deixou o algodão, inadvertidamente, pousado no banco ao lado. Nenhum dos dois reparou no deslize. “O certo é que, não sei como, sentei-me mesmo em cima do algodão embebido em linimento. Não queiram saber que ardor eu senti mas, ainda assim, o que me valeu foi o ‘slip’. Mas apanhei um escaldão tremendo. Barafustei e quanto mais zaragata fazia mais o Manuel Marques e todos os camaradas riam à gargalhada. Eu estava seriamente atrapalhado e lá fui para o campo com o ‘sim-senhor’ a arder”, recorda o avançado, que relata que, a partir daí, o massagista deixava sempre o algodão encharcado ao lado porque afirmava que o procedimento dava sorte à equipa.

O ‘derby’ vitorioso trouxe outro efeito inesperado: a demissão do treinador. Sim, leu bem. Cândido de Oliveira apresentou a sua demissão depois da goleada sobre o eterno rival, que tinha tanto da sua sabedoria. Os boatos começaram logo no dia seguinte, nos escaparates dos jornais. A confirmação, essa, chegou depois, pela boca do próprio Cândido de Oliveira. Contou o técnico que, na véspera do encontro com o rival, um dos directores do Clube lhe pediu que explicasse a táctica que pensava usar no dia seguinte, revelando, depois das explicações do treinador, o seu desagrado perante a estratégia e os jogadores escolhidos – Cândido de Oliveira pensava utilizar, por exemplo, Moreira a médio-centro no lugar de Manecas. 

Entendeu Cândido de Oliveira que se devia demitir – o que chegou a fazer – e só recuou perante o pedido de desculpas desse mesmo dirigente, vogal do Clube, que estava disposto a afastar-se do Sporting. Ficaram os dois, ajudando a assinar um dos títulos de campeão nacional mais renhidos de que havia memória.

As duas linhas avançadas mais míticas do Clube têm um denominador comum: Fernando Peyroteo. Nos primeiros tempos no Sporting, o avançado-centro dava música ao lado de Mourão, Pireza, Soeiro e João Cruz; depois ­– mais concretamente a partir de 26 de Junho de 1946, num jogo frente ao Belenenses no Estádio das Salésias – passou a ser o ‘Stradivarius’ dos ‘Cinco Violinos’, ao lado de Jesus Correia, Vasques, Travassos e Albano. 

Os números – que como é sabido, raramente enganam – comprovam o esplendor de uma carreira que terminou com o saldo de cinco Campeonatos Nacionais e quatro Taças de Portugal (o avançado nunca perdeu uma final da competição). Deixemos falar as estatísticas: em quatro jogos disputados, Peyroteo marcava em três; e a cada cinco encontros que realizava, pelo menos num deles marcava três ou mais golos. Só assim se justifica a média recorde de 1,6 tentos por jogo do jogador nascido em Angola, que o coloca no patamar de melhor avançado de sempre do futebol nacional.

Peyroteo atribui grande parte do seu sucesso como futebolista ao estudo pormenorizado de cada adversário, fruto de uma visão que colocava a ênfase da qualidade de uma equipa no valor individual dos jogadores. “Todos nós sabemos que o valor de um ‘team’ de futebol não é mais do que o resultado do valor individual dos jogadores que o compõem; boas equipas sem bons jogadores parece-me que não existem. Daí a minha atenção incidir mais sobre o valor individual do jogador ou jogadores com quem teria de lutar por virtude da nossa colocação no terreno do que sobre a força global da equipa adversária”, adiantou o jogador, explicando a forma como as equipas que integrou no Sporting iam buscar forças às fraquezas do adversário. “Ao começar um jogo (...), a minha preocupação era a de experimentar o defesa que me cabia defrontar. Seria ele dos tais que me acompanhariam até fora do rectângulo se, no decorrer do encontro, me apetecesse beber uma laranjada no ‘bufete’ do campo? Seria rápido na antecipação? Saltaria bem na disputa da bola pelo ar? Teria dois bons pés, ou um melhor do que o outro? Seria dos que fecha os olhos quando vai à bola? Jogará em subtileza ou em força? Lutava com ele procurando ‘descobri-lo’, conhecê-lo e tentava explorar as suas fraquezas possíveis”.

