​Presidente em entrevista exclusiva à Sporting TV

Frederico Varandas, presidente do Conselho Directivo do Sporting Clube de Portugal, abordou esta quinta-feira diversos temas da actualidade Leonina em entrevista exclusiva à Sporting TV.

O dirigente verde e branco começou por fazer um balanço de 2022/2023, lançou a próxima temporada e abordou também as entradas, saídas e renovações. Além disso, tocou em temas como a estabilidade financeira e desportiva do Clube, a formação, o novo modelo de gestão da arbitragem proposto pela FPF e as melhorias que estão previstas para o Estádio José Alvalade.

Preparação para a temporada 2023/2024

“O planeamento da época 2023/2024 já arrancou, começou em Fevereiro/Março de forma antecipada para prepararmos tudo como deve ser. Está a correr da forma como gostaríamos, estamos a tentar fazer as vendas de que precisamos rapidamente e as compras também, para estarem ao dispor do nosso treinador. Mas não só de contratações e vendas se faz o planeamento da época. Vai ser importante jogadores como Daniel Bragança, Francisco Trincão, Marcus Edwards ou Diomande apresentarem-se a um nível diferente, com mais confiança. Vão crescer do ponto de vista competitivo. Independentemente do mercado, acreditamos que há muitos jovens que já estavam no plantel e que vão crescer do ponto de vista competitivo”.

Balanço da época que terminou há pouco

“Foi uma época que não correu bem. Tínhamos expectativas de terminar nos dois primeiros lugares, como nas duas épocas anteriores, mas não conseguimos. Não correu bem do ponto de vista desportivo. Mas no Sporting CP não nos gerimos apenas pelos resultados. Terminando no quarto lugar, muito aquém do que esperávamos, fizemos uma análise interna séria. Acredito nas pessoas da estrutura, confio no processo de trabalho e não consigo dizer que algo mudou nas últimas três épocas. (…) Se olharmos os dados, foi o ano em que a equipa rematou mais, teve mais posse de bola, mais cantos e mais acções na área adversária, mas não foi eficaz. Não faltou qualidade dos jogadores nem do treinador, não conseguimos materializar a qualidade de jogo”.

Ausência da Champions obriga a vender para equilibrar contas?

“Um clube em Portugal, esteja ou não na Champions, tem de vender, o valor é que pode variar consoante as receitas. Nos últimos dois anos batemos o recorde de receitas europeias. Claro que é um valor que não vai entrar e vamos ter de vender, mas não será catastrófico. Isso é mérito de um trabalho que começou em 2018, maximizámos as receitas e optimizámos os custos. Não temos de voltar ao zero, se fizermos uma grande venda talvez só tenha de vender um jogador”.

Manuel Ugarte

“Grande jogador, com grande carácter e excelente profissional, mas não é jogador do PSG. É jogador do Sporting CP. Hoje, se me perguntar, diria que tem 95% de hipóteses de sair para um de dois grandes clubes europeus, que bateram o valor da cláusula de rescisão. Primeiro optou por um, depois mudou para o outro, o que é normal. Dissemos as condições, que seriam a cláusula e outros custos que interpretamos que tem de ser o clube comprador a assumir. Não é claro, mas dificilmente o Ugarte ficará no Sporting CP. Só não posso confirmar se será o PSG”.

Esta venda permite compensar ausência da Champions?

“Vendemos em Janeiro, sem querer, o Pedro Porro pela cláusula de rescisão. Por isso, tivemos um crescimento sustentável e um trabalho financeiro para não ter de destruir a equipa. Se tivermos de vender o Ugarte, não vamos vender mais nenhum jogar. Está praticamente fechada a compra de mais 10% do Ugarte, pelo que temos agora 80% do passe. O PSG sabe as condições, só vamos negociar a partir de 1 de Julho por uma questão de resultados do exercício 2023/2024”.

Não sai mais ninguém dos jogadores nucleares?

“O nosso objectivo é tentar fechar o plantel o mais rápido possível, o que significa comprar e vender o mais rápido possível. Não vamos vender mais nenhum jogador nuclear até 31 de Agosto. A partir de agora, o Sporting CP não negoceia, têm de bater a cláusula. Se isso acontecer, teremos de ir ao mercado. Claro que pode haver jogadores que tenham menos espaço e queiram minutos de jogo, pelo que se houver uma boa oportunidade podemos estar abertos a negociar”.

