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Português, Portugal

Polígrafo Sporting CP

Por André Bernardo
06 Ago, 2020

Os Sócios têm agora uma oportunidade que nunca tiveram: a de decidir uma vez para decidirem todos sempre

“Sporting pondera vender a maioria da SAD”. Poderia ter iniciado este editorial com este título. O impacto mediático teria sido muito superior e estaria a circular à velocidade da luz pelos media e internet. A técnica de colocar um título chamativo é antiga, mas nos dias de hoje ganhou uma nova dimensão devido à escala, celeridade e capilaridade com que se consegue veicular a informação devido à nova era digital. E com ela veio o fenómeno das fake news e o clickbait*.

“Já ouviram as notícias, agora vamos contar-lhes a verdade”. É a frase que dá início a todas as edições do programa “Intermédio” da Antena 3, canal televisivo da nossa vizinha Espanha e lembrei-me da mesma a propósito de várias notícias recentes relativamente ao Sporting CP.

Façamos então um “polígrafo Sporting CP”.

Maioria da SAD. Em primeiro lugar, há que esclarecer que esta Direcção do Sporting CP não pondera vender a maioria da SAD. Considera sim que uma decisão desta natureza, como outras, deve ser decidida por todos os Sócios. Podem ser 10, 80, 100, 500 os Sócios a decidir por toda a restante maioria de Sócios o futuro do Clube ou podem ser todos os Sócios (elegíveis para tal). Há vários temas importantes a rever nos estatutos, mas o i-voting é o mais prioritário porque é o que permite a decisão por parte de todos os Sócios relativamente aos demais.

I-voting não é seguro. É seguro e, sem dúvida alguma, mais robusto que a contagem manual de votos. Acresce que o processo é conduzido por uma empresa externa independente. Aliás, o método é o mesmo que o do voto electrónico que já existe no Sporting CP, mas sem exigir a presença física do Sócio. O que significa que o mesmo tem que se autenticar. Como é feito isto? O Sócio conseguirá aceder à plataforma para votar com um processo de autenticação em quatro parâmetros, tendo que colocar: 1) número de Sócio + 5 dígitos do cartão, 2) número de contribuinte, 3) Username, 4) PIN.

O username e o PIN são enviados ao Sócio em momentos distintos, através de canais separados, precisamente por motivos de segurança. O i-voting é já amplamente utilizado por várias instituições a nível mundial e inclusive governos como o caso conhecido da Estónia (ver artigo nas páginas 18 e 19).

Os Sócios têm agora uma oportunidade que nunca tiveram: a de decidir uma vez para decidirem todos sempre. A alternativa é deixar que uma minoria que pode deslocar-se fisicamente para votar decida por eles. Como sempre, os Sócios decidem. 

Siniša Mihajlović. O Sporting CP pagou a Mihajlović 3 M€. Do valor em causa, entregou 0,75 M€ ao fisco, correspondentes a impostos obrigatórios. O treinador considera que deveria ter recebido os 3 M€ líquidos, sem a dedução, e abriu um processo de execução no Tribunal de Lausanne, exigindo penhora de valores futuros que o Sporting CP tenha a receber da UEFA. O Tribunal ainda não tomou decisão relativamente ao processo por não ter efectuado a respectiva avaliação. O que o Tribunal decidiu foi manter essa penhora até avaliar o fundo da questão, mas apenas isso. Nós mantemos a nossa posição: o pagamento efectuado é integral.

Valor do Plantel. Em termos de balanço, um jogador da formação é contabilizado a zero (ou a custos de renovação). Um jogador contratado é contabilizado ao valor de compra acrescido de custos. Nenhum deles representa o valor de mercado. Um jogador vale aquilo que o Clube comprador paga por ele em determinado momento.

Para efeitos de exemplo, Thierry Correia, por ser da formação, tinha valor no balanço de 44.300 €, e o seu passe foi vendido por 12 M€.

Raphinha, à data da sua venda, tinha um valor contabilístico de 5,2 M€ e no Transfermarkt valia 8 M€, menos 13 M€ do que aquilo por que foi vendido. E hoje, na mesma plataforma, está avaliado em 16 M€, isto é, 5 M€ abaixo do valor de venda.