Esta adaptabilidade às circunstâncias do jogo era, também, característica base dos ‘Cinco Violinos’ – uma orquestra que, segundo explica Peyroteo, nunca tocava de improviso, obedecendo a um trabalho metódico e disciplinado. Era um organismo adaptável e mutável, em constante ajuste ao meio ambiente – que é como quem diz, ao adversário e ao jogo. Os primeiros minutos destinavam-se a isso mesmo, ao estudo dos traços do oponente, por forma a empregar o sistema táctico mais adequado para explorar as fraquezas do rival. “O princípio básico era iniciar a partida no regime de cautela e reserva e, por isso mesmo, a defesa era reforçada pela colaboração de um interior. Mas nem por esse motivo deixávamos de tentar o ataque logo que as circunstâncias o permitissem, de modo a surpreender o adversário”. Não havia, portanto, modelos rígidos. “A velha e saudosa equipa dos ‘violinos’ não experimentava dificuldades em cambiar de sistema logo que nisso reconhecia vantagem (...). Não utilizávamos o ‘4-4-2’, a ‘diagonal’, o sistema de ‘ferrolho’ ou qualquer outro processo táctico rígido, definido e assente como padrão imutável”, clarifica o ‘Stradivarius’. Só assim foi possível a conquista de três Campeonatos em três anos de ‘orquestra’, assim como a proeza de vencer o campeão francês Lille por 8-2 ou o Atlético de Madrid, em Espanha, por 6-3 – neste último, por exemplo, a estratégia assentava em fazer o adversário acreditar que a força do ataque assentava no avançado-centro, o que se traduziu no maior espaço concedido a Jesus Correia, que marcou... os seis golos da partida. Uma vez mais, os números não enganam.

Afinar os instrumentos para soar a orquestra

Por Jornal Sporting
21 Nov, 2015

A importância de Szabo e a estreia de Peyroteo com um 'bis' ao Benfica

Estava dado o veredicto: “Sinhor Férnando ter jeiteira mas precisar trabalhar muito. Bom pontapé, bom côrrida. Precisar muito ‘treining’ dê técnica de ‘foot-ball’”. No seu português macarrónico ­– inversamente proporcional aos conhecimentos límpidos de futebol –, o treinador húngaro Joseph Szabo avaliava a prestação do primeiro treino, à experiência, de Peyroteo (que chamava sempre de ‘Sinhor Férnando’). Um treino de duas horas que começava com a promessa de ser breve, mas que terminava com o jogador, acabado de chegar do Sporting de Luanda, à beira de um esgotamento físico. Fez passes de todas as formas e rematou à baliza com o próprio Szabo no lugar do guarda-redes – a ‘desmascarar-lhe’ as artimanhas, por sinal: Peyroteo decidira atirar ‘ao boneco’ para que, se o remate saísse mal, ainda houvesse uma margem até aos postes. “Sinhor Férnando: assim ser canja! Querer furar bariga de guarda-redes? Atirar para junto dê postes!”, advertiu o técnico, que o obrigou a correr para apanhar cada bola enviada para fora da baliza. 

Apesar do veredicto final não parecer muito entusiasta, Szabo viu em Fernando Peyroteo, chegado aos 19 anos a Lisboa no paquete Niassa, a centelha do talento. Nesse mesmo dia, informou a Direcção que estava interessado na contratação do jogador e, no dia seguinte ­– em que Peyroteo só se conseguiu levantar da cama ao meio-dia, tais as dores que tinha no corpo – estava o novo avançado a assinar, sem ler, o contrato que o ligaria aos ‘leões’.

Daí até ao primeiro treino em conjunto com a equipa não demorou muito. Eram 7h15 da manhã e Peyroteo era dos primeiros a chegar. Para todos era um dia normal, mas não para a jovem promessa. As pernas não o deixavam mentir: tremiam como varas verdes. Embora nos primeiros instantes os jogadores mais experientes lhe tivessem dirigido algumas piadas numa tentativa de praxe, assim que começou a rolar a bola todos o ajudaram ­– incluindo Soeiro, um dos melhores avançados da história do Clube, que Peyroteo viria a substituir, relegando-o para a posição de interior esquerdo. E assim, apesar dos nervos, apesar da inexperiência, apesar de tudo, Peyroteo marcou três golos ao mítico guarda-redes Azevedo, dando logo nas vistas dos companheiros. Aníbal Paciência, por exemplo, não teve dúvidas em dizer-lhe: “Estou certo que o lugar de avançado-centro vai pertencer-te”. Szabo, pedagogo por excelência, em vez de lhe alimentar o ego, apontou-lhe os erros – “estar mal dê desmarcação; andar perdido em campo; não saber cortar jogada” – obrigando-o a treinar até às 10h30 (mais uma hora do que os restantes companheiros) para emendar o que não tinha sido bem feito. 