Sucesso desportivo e financeiro

“O propósito de um clube é o sucesso desportivo, e sucesso financeiro é indispensável para isso. O que estamos a fazer é o trabalho de formiga. Em 2018 não tínhamos dinheiro para pagar impostos e havia um buraco de 40 milhões até terminar a época. Esse foi o ponto de partida e hoje temos recordes de receitas de bilhética e gameboxes, o corporate ultrapassou os 13 milhões de euros e temos um recorde de merchandising perto dos nove milhões, além de um recorde de quotização que no ano passado esteve nos 10 milhões e este ano já ultrapassámos. É fácil ter uma reserva financeira de um trabalho muito bem feito na SAD e dizer que podemos apostar na vertente desportiva. Adorava dizer isso, mas estamos numa fase em que estamos a construir. É isso mesmo que leva a que hoje, não estando na Champions, consigamos não destruir a equipa”.

Crescimento contínuo dos Sócios

“Não foi uma época de sucesso desportivo, mas o clube não parou de crescer. Os meus filhos têm pouco mais de três anos de diferença e a minha filha, que fiz Sócia quando nasceu, vem 38 mil números depois do meu filho, o que significa que nos últimos três anos aumentámos em 38 mil Sócios. E atenção que, com as renumerações estatutárias de cinco em cinco anos, limpámos dezenas de milhares de Sócios que não pagavam quotas há oito ou dez anos. Em três anos temos uma média de 12 mil novos Sócios por ano e os escalões em que aumentámos mais foram nos infantis e juvenis. Demonstra a vitalidade e militância do Sócios e como o Sporting CP está vivo”.

Importância da estabilidade no Clube

“Nunca entraremos em loucuras depois de uma época menos conseguida. Nas últimas épocas fomos altamente bem-sucedidos do ponto de vista desportivo, ganhámos quatro troféus no futebol. Sempre disse isto e repito: mais importante do que os títulos, é o rumo que o Clube está a tomar. Esse rumo levou a quatro coisas. A estabilidade, que não era vista há décadas e que existe mesmo quando o Clube não ganha, a recuperação financeira, pois voltámos a ter, após seis anos, capitais próprios positivos e com o valor mais elevado da história da SAD, além de que amortizámos o passivo. Em terceiro, batemos o recorde de receitas, e em quarto, temos tido mais sucesso desportivo do que tivemos no passado recente. Basta ver que o Clube venceu mais nos últimos cinco anos do que nos últimos 20. Tudo isto é consequência do rumo que tomámos, cada vez estamos a crescer com mais Sócios, mais receitas e maior capacidade de investimento”.

Que investimento terá o futebol na nova temporada?

“Fui analisar e Sporting CP, SL Benfica e FC Porto andam muito perto de investir metade do que vendem ou quase. O FC Porto investe um pouco menos do que metade do que vende, o rácio é inferior ao do Sporting CP, e o SL Benfica tem um rácio superior ao nosso, nos últimos cinco anos. O que mudou? O Sporting CP passou a vender ao valor do que os nossos rivais venderam nos últimos 15 anos. Essa é que é a novidade, não é o rácio. Antes vendíamos jogadores por 11, 15, 25 ou uma vez por 40 milhões, mas agora não. As cinco maiores vendas da história do Sporting CP foram feitas por esta administração, e das dez maiores, oito fomos nós. Ugarte pode sair pela cláusula de rescisão, Porro também, Nuno Mendes igual, Matheus Nunes não foi cláusula de rescisão mas foram 45 milhões. Esta é a realidade a que as pessoas não estavam habituadas, mas agora é assim no Sporting CP. Esta época vamos manter o rácio entre as vendas e as compras”.

Que sectores pretende reforçar no futebol?

“Vamos seguramente contratar um avançado e provavelmente haverá mais entradas cirúrgicas noutras posições. Gyökeres? Não vou dizer que é mentira, é um dos jogadores referenciados. Os valores falados, de 15 ou 20 milhões, são consequência da evolução do Sporting CP. Inicialmente contratávamos jogadores de três ou quatro milhões de euros pois não tínhamos condições para mais, mas ao longo destes cinco anos fomos crescendo. Passámos para investimentos de seis ou sete milhões com partilha de passe e depois para dez milhões, contratámos um jogador por 16 e, se tivermos de ir aos 20, temos capacidade para isso. O que estamos a fazer é sustentável, equilibrado e racional, é sinal de que já estamos a gozar das mais-valias do trabalho bem feito”.

Garante equipa competitiva?

“Hoje o rumo do Sporting CP são os dois primeiros lugares da Liga, é para isso que lutamos. Se dissesse nos primeiros dois anos de mandato que teríamos capacidade, não teríamos, mas hoje sim. A ambição é ser campeão, mas o objectivo realístico é ficar nos dois primeiros lugares”.

Formação continuará a ter presença forte no plantel?

“Vai ter de ser. Quando o Amorim aceitou este desafio em 2020 sabia a exigência do Clube, as dificuldades e o ADN, a formação terá de ser sempre a base do plantel. Temos muitos jovens de promissores que poderão chegar à equipa A, é altamente reconfortante e vejo com expectativa o facto de termos tido 11 internacionais na convocatória dos sub-20 há poucas semanas. Diz muito do trabalho e da qualidade dos jovens que temos”.