Ou seja, todos os jogadores da formação que hoje subiram ao plantel principal têm valor de balanço zero, os contratados o valor de contratação (e, como tal, quanto menor o valor da compra, menor o valor). No Transfermarkt basta consultar jogadores como Eduardo Quaresma, Nuno Mendes e Matheus Nunes para verificar que não têm valor de mercado. Convém também lembrar que em Março fomos atingidos por uma pandemia chamada COVID-19 e, com base num estudo da KPMG, publicado em Maio, no Financial Times, a estimativa de queda no valor dos jogadores é de 10 mil milhões de euros. Uma rápida consulta e até o Liverpool FC perdeu valor de mercado.

Perda de valor, mas desportivo, teve o Sporting CP com a saída de Bruno Fernandes, que já vai no terceiro prémio consecutivo na Premier League e é o verdadeiro timoneiro da recuperação do Manchester United FC. Muitos Parabéns ao nosso ex-capitão pela performance e pelo bom gosto nas caneleiras!

Portanto, assumimos totalmente a responsabilidade das opções que tomámos, quer na aposta na formação, quer na venda de Bruno Fernandes para assegurar a sobrevivência financeira do Clube, quer nas contratações de treinadores e jogadores que fizemos (bem e mal conseguidas) mas qualquer avaliação e comparação de valor nos parâmetros que tem sido comunicado não faz sentido ou é pura demagogia.

Soccas. A Soccas pediu a insolvência da SAD e perdeu na primeira instância. Existem dois processos “normais”, respeitantes às transferências de Nani e Piccini, relativamente aos quais a Soccas se recusou a negociar sem envolver a questão William. E existe um outro, sobre William de Carvalho, que não se tratou de uma transferência, mas de um acordo global numa altura em que o jogador já não era do SCP, motivo principal pelo qual o Sporting CP considera que, neste caso, não deve nada à Soccas. 

COVID-19. É um facto confesso que o Sporting CP, e o mundo, não ficou imune à pandemia da COVID-19. A Eurostat prevê uma quebra de 16,5% na economia portuguesa, a maior de sempre. Se vínhamos na recuperação da nossa própria pandemia, a restaurar uma situação trágica de liquidez, com a COVID-19 a situação não ficou mais fácil. Para nós e para todos. Mas vamos, com a confiança e ambição Leoninas que nos caracterizam, ultrapassar a situação.

Lançámos no dia 23 de Julho a campanha “Débito Directo Num Minuto” e já temos cinco vezes mais adesões que no acumulado dos últimos cinco anos. Estes e os resultados da Renumeração são o melhor polígrafo da força e vitalidade do Sporting CP de hoje.

 

Clickbait é um termo referente à prática de gerar tráfego na internet através da utilização de títulos sensacionalistas ou enganosos para geração de cliques.

 

Editorial da edição n.º 3781 do Jornal Sporting

 

 

Numerologia

Por André Bernardo
23 Jul, 2020

O Clube é dos Sócios, mas todos os Sócios têm de ter a possibilidade de poder decidir

106 625 
É o número de Sócios activos do Sporting Clube de Portugal após a Renumeração. Inclui todos os Sócios com quotas regularizadas e aqueles com quotas em atraso até um máximo de dois anos (Abril de 2018). 

72 863 
É o número de Sócios que tinha quotas em dia após a conclusão da Renumeração. Valor 33% superior ao de 2015: 54 711. 
Na última Renumeração, em 2015, o critério adoptado foi incluir todos os Sócios com quotas por regularizar desde 2005, abrangendo assim um período de dez anos, versus os dois anos actuais, terminando com 120 435 Sócios activos.

8 141
É o número de Sócios que regressaram no âmbito da campanha “Eu Sou – Renumeração 2020”, e que resultou num registo recorde de quotização, superando um milhão de euros.  No período da campanha, o valor total de quotização ultrapassou os dois milhões de euros. Após apuramento contabilístico divulgaremos os números exactos. 
Não há lugar a numerologia, estes são os números. É relevante sim interpretá-los ao abrigo do contexto em que eles ocorrem. E em tempos de pandemia, com desporto à distância e a pior crise dos últimos 100 anos à porta, é de salutar a forte participação de todos os Sportinguistas.