Aliás, daí em diante, Peyroteo passou a treinar sempre mais duas vezes por semana do que os colegas, por indicação de Szabo. Às quartas e sextas-feiras, além dos exercícios atléticos – Szabo era obcecado por este aspecto do treino – o treinador ensinava pormenores tácticos e técnicos, chegando ao ponto de informá-lo a respeito das características de cada um dos seus companheiros de equipa e de lhe dar aulas de táctica com bonecos, depois do duche – o que, muitas vezes, o fez perder a ‘matinée’ de cinema, já com bihete comprado. “Sinhor Férnando, seu cinema ser este. Deixar garotas! Fazer-se primeiro grande jogador de ‘foot-ball’ e ter, dêpois, todas garotas dê Mundo... Cárágo, Fernando, ser um sarílio para atender todas! Ir ver, Férnando”, dizia-lhe o técnico, lembrado por Peyroteo no seu livro de memórias. Nessa mesma obra, aliás, o maior goleador do futebol mundial atribui ao técnico húngaro grande parte do seu sucesso como jogador e demora-se a explicar as regras dos seus treinos. As sessões começavam às 8h da manhã, mas todos tinham que estar equipados e preparados para entrar em campo às 7h45 – Szabo entrava no balneário, de fato de treino e boina na cabeça, e dava três apitadelas com o seu apito: quem não estivesse, seria castigado com 10% do seu ordenado. Quando chovia muito, e perante as ‘manhas’ dos jogadores, era pronto na resposta: se não treinassem na chuva, como fariam se os jogos acontecessem nas mesmas condições climatéricas? Ah, e claro, recomendava aos seus jogadores distância das mulheres durante o fim-de-semana. “Ficharem torneira dê nêmoros dê mininas. Atenção, fazer muito mal e precisar canetas para jogo”, recorda Peyroteo, que muito estranhou, de início, a intensidade das sessões de trabalho do técnico húngaro. “Em Luanda, os treinos limitavam-se a uma ou duas voltas ao campo, para aquecer os músculos, e depois um treino de futebol com onze homens de cada lado”, relata.

12 de Setembro de 1937, Campo das Salésias, Torneio Triangular. De um lado o Sporting, do outro o Benfica, os eternos rivais. Para Peyroteo poderia ser mais um ‘derby’, não fosse aquele o seu primeiro jogo oficial com a camisola do Sporting. Enquanto os seus colegas, habituados já àquelas andanças, viam o jogo como um treino, Peyroteo tremia com os nervos – aliás, um dos directores do Clube, em tom de gozo, receitou-lhe chá de tília para acalmar e teve de ser Szabo a ligar-lhe os pés, tarefa de que o próprio Peyroteo sempre se encarregou. Quem brincasse com o novato jogador, tinha a sua sentença traçada: perdia 10% do salário. Entrado em campo, ao fim de dois remates, Peyroteo já tinha esquecido os nervos, o público em alvoroço e a responsabilidade que tinha nas costas, apontando dois dos cinco golos com que os ‘leões’ bateram as ‘águias’ (5-3). A façanha tem ainda mais valor quando se sabe que aquela era a primeira vez de Peyroteo num campo relvado e com ‘pitons’ debaixo dos pés. Estava lançado o início auspicioso de uma carreira fulgurante.

Dos jogos à sombra dos eucaliptos à ginástica sueca

Por Jornal Sporting
21 Nov, 2015

Infância e adolescência de Peyroteo em Humpata, Moçâmedes, Sá da Bandeira, Nova Lisboa, Luanda... até à Metrópole

Por trás de um grande homem costuma estar sempre uma grande mulher que, no caso de Fernando Peyroteo, foi também a mãe, Maria da Conceição. E um professor de ginástica, acrescente-se. Pode parecer estranho, despropositado, mas a verdade é que as duas maiores influências na infância e adolescência do avançado entroncaram na família e no mestre Ângelo de Mendonça, perspicaz farol que apontou a luz em termos físicos para o homem se transformar em máquina à frente das balizas apesar de nem tudo terem sido rosas no seu início de vida.