Héctor Bellerín

“Não fica, foi uma decisão tomada pela equipa técnica, direcção e administração”.

Luís Neto

“Vai renovar, fica mais um ano no Sporting CP”.

Francisco Trincão

“Já é jogador do Sporting CP, mais sete milhões e ficamos com 50% do passe”.

Pedro Gonçalves

“À partida, vamos conseguir recuperar 40% do passe, é uma boa notícia”.

Interesse de outros clubes em  Rúben Amorim

“Espero esteja de férias e a descansar, não o vejo há algumas semanas. Espero que esteja bem tranquilo e descansado, precisamos muito dele. É o homem certo para continuar à frente do nosso grupo de trabalho. É bom sinal que seja badalado e pretendido, é muito bom sinal que hoje as pessoas que trabalham no Sporting CP sejam pretendidas. Mas ainda melhor é que queiram ficar. Não estamos habituados a ver um treinador fazer a quarta época e dizer que está feliz no Sporting CP, o que faz confusão a muitos, mas atenção que o contrato é até 2026. Ele tem tido interesse dos maiores clubes europeus, mas está muito bem onde está. Estamos muito felizes por tê-lo, é um dos melhores do Mundo. Tem só cinco anos de carreira, é muito jovem”.

Novo modelo de gestão da arbitragem proposto pela FPF

“Fiquei muito contente com esse passo, é esse o caminho e tem de haver coragem para fazê-lo. O Sporting CP tem uma visão e uma postura muito positiva e, mesmo quando critica - e eu próprio já fiz comentários que hoje não teria feito - tenta fazê-lo de forma construtiva. Mesmo perdendo a hipótese de disputar o terceiro lugar na última jornada, não o fizemos de forma agressiva ou tóxica pois esse não é o caminho. Os árbitros têm de ter as melhores condições possíveis, e isso só acontece se forem regulados de forma independente. O sistema tem de estar imune independentemente de quem está à frente. Defendo uma arbitragem 100% independente da esfera dos clubes, à imagem do que acontece na Premier League. Mas não é só a independência dos árbitros, é o recrutamento que tem de aumentar e ser profissionalizado, a classificação, que é extremamente importante, a remuneração, pois têm de ser muito bem pagos. Os árbitros têm de ser completamente independentes do ponto de vista financeiro. O Sporting CP bateu-se por medidas básicas como a revelação das comunicações do VAR e foi também o único clube que propôs que a equipa da casa não ficasse atrás do fiscal de linha”.

Revisão salarial dos órgãos da SAD

“Respeito e entendo todas as críticas. Não há Sócios notáveis, nem de esquerda, direita, muçulmanos ou católicos. Respeito e ouço as críticas, mas há uma coisa extremamente importante para nós que não vou mudar nunca. Muitas vezes os Sócios não têm esta informação, mas a SAD tem uma comissão de remunerações, que inclui o presidente e mais três pessoas: o Dr. Bernardo Ayala, o Dr. Ferreira Pinto e o Dr. Gonçalo Uva. Só lhes pedi uma coisa desde que assumiram os cargos, que foi que o Sporting CP tem a obrigação de ter as melhores práticas do mercado. É o que exijo enquanto presidente. Disse ao Dr. Bernardo Ayala que queria que fizessem um estudo sobre as remunerações da administração e contratámos uma das melhores consultoras do Mundo, que fez um estudo exaustivo e chegou aos valores conhecidos. Soube na mesma altura que toda a gente quanto o presidente deveria ganhar, jamais diria que o presidente devia ganhar isto ou aquilo. Faço um desafio: analisem o processo de remuneração dos três grandes e incluam o SC Braga também. Vão ver que, por uma grande distância, o processo mais transparente, claro, rigoroso e limitativo, foi o do Sporting CP aprovado agora”.

Mudanças previstas no Estádio de Alvalade

“Um dos problemas que herdámos foi a falta de investimento e a degradação das infra-estruturas do Clube. Nos primeiros quatro anos, 95% do investimento foi feito na Academia. Hoje temos a Academia a funcionar muito bem, está resolvido. No estádio, terminámos o primeiro mandato a mudar todas as cadeiras, algo que era um desejo muito antigo dos Sócios, mas queremos muito mais e esse é o objectivo até 2026. Vamos fazer muitas obras no Estádio, mas não posso contar os detalhes. Tenho a ambição de em 2026 os Sócios terem orgulho pela primeira vez no seu Estádio. Quer internamente, quer por fora e nos acessos, vamos transformar o Estádio de Alvalade. Já está a acontecer, mas vai continuar a correr de forma racional e sustentada. Em 2022 o Sporting estava melhor do que em 2018, e em 2026 vai ter de estar melhor do que hoje”.