Parabéns ao Sporting CP!


177 é o número de Sócios que marcou presença na Assembleia Geral (AG) de 30 de Junho de 2014. Na AG de 5 de Outubro de 2014 foram 360.

136 é o número de Sócios que participou na AG de 2 de Outubro de 2016.

83 é o número de Sócios que marcou presença na AG de 23 de Junho de 2017. 135 na AG de 29 de Setembro de 2017.

22 408 é o número recorde de participação de Sócios numa Assembleia, de natureza eleitoral, registado no passado dia 8 de Setembro de 2018. 
São também números que retratam que é uma ínfima parte dos Sócios que participa nas decisões do Clube. Mesmo na Assembleia de maior participação, o número é relativamente baixo comparado com o potencial de Sócios que poderia participar. É revelador da actual incapacidade do Sporting CP em disponibilizar uma ferramenta capaz de assegurar a participação a todos os Sócios. A ferramenta existe, chama-se I-Voting. É a mais segura, mais abrangente e mais eficaz, mas os estatutos têm de a permitir. O Conselho Directivo já apresentou proposta à Mesa da Assembleia Geral e foi nomeada uma comissão de trabalho para revisão dos estatutos no que concerne estritamente a este ponto. Neste caso, decidindo uma vez, os Sócios passam a poder decidir para sempre alterar os números de participação nas decisões do Clube. Como sempre, os Sócios decidirão. O Clube é dos Sócios, mas todos os Sócios têm de ter a possibilidade de poder decidir

PS – 200 é o número de jogos de Leão ao Peito do nosso capitão. Obrigado, Sebastián Coates.

 

Editorial da edição n.º 3781 do Jornal Sporting

Sporting CP, Kasparov e MTQ

Por André Bernardo
09 Jul, 2020

Qualquer estratégia começa com um objectivo futuro, que depois é trabalhado daí para trás. Hoje estamos muito mais perto do destino que definimos há dois anos atrás

No livro “A vida imita o Xadrez”, Garry Kasparov, ex-campeão mundial de xadrez, descreve que a base de cada jogada assenta no equilíbrio entre três conceitos: de material, de tempo e de qualidade (MTQ).

“O material descreve os nossos bens tangíveis. O tempo refere-se a quanto tempo demoramos a alcançar um objectivo específico. A qualidade, o elemento mais importante e um objectivo em si mesmo, representa o valor. O objectivo é ser bem-sucedido em cada uma das áreas e também investir e equilibrar os factores de forma correcta”.

São os mesmos factores que estão por trás de qualquer estratégia e que usarei como paralelismo ao tema da capa de hoje: “Eu Sou Formação”.

 

Material

Material é o elemento fundamental. No xadrez é o número e tipo de peças que a cada momento temos versus o nosso adversário. Noutros desportos são os jogadores. E para ter os melhores jogadores é preciso uma combinação variada de factores: capacidade financeira, os próprios verem valor no clube, capacidade de recursos com aptidão de identificar os melhores e uma estrutura capaz de os acolher e desenvolver. 

E isto faz-se com base numa estratégia pensada e com investimento. Mas exige tempo.

 

Tempo

“Tempo de tabuleiro” é o número de jogadas necessárias para alcançar um objectivo. Há duas maneiras de “ganhar” tempo: i) efectividade ii) dinheiro.

No primeiro temos de ser mais eficientes que os demais, seja estando um passo à frente, seja na melhor capacidade de desenvolvimento do material à nossa disposição. Foi o que conseguimos fazer com a introdução do modelo Centralizado no Jogador - que nos permite hoje ter na equipa principal seis jogadores de escalões menores que tiveram um desenvolvimento acelerado (ver entrevista central).

