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Foto Pedro Zenkl/Mário Vasa

"Vir para Alvalade foi uma excelente escolha"

Por Sporting CP
05 maio, 2020

Gersinho, treinador do voleibol verde e branco, em entrevista ao Jornal Sporting

Como tem vivido estas semanas de isolamento?
Tenho ficado em casa com os meus filhos e com a minha família. Além disso, existem ainda coisas para definir em relação à equipa. Nas primeiras semanas ainda havia a dúvida sobre se as competições iam ser retomadas, mas depois a Federação Portuguesa de Voleibol (FPV) decidiu terminar a temporada. Já estamos a pensar no planeamento da próxima época e aproveitamos também para pensar no que foi feito este ano e no que é necessário melhorar.     

Tem estado em contacto com os jogadores?
Sim, claro. Enviámos-lhes o plano de treino individual, mas a possibilidade de termos todo o plantel disponível para a próxima temporada não é real. Não sabemos quem vai ficar ou não, depende de vários factores. Por isso, deixei os jogadores um pouco mais à vontade. Ainda assim, os atletas têm de seguir um plano físico a longo prazo e, por isso, têm estado mais contacto com os fisioterapeutas e com os preparadores físicos do que comigo.  

De que forma continua a trabalhar?
Vou escrever um capítulo de um livro que um amigo meu vai publicar nos Estados Unidos sobre expertise no voleibol. Tenho pesquisado um pouco e tentado escrever. Nestes últimos dias, também tenho sondado o mercado para ver a movimentação dos jogadores e falado com alguns agentes. Apesar de nada estar definido, temos de acompanhar o mercado e a sua evolução. Além disso, também tenho assistido a alguns jogos nossos e não só. É uma forma de avaliar o que foi feito.

Que balanço da época?
O balaço é positivo. Estávamos nas meias-finais da CEV Challenge Cup e a equipa estava bem, com boas possibilidades de chegar, por exemplo, à final da Taça de Portugal. Também estávamos na luta pelo título nacional, com tudo em aberto. Era uma equipa nova, mas os jogadores adaptaram-se bem. O grupo apresentou uma evolução táctica e técnica muito positiva ao longo do ano. O primeiro jogo contra o Calcit Kamnik, por exemplo, foi determinante na caminhada europeia. Perdemos por 1-3 mas depois, na segunda mão, realizámos a melhor exibição da época e garantimos a passagem à fase seguinte.  

Que consequências é que esta paragem pode ter nas competições europeias?
A CEV Challenge Cup terminou nas meias-finais, consequentemente, na próxima temporada, o Sporting CP, tal como os outros três finalistas, terá direito a entrar directamente nos 16 avos-de-final da competição. Fica o sentimento de frustração, até porque foi a primeira vez que disputei uma competição europeia. Apesar de a equipa do Powervolley Milano (adversário nas meias-finais) ser uma excelente formação, com muito bons jogadores, tínhamos possibilidades de fazer dois bons jogos e estar na final.  

A próxima época já está a ser preparada?
Em relação à constituição do plantel, não podemos fazer muito pois temos de esperar para ver qual o desfecho de toda esta situação. O Sporting CP tem um contrato um pouco mais longo com alguns jogadores, mas tudo depende do orçamento. Aquilo que estava pensado há um ano, por exemplo, vai, certamente, sofrer alterações. Ainda ninguém sabe quais serão os efeitos reais desta crise e tudo tem de ser planeado com muita ponderação. Tenho estado mais focado nas questões que dependem apenas de mim tais como a planificação, o início da época e expectativas em relação à equipa. Quero mais agressividade no ataque e melhorar alguns sectores. Vamos tentar imprimir um ritmo de jogo mais elevado. 

E quanto aos jogadores que acabam contrato no final desta temporada?
Primeiro, há o aspecto financeiro que te diz o que podes fazer e com quem podes contar. Depois, há a relação do jogador com o orçamento que for estipulado. Se tivermos interesse num jogador que está connosco, vamos ver se ele se adapta a isso ou não. Aí entra também a filosofia de jogo. Tens de procurar as peças que se adaptam à tua filosofia e ao teu orçamento. Há muitos jogadores do plantel com quem gostaria de contar, mas vai depender muito deles. Algumas mudanças vão acontecer certamente, tal como já aconteceram em anos passados, não há como negar isso. Não é só connosco, mas sim em todo o lado. Mais uma vez, repito, ninguém sabe os efeitos reais desta crise e temos, todos, de nos adaptar. Uma coisa é certa para todo o mundo: haverá um antes e um depois COVID-19.

De que forma é que o voleibol mundial se pode ressentir desta pandemia?
Tudo será diferente. Os jogadores vão ter de readaptar-se depois de seis meses praticamente parados, será necessária muita recuperação física. Além disso, no voleibol italiano, por exemplo, já há jogadores a sair para clubes da China e do Japão porque estes países têm economias mais estáveis e podem manter os salários elevados. Muitos jogadores vão acabar por ir para essas ligas. Itália vai continuar a ter um campeonato forte, mas com os atletas a receberem menos. Vai ser uma adaptação mais financeira do que estrutural em relação ao jogo. Vamos ter de fazer o mesmo, mas com menos. Os jogadores vão ter de entender que essa é a realidade e que estes vão ser anos para plantar e, só depois, colher. 

“Já sou adepto do Sporting CP”

Acredita que vir para Portugal foi uma aposta ganha da sua parte?
Sim, foi. Gosto muito de Lisboa, de Portugal e do Sporting CP. Já sou adepto do Clube e é o meu emblema na Europa. Acho que o meu percurso no Sporting CP pode ser longo, até porque o Clube oferece uma estrutura com excelentes condições e tem uma boa projecção a nível europeu. (…) Foi uma excelente escolha com uma boa perspectiva de continuidade. Se houver a possibilidade de ficar aqui a longo prazo, não vejo o porquê de não ser assim.

Como vê a evolução da modalidade em Portugal?
O voleibol português tem muito para evoluir. A primeira coisa a fazer é tentar profissionalizar a modalidade. Ainda que possa haver atletas que tenham outros empregos, o modelo da competição tem de ser mais profissional. Por exemplo, há jornadas duplas porque alguns jogadores não podem actuar durante a semana devido aos empregos. Há também o facto de apenas os jogos em casa do SL Benfica e do Sporting CP terem transmissão televisiva. Estive no Brasil e no Japão, duas ligas em que tudo isto é muito bem feito e onde um jogo não é só um jogo, é um evento. Depois também é necessário investir na formação, mas para isso tem de haver alguém em quem os jovens se inspirem.   

Como correu a adaptação a Lisboa?
Conheci pouco ainda mas posso dizer que gostei muito do Natal em Lisboa, achei muito bonito e iluminado. Já passeei pelo Chiado e estive no Marquês de Pombal, gosto da cidade. Os edifícios antigos são muito bonitos. A adaptação foi tranquila, o mais difícil no início foi pedir algumas coisas no supermercado. Por exemplo, os cortes da carne aqui são diferentes dos do Brasil.

“Tenho uma boa amizade com o Luís Magalhães e o Paulo Freitas”

Há mais alguma modalidade que acompanhe?
Gosto muito e tento acompanhar mais o futsal. Também gosto de andebol, mas o hóquei, por exemplo, tinha visto muito poucas vezes quando era jovem na minha cidade e achei interessante. Visto que o basquetebol e o hóquei treinam no Pavilhão, acabei por desenvolver uma boa amizade com o Luís Magalhães e o Paulo Freitas. Conversamos sobre os jogos e o que cada um vive com a sua equipa.