Nascido a 10 de Março de 1918 em Humpara, no distrito de Huíla, Fernando foi o penúltimo filho de uma família com 12 (!) crianças, as primeiras três do primeiro casamento de José de Vasconcelos Peyroteo, que saiu da metrópole para assumir um cargo superior no estudo e traçado de caminhos de ferro. Todavia, a saúde pregou-lhe uma partida, daquelas que marcam todos à sua volta: já em Moçâmedes, foi vítima de uma violenta crise cardíaca. E a mãe, com 12 filhos para sustentar e apenas dois a trabalhar (que mal ganhavam para si), decidiu ser superior aos mais superiores e, entre as aulas como professora oficial, deu ainda lições particulares, aguentando a família como um exemplo que marcou o dianteiro para a vida.

Foi à sombra dos eucaliptos onde tantos descansam que Peyroteo começou a jogar futebol, tendo desde logo como primeira paixão os troncos irregulares que faziam de baliza e onde apontava tantas vezes com sucesso as bolas de trapo, de borracha e, quando havia dinheiro entre o grupo de crianças, as que tinham o peso das de futebol. Era a sua grande perdição – e tinha seis irmãos que também jogavam –, apesar de praticar os mais variados desportos (inclusive com melhores condições a nível de professores e infra-estruturas do que o próprio futebol) como ginástica, natação, remo, ténis, equitação e atletismo. Foi nesse período de escola que Ângelo de Mendonça, descrito como um dos maiores ginastas voadores que também fazia paralelas, barra fixa e argolas, foi ter consigo e explicou-lhe que, se quisesse ser jogador de futebol, teria de começar pela preparação física. Fernando ouviu e deixou--se ir: durante dois anos, fez ginástica sueca (passou depois para os aparelhos), deixou o futebol mais ‘a sério’, nadava e jogava basquetebol. Se já era um predestinado, conseguiu assim potenciar ao máximo aquilo que Deus lhe tinha dado, sempre com uma enorme verticalidade, humildade e correcção. Foi dessa forma que, mais tarde, quando o irmão Mário lhe pediu para voltar para o Sporting de Moçamedes, respondeu da seguinte forma: “Se é uma ordem, obedeço-te; se for um pedido, recuso-me”. E não foi mesmo, ficando no Atlético – tempos antes, um responsável do clube tinha pedido que saísse da sala onde estava a ver os mais velhos a jogar bilhar por causa do diferendo com os seus irmãos mais velhos. “Hoje o senhor manda-me embora mas lá virá o tempo em que pedirá para voltar”, tinha exclamado em lágrimas na altura. “E chegará a hora de lhe dizer que não volto. Hoje sou garoto, mas vou ser homem”, disparou antes de sair da sala. Tinha razão. E não voltou.

Após um convite do Sporting de Lourenço Marques recusado por ser muito novo para ficar sozinho, Peyroteo rumou a Sá da Bandeira, onde o irmão Álvaro era gerente do Banco de Angola da localidade (em paralelo tinha fundado o Desportivo da Huíla). Foi ali que passou a jogar no Académico, a equipa do Liceu Diogo Cão. E foi ali que defrontou... o irmão: depois de ter atingido Álvaro no nariz, que ficou a sangrar, levou nas orelhas quando chegou a casa da... cunhada ‘Mariazinha’. Foi também nesta altura que passou pela equipa de esgrima, antes de rumar a Nova Lisboa, onde estivera antes, pasme-se, com uma companhia de artistas amadores de teatro na revista ‘Vidairada’ (além de três ou quatro números, ainda acompanhou uma jovem fadista à viola). Quando se preparava para assentar arraiais por lá, o amigo Norberto fez-lhe chegar uma proposta melhor em Luanda, como escriturário na Repartição de Contabilidade da Fazenda Pública, e passou então a envergar a camisola do Sporting de Luanda, que se transformou no ‘melhor do Mundo’.

Em Abril de 1936, a mãe fez-lhe chegar uma carta onde dava conta da viagem que teria de fazer até à Metrópole por imposição dos médicos. Após um beberete de despedida na sede do Sporting local, Fernando recebeu 1.500 angolares para despesas de viagem e um breve conselho – que, sem qualquer tipo de compromisso, fosse visitar as instalações do Sporting Clube de Portugal. Logo ele que pensava ir oferecer os seus préstimos à Académica, por se tratar da cidade dos estudantes. A história, essa seria bem diferente. E começou na viagem no ‘Niassa’, que chegou à barra de Lisboa a 26 de Junho de 1937 para uma aventura que viria a fazer história no futebol.

