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“Futebol terá futuro de qualidade sem treinadores de qualidade?”

Por Jornal Sporting
19 Abr, 2016

José Curado lançou questões e deu respostas. O “Futuro da Formação de Treinadores” foi o tema

Num estilo despreocupado e frontal, “o velhote” José Curado – como o próprio se auto-denominou diversas vezes ao longo da apresentação – emprestou um pouco da sua vasta experiência e conhecimento acerca da formação de treinadores, à qual está ligado há muitos anos através de variados cargos.

“Haverá um futuro de qualidade para o futebol se não existirem treinadores de qualidade?”, começou por perguntar, insistindo: “Será possível haver desporto de alta qualidade com treinadores de má qualidade? Podemos ter médicos de alta qualidade com formadores de má qualidade? Não acho possível”, afirmou, deixando implícita a importância dos treinadores no desporto e por consequência da sua formação.

José Curado apresentou as várias organizações responsáveis pela formação de treinadores, tanto em Portugal como na União Europeia e no Mundo, explicando um pouco da forma como se processa tudo o que envolve a área, e logo continuou no registo com que havia começado: “Apenas num ano civil existiram seis milhões de lesões declaradas na União Europeia. Neste montante, e juntando aquelas que não são declaradas, quantas resultam da má preparação de treinos?”, questionou, em tom crítico.

Em Portugal, diz, a classe dos treinadores – que ainda não têm na sua função uma profissão reconhecida oficialmente – tem-se revelado um verdadeiro ‘case study’. O ex treinador afirma que o sucesso alcançado pelos técnicos nacionais se explica sobretudo pela qualidade dos mesmos, apesar do mau processo de formação que afirma existir por terras lusitanas.

“Os treinadores portugueses de futebol estão em maior destaque até porque são em maior número, mas todos os treinadores portugueses estão muito valorizados pela sua qualidade. Temos muitos portugueses, em muitas modalidades, a trabalhar no estrangeiro com imenso sucesso, apesar da fragilidade do nosso processo de formação”, dando depois alguns exemplos concretos: “Um gigantesco projecto da NBA na Índia que tem como objectivo difundir o basquetebol no segundo país mais populoso do mundo é liderado por um grupo de treinadores portugueses, sob coordenação do Carlos Barroca. O Mário Palma, por exemplo, qualificou Angola por três vezes para os Jogos Olímpicos. A primeira mulher convidada para treinar uma equipa profissional de futebol foi portuguesa, a Helena Costa. Já disse numa reunião internacional que somos um ‘case study’. Como explicar que um país pequeno com tantos problemas tenha um elevado número de treinadores portugueses em tantos sítios do mundo?”.

Ainda assim, e apesar da qualidade que admite que os treinadores nacionais têm, José Curado aponta uma forte crítica aos treinadores de formação – ainda que a meias com os dirigentes. A formação, repete, é essencial, mesmo para os treinadores que se pretendem limitar ao futebol jovem. 

“Há uma enormíssima margem de progressão para os treinadores portugueses, principalmente na formação. Desejo, para o futuro, que todos os miúdos tenham um treinador altamente qualificado. Não sei se muitos treinadores não estão a contribuir para o abandono precoce da prática desportiva em larga escala. O realço que está a ser posto nos resultados, o ganhar a qualquer preço... pode ter efeitos nocivos. Se bem que aqui não se trata apenas dos treinadores, mas dos dirigentes, que são quem mandam”.