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Uma edição para mais tarde recordar

Por Miguel Braga*
27 maio, 2021

Em toda a Liga NOS, o Sporting CP conseguiu a proeza de ter mais 27 cartões amarelos do que o FC Porto, e isto apesar de ter feito menos 14 faltas. É muita cirurgia para um só clube

Terminada a Liga NOS, é altura de balanços, de olhar para o que foi conquistado nestes 34 jogos e de fazer um resumo dos números do Campeão. E é isso mesmo que nos propomos fazer nesta edição do Jornal Sporting – páginas 6 a 11 –, recordando dados estatísticos, frases marcantes do treinador ou pormenores que, dentro de campo, acabaram por garantir os 85 pontos do Campeão Nacional de futebol.

Um dia depois de acabar a Liga NOS, o Sporting CP foi recebido por Fernando Medina na Câmara Municipal de Lisboa (CML). Recordemos algumas palavras do presidente Frederico Varandas: “para uns, não venceram porque foram o único clube do Mundo a ter COVID-19, outro porque teve apenas 16 penáltis. Mas eles sabem, todos sabem, que o Sporting CP foi o clube mais competente”. E apesar de toda essa competência – mais pontos, menos golos sofridos, apenas uma derrota e já depois de conquistado o título, melhor diferença de golos ex aequo com FC Porto – há outros números da Liga que devemos ter presentes na memória.

Além dos penáltis referidos pelo presidente – nunca é tarde para recordar que sozinho, FC Porto teve mais pontapés de penálti a favor do que Sporting CP, SL Benfica e SC Braga juntos – há outros dados que apontam para a pressão incessante que a norte se faz aos homens da arbitragem, aos adversários, a tudo o que não vista azul e branco no futebol português.

Assim, e olhando para os três grandes do futebol português, finda a Liga e os seus 34 jogos, o Sporting CP fez 520 faltas, o FC Porto 534 e o SL Benfica 513, deixando assim as equipas com médias muito idênticas de faltas assinaladas por jogo: 15,3, 15,7 e 15,1, respectivamente. Por outro lado, o equilíbrio é desfeito quando contabilizamos os cartões amarelos mostrados às três equipas: o Sporting CP acabou com um total de 89 amarelos, o FC Porto com 62, o SL Benfica com 81. Mais uma vez, e para se perceber as diferenças: a média para o Sporting CP é de 2,6 amarelos/jogo, para o FC Porto apenas de 1,8, para o SL Benfica de 2,4. Ou dito de outra forma, o Sporting CP é brindado com um cartão amarelo ao fazer 5,84 faltas, o FC Porto ao fazer 8,61 e o SL Benfica 6,33.

Ou seja, em toda a Liga NOS, o Sporting CP conseguiu a proeza de ter mais 27 cartões amarelos do que o FC Porto, e isto apesar de ter feito menos 14 faltas. É muita cirurgia para um só clube. Dito de outra forma, o FC Porto precisou de fazer quase 50% mais faltas para levar um cartão amarelo do que o Sporting CP – 47,5% mais faltas, para ser preciso. Se juntarmos a totalidade dos cartões, a conclusão é que o FC Porto foi, ao longo da última época, a equipa mais bem-comportada dentro de campo, vencendo assim o prémio fair play – neste capítulo, o FC Porto foi a equipa com menos cartões e o SL Benfica a única que chegou ao final dos 34 jogos sem qualquer cartão vermelho. Ainda na disciplina, Fábio Pacheco e Otamendi foram os jogadores mais amarelados, com 13 cartões amarelos cada, sendo que nas épocas anteriores em que jogou em Portugal pelo FC Porto, o máximo que o internacional argentino conseguiu foram oito cartões/época.

Também nos treinadores, o destaque vai para a equipa fair play da Liga: Sérgio Conceição foi o mais indisciplinado com seis amarelos, três cartões vermelhos directos e mais um por acumulação. O último vermelho directo, recorde-se, deu direito a uma suspensão de 21 dias, castigo entretanto suspenso por alegadamente ser contrário ao direito de liberdade de expressão. E não, não estamos no capítulo da ficção.

Junte-se a estes episódios as várias declarações dos responsáveis máximos do FC Porto sobre a arbitragem, as cenas da entourage azul e branca em Moreira de Cónegos ou o comportamento no pós-jogo entre FC Porto e Sporting CP que valeu a condenação pública do Sindicato de Jornalista e do CNID (Associação dos Jornalista de Desporto). Recordemos, mais uma vez, o que disseram uns e outros. Segundo o Sindicato, “o jornalista do site zerozero.pt foi tratado com pouca elegância por parte do treinador do FC Porto na conferência de imprensa após o jogo e depois insultado repetidamente pelo assessor de imprensa”; e concluiu o CNID: “a tolerância e o respeito são pilares da sociedade democrática e de um desporto são. No desporto, ser mais forte nunca deve ser sinónimo de ser mais bruto”.

No desporto e na vida, não pode valer tudo para atingir os nossos objectivos e sobre a temática, o presidente do Sporting CP foi bastante claro no seu discurso na CML: “Quando acordamos e vemos mais notícias de suspeição, de corrupção, esta vitória para nós é uma luz ao fundo do túnel. E é acima de tudo um alento e uma esperança para muita gente. Hoje é um daqueles dias em que os avós podem chegar a casa e dizer aos netos que os do bem também têm força, também têm coragem, também têm resiliência e, sobretudo, também ganham. Hoje é o dia em que netos, filhos e pais podem dizer que se vence e que é possível vencer sem abdicar da honra, da decência, da integridade e da transparência do desportivismo”. Este é o caminho.


Editorial da edição n.º 3821 do Jornal Sporting
* Responsável de Comunicação Sporting Clube de Portugal