O maior goleador mundial de sempre

Por Jornal Sporting
18 Nov, 2015

Suplemento de 12 páginas dedicado a Fernando Peyroteo no Jornal Sporting

Sabia que Fernando Peyroteo esteve dois anos apenas a fazer ginástica sueca sem jogar futebol ‘a sério’ por recomendação de um professor? E que, entre muitos outros dotes além do futebol, tocava viola e fez parte de um grupo teatral? E que, ao longo de 12 épocas, apontou 53 golos ao Benfica só em encontros oficiais? Dos pormenores do crescimento em Angola à máquina que se tornou o maior goleador mundial de sempre, poderá ler e guardar com a edição de 19 de Novembro do Jornal Sporting um suplemento de 12 páginas com a vida e obra de Fernando Peyroteo, além de um poster de duas páginas com todos os números oficiais pelo Sporting (541 golos em 334 jogos, numa média de 1,6 por encontro – é obra!).

Assim, nas primeiras páginas, as atenções recaem nos tempos em que o jovem Fernando começou a jogar à sombra dos eucaliptos em Moçâmedes, numa viagem que atravessa a infância e adolescência do goleador até embarcar para Lisboa, onde chegou em Junho de 1937. De seguida, pode ficar a conhecer a importância de Szabo (o técnico com mais títulos de sempre pelo Clube que era também um visionário para a altura) em todo o processo de crescimento e evolução de Peyroteo, bem como as emoções do primeiro jogo que disputou com... o Benfica, no Torneio Triangular nas Salésias, onde bisou (5-3).

Nas páginas seguintes, há um jogo que serve como ponto de referência para explicar o percurso de avançado-centro angolano em 12 temporadas de Sporting: a vitória por 4-1 fora frente ao Benfica a 25 de Abril de 1948, que valeria mais um Campeonato Nacional com um ‘poker’ do goleador que fez parte de duas orquestras de Violinos que o futebol português jamais poderá esquecer (conquistou 19 títulos nesse período).

Por fim, e além do percurso na Selecção Nacional, poderá também ler uma entrevista de vida a Fernando Peyroteo... filho, com imagens inéditas do goleador fora de campo. Tudo mais o extenso trabalho infográfico sobre os números do avançado no Clube: a quem marcou mais golos e em quantos jogos; o número de tentos apontados em cada jogo (saiba, por exemplo, que foram mais as partidas em que Peyroteo marcou um ou dois golos do que aquelas onde ficou em branco, o que diz bem da monstruosidade do feito); as vítimas dos maiores feitos (quando marcou nove, oito e seis tentos apenas num jogo); e a análise detalhada por época com número de presenças, golos e resultados mais frequentes, entre muitos outros pontos de interesse.

Leia o suplemento e muito mais na próxima edição do Jornal Sporting, que sai amanhã, dia 19 de Novembro, para as bancas.

Façam como ele, o maior goleador de sempre

Por Jornal Sporting
18 Nov, 2015

Alguns destaques do Jornal Sporting de 19 de Novembro

É incontornável: Fernando Peyroteo, o maior goleador de sempre do futebol mundial, é o principal destaque da próxima edição do Jornal Sporting, disponível a partir de amanhã, 19 de Novembro, que pode ser adquirida em Portugal ou no estrangeiro, em papel ou formato electrónico e conta com um suplemento inteiramente dedicado ao ‘leão’ matador, onde é relatado todo o seu percurso, desde os primeiros passos em Angola até à festa de despedida dos relvados, e apresentado um trabalho infográfico com as estatísticas oficiais do avançado. “Façam como ele, o maior goleador de sempre” é a frase que dá o mote para o encontro de sábado, frente ao Benfica, juntamente com o favorável histórico de encontros entre os dois rivais em partidas a contar para a Taça de Portugal.

Ainda no futebol, poderá ler a primeira entrevista de Bruno César ao Jornal Sporting enquanto reforço do Clube, onde o mais recente ‘leão’ elogia o percurso feito pelo conjunto ‘verde e branco’, até ao momento, fala sobre o regresso a Portugal e o reencontro com Jorge Jesus e deixa o seu prognóstico para o ‘derby’ de sábado. “Vai ser um grande jogo e tenho a certeza de que o Sporting vai sair com a vitória”, afirma o canhoto. Quanto à formação, esta edição conta com a reportagem sobre a parceria entre o Clube e a ECADInt, que permitirá a construção de dez Escolas Academia Sporting na República Popular da China, e com as crónicas dos triunfos dos juvenis (1-0 sobre o Real Massamá) e dos iniciados ‘leoninos’ (3-1 frente ao Sacavenense).

