Your browser is out-of-date!

Update your browser to view this website correctly. Update my browser now

×

Não há vouchers nem emails grátis

Por Jornal Sporting
02 Nov, 2017

Editorial do Director do Jornal Sporting na edição n.º 3648

Os vouchers não são capricho nem tão pouco uma “obsessão infantil” e muito menos uma “questão pequena” como afirma e quer fazer crer o Director do jornal A Bola, em artigo de opinião do passado fim-de-semana. As opiniões são livres e cada um tem a que quer, valendo o que valem mas confesso ter dificuldades em perceber esta, sobretudo em alguém que goste de desporto, transparência, verdade desportiva e jornalismo, pois considero-a incompatível.

Independentemente das opiniões, os vouchers são um facto concreto! O nosso eterno rival oferecia um pacote “dourado” às equipas de arbitragem, delegados da Liga e observadores, que além de uma réplica de uma camisola, continha também, vouchers para um repasto para quatro pessoas. Esta generosa oferta vai muito além daquilo que possa ser considerado mera cortesia. Já nem evoco o valor em causa poder ser superior ao contemplado nos regulamentos para este tipo de “cortesias”, mas tão só o próprio objecto e o seu intuito. Como afirma o professor João César das Neves “Não há almoços grátis”, pelo que a questão não se deve colocar, como muitos tentaram, para desviar a atenção do essencial ao afirmarem que os árbitros não se deixam corromper por almoços. Eu penso precisamente o mesmo, mas a questão não é esta mas sim o que pretendiam os autores beneméritos destas dádivas? Que esperavam receber em troca?

Este caso dos vouchers, que contrariamente ao que se tenta passar, ainda está a ser objecto de investigação por parte da justiça, não da desportiva pois essa não teve a coragem nem cumpriu de forma cega o que era sua obrigação e o que de si se esperava para apurar este caso até às últimas consequências.

Esta trama tem tanto ou mais significado quanto mais vamos conhecendo outros casos com os mesmos protagonistas. A revista Sábado revela o teor do mandato de busca que envolveu altas patentes do Benfica, incluindo o seu presidente ou Pedro Guerra, como antigos dirigentes da arbitragem, como é o caso de Ferreira Nunes. Diz o documento que as buscas se justificam pelo facto da Juíza do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa considerar que existem “novos factos probatórios”.

Segundo a Sábado, a Juíza afirma que "os factos sob investigação respeitam à suspeita da actuação de responsáveis do SLB-SAD, que, em conluio com personalidades do mundo do futebol e da arbitragem, procuraram exercer pressão e influência junto de responsáveis da arbitragem e outras estruturas de decisão do futebol nacional, tendo em vista influir na nomeação e classificação de árbitros nesse âmbito".

Depois disto tudo, uma dúvida se me coloca: quando Vítor Serpa afirmou que o caso dos “vouchers” eram uma “questão pequena”, não terá sido um erro meu de interpretação ao ler a sua crónica? Provavelmente sim, o que o Director de A Bola estaria por certo a querer dizer é que o “caso vouchers” era uma “questão pequena” quando comparado com o “caso dos emails”. Se assim foi e embora considere ambos graves, não me custa a admitir que tenha inteira razão, pois o conteúdo dos 20 Gigas de emails pode revelar-nos algo substancialmente mais grave!

Entretanto, o Ministério Público deduziu acusação relativa a factos que remontam a Abril passado, véspera do último dérbi em Alvalade, frente ao nosso eterno rival e que levaram ao assassinato do nosso adepto Marco Ficini. O principal acusado, de homicídio qualificado, é um membro de uma claque do nosso rival. 

Agora é uma questão de justiça e que esta faça o seu trabalho, como lhe compete. A desportiva, essa, é que continua a assobiar para o lado, não só nos casos dos vouchers e emails, como também no caso das claques ilegais, aquelas que não existem mas que toda a gente sabe quem são. Até quando?

Boa leitura!