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Foto Francisco Lino; D.R.

Diário de Le Mans - Dia 4

Por Sporting CP
03 maio, 2025

A desilusão do hoje e a convicção no amanhã

 

Chegou - finalmente – o dia de jogo. À hora da alvorada, paira no ar um clima de responsabilidade e leveza que coincidem na mesma narrativa. Parece contraditório, mas a explicação é simples de entregar.

Durante o pequeno-almoço na unidade hoteleira, sente-se, claro, a responsabilidade do confronto que se aproxima; mas, ao mesmo tempo, é notória entre toda a comitiva uma confiança que inspira a uma troca alegre de sorrisos e palavras. No fundo, resume-se à convicção de que tudo está preparado para aquilo que realmente importa, o motivo que aqui nos trouxe.

Depois da primeira refeição do dia, e de um período matinal dedicado ao descanso e à concentração pré-jogo, partimos rumo à primeira - e relativamente curta, são cerca de quinze minutos - viagem até à Antarès Arena, palco desta final four mas também do derradeiro treino antes do arranque da competição.

Dentro de algumas horas, é nesta quadra que os olhos de toda a Europa se fixarão. Pelo caminho, ainda ouvimos soar os acordes do emblemático hino da prova homónima de futebol, e, já nos arredores do pavilhão, o cenário veste-se de competitividade.

Logo ali, a poucos metros, desenha-se a mítica curva Dunlop, uma das imagens de marca do circuito das 24 Horas de Le Mans. É fruto da nossa imaginação, mas podíamos jurar que se ouve o roncar dos motores.

A completar as arestas do triângulo, ergue-se o Stade Marie-Marvingt, casa do Le Mans FC – que, curiosamente, também joga hoje uma importante partida. Às 19h30 locais, os comandados de Patrick Videira – o cliché confirma-se; existe mesmo um filho de emigrantes lusos a cada canto – recebem o FC Rouen. Actualmente em posição de subida à II Liga francesa, o clube procura regressar a patamares mais competitivos e parece bem encaminhado nesse objectivo.

Tal como o Sporting Clube de Portugal, que depois da sessão de trabalho cumpre o habitual ritual de dia de jogo: almoço e descanso. Cada um à sua maneira, todos com o mesmo propósito.

A meio da tarde, surgem os primeiros sinais de verde e branco no exterior do hotel. Entre cachecóis, camisolas e cânticos de incentivo, os adeptos fizeram questão de vincar a sua presença várias horas antes da partida da equipa para o pavilhão. Um gesto simples, mas poderoso, que muito reforça a união entre este grupo e os Sportinguistas. Aconteça o que acontecer.

Pouco depois, iniciámos a deslocação até à Antarès Arena. O esperado trânsito de final de dia, somado aos vários eventos desportivos a ocorrer quase em simultâneo, retardou-nos a chegada. No autocarro, um silêncio quase total: os semblantes eram de máxima concentração, denunciando os pensamentos já focados no jogo mais importante da época.

Chegados ao palco, tivemos ainda tempo para assistir à segunda parte da outra meia-final e, à margem da intensidade que se vivia dentro de campo, um momento ternurento chamou-me a atenção: Kaynan, abraçado ao pai Taynan, assistia atento ao jogo. Mais do que uma imagem bonita, um reflexo da dimensão humana que o desporto encerra – feita de gerações, de partilhas e de raízes.

Às 21h00, já se sabe, soou a buzina inicial do jogo. O nosso jogo. A crónica completa conta a história que nunca quis escrever, o desfecho que ninguém desejava. O resultado, pesado, não traduz o que foi o jogo, mas o futsal, tantas vezes, também é assim – cruel nos detalhes.

O regresso ao hotel fez-se num ambiente naturalmente pesado, principalmente porque esta equipa convive pouco com momentos assim. São contra-natura para um grupo de homens que dá a vida pelas cores que representam.

O silêncio, já não de concentração, era agora de reflexão, e a tristeza, claro, visível no rosto de todos nós – jogadores, equipa técnica, staff, adeptos. Contudo, no meio do desânimo, sobressaiu uma certeza inabalável: esta caminhada ainda está longe de terminar.

Amanhã recomeçamos. Recomeçamos sempre.

Por Filipa Santos Lopes, em Le Mans.