Nas modalidades, o grande enfoque vai para o atletismo, que se apresentou oficialmente no passado fim-de-semana. A reportagem da cerimónia oficial realizada no Auditório Artur Agostinho, bem como os objectivos ‘verde e brancos’ para a época 2015/16 e a forte aposta feita nos jovens talentos da modalidade são alguns dos tópicos a salientar. Em paralelo, poderá ler uma reportagem com Carlos Lopes, onde o director do atletismo do Clube recorda algumas das glórias passadas da modalidade, perspectivando um futuro sorridente para o atletismo ‘leonino’ e deixando o seu prognóstico quanto à participação de atletas do Clube nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Além das análises aos jogos das equipas de futsal, andebol e hóquei em patins, leia também o resumo das vitórias da formação de ténis de mesa e de basquetebol feminino e a reportagem feita com Vítor Carvalho sobre a escola de campeões de boxe ‘leonino’, que acabou de conquistar o título regional e aponta já ao Campeonato Nacional.

Ainda nesta edição do Jornal Sporting, poderá ler a reportagem da noite mais Sportinguista do ano: os Rugidos de Leão. Os premiados com os galardões ‘Rugidos de Leão’, as homenagens feitas durante o habitual jantar e o discurso do Presidente Bruno de Carvalho a encerrar a cerimónia são alguns dos tópicos abordados.

Estes e outros temas sobre o Universo Sporting no Jornal que coloca tudo ‘verde no branco’. 

Ver lá fora o que não querem cá dentro

Por Jornal Sporting
05 Nov, 2015

'The Sun' coloca Peyroteo como o maior jogador português de sempre

Se o estimado leitor reparar nas edições do Jornal Sporting do último ano, dificilmente irá encontrar um número que não tenha o nome de Fernando Peyroteo. Por um lado, o avançado tem um manancial brutal de efemérides para explorar – afinal estamos a falar de alguém com uma média de 1,6 golos por jogo durante 12 temporadas de ‘leão’ ao peito. Depois, e por uma questão de coerência, qualquer lançamento de jogo do Campeonato faz referência ao dianteiro, ou não fosse ele o maior goleador português de todos os tempos (com o Arouca não entra na contabilidade porque... nunca o defrontou). Esta semana, a ‘surpresa’ acabou por vir de Inglaterra: o jornal ‘The Sun’ dedicou um extenso (e justíssimo) artigo ao internacional português.

“Acha que sabe quem é o maior jogador português de sempre? Pense outra vez. Não é Eusébio. Não é sequer Cristiano Ronaldo. É um homem nascido em Humpata, Angola, e o seu nome é Fernando Peyroteo”, escreve a publicação no início do artigo que faz parte do caderno de desporto. “Ele é, oficialmente, o maior jogador português de sempre. Por estarmos tão obcecados em ‘trolling’, ‘tinder’ e ‘tekkers’ (n.d.r. expressões ligadas a actos mais superficiais e imediatos), os incríveis feitos de Peyroteo foram quase completamente apagados da história”, acrescenta, antes de fazer um resumo biográfico da vida de Peyroteo, dos primeiros tempos em Angola à viagem para Lisboa para representar o Sporting.

“Mais tarde, responsáveis de FC Porto e Benfica tentaram elevar o negócio com melhores ofertas financeiras mas Peyroteo – um homem de palavra – manteve-se fiel. Logo na primeira temporada, estabeleceu um novo recorde que ainda hoje se mantém, ao marcar em dez partidas consecutivas no final da temporada de 1938/39. Só aí, marcou 31 golos. Mais do que um ‘hat-trick’ por jogo durante dez jogos seguidos na primeira época no novo Clube. ‘Woof!’”, salienta o ‘The Sun’, que recupera também a declaração de Cândido de Oliveira – “foi o mais notável avançado português” – e os dois jogos já como seleccionador onde deu a primeira internacionalização ao jovem... Eusébio.

“No seu centenário, Portugal fez uma grande gala para homenagear as maiores lendas do futebol. Luís Figo esteve lá. Cristiano Ronaldo foi nomeado ‘Jogador do Século’. José Mourinho ganhou alguma coisa. Atribuíram um prémio de platina a Eusébio. Peyroteo não integrou sequer o ‘Melhor Onze do Século’. Que vergonha, Federação Portuguesa de Futebol. O teu país pode ter-te deserdado mas nós não o fazemos”, conclui o trabalho do jornal britânico. 

 

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