O segundo, dinheiro, passa pela possibilidade de ganhar tempo adquirindo material que consideramos aportar qualidade de forma mais imediata ou crítica no processo. E é o que fizemos, por exemplo, na contratação de Šporar e Rúben Amorim.  

Evidentemente, dependendo da situação financeira do Clube podemos partir de uma posição “aberta” (várias saídas possíveis) ou “fechada”.

Mas para chegar a ter uma posição aberta, que é o ideal, é fundamental dar prioridade aos factores dinâmicos versus estáticos. Ou seja, em cada momento perceber o que é mais importante para chegar ao destino final.

E se o material é um ponto de referência fundamental e o tempo é acção, estes dois elementos só fazem sentido guiados por um terceiro: qualidade.

 

Qualidade

O valor de uma peça no xadrez varia conforme a posição da mesma e o momento do jogo.

Todas as decisões envolvem um custo de oportunidade. Abdicar do melhor marcador da equipa, com salário anual de 6 M€, na fase final e decrescente da sua carreira é uma decisão táctica em nome de uma estratégia.

Alocar 12 M€ para a Academia Sporting (2 M€ até à data), 10 M€ num treinador que aposta na juventude, desenvolver um modelo centralizado no jogador e aplicar a reduzida liquidez na retenção de 89 recursos identificados como alto potencial, é um investimento na Formação com base numa estratégia definida desde 2018.

 

Tenacidade

Só erra quem decide. E só aprende quem reconhece os erros e não os repete. E todos queremos acertar mais e errar menos. Porém, existe uma crucial diferença entre teimosia e tenacidade.

E é por isso mesmo que aos factores MTQ , Kasparov acrescenta um outro factor decisivo: confiança, destacando que “as nossas tácticas devem ser guiadas pela nossa visão estratégica global e pelos nossos objectivos. (…) Essa força psicológica é a base. Se ela enfraquecer, toda a estrutura se desmorona”.

E, portanto, quem decide não pode andar a ziguezaguear ao sabor dos ventos da pressão.

Qualquer estratégia começa com um objectivo futuro, que depois é trabalhado daí para trás. Hoje estamos muito mais perto do destino que definimos há dois anos atrás. Nesta edição damos a conhecer aos Sportinguistas parte de um dos pilares desse futuro: a Formação.

 

* Editorial da edição n.º 3780 do Jornal Sporting

Porquê “Eu Sou”?*

Por André Bernardo
16 Jun, 2020

(...) no dia em que estivermos dispostos a contornar a verdade desportiva e todos os princípios que estiveram na nossa origem seremos mais um clube em vez de sermos mais do que um Clube

A pergunta foi-me feita em entrevista para esta edição do Jornal.

Ser Sporting são 113 anos de eclectismo com uma génese pioneira, vanguardista, democrática e inclusiva, que nasceu sob o signo de Leão em 1906 e construiu uma identidade singular na qual todos nós Sportinguistas, sem sequer pararmos para pensar nisso, nos revemos. 

É provável que o caminho que levou cada um de nós a ser Sporting seja distinto, mas o que nos mantém Sporting não é. E no dia em que passar a ser então seremos outra coisa.

Porque no dia em que aceitarmos trocar Esforço e Dedicação por medo e ameaça, que confundirmos Devoção com proselitismo, as vitórias dificilmente surgirão, mas a existirem jamais serão Glória. Não teremos Formação porque os mais novos não vão querer vir, nem os pais os vão querer por cá. E os que já cá estão não vão conseguir render.

E no dia em que estivermos dispostos a contornar a verdade desportiva e todos os princípios que estiveram na nossa origem seremos mais um clube em vez de sermos mais do que um Clube. E por tudo isto, então o Sporting Clube de Portugal já não será o Sporting Clube de Portugal.

Quando era criança o meu pai levava-me com ele a assistir aos jogos no antigo estádio e aprendi, de forma natural, a tratar os desconhecidos Sócios do lado como família. E eu até já conhecia de cor o ritual de um deles: abria a pequena maleta que sempre o acompanhava, limpava religiosamente o assento com um pano, colocava a sua almofada, pousava o rádio e retirava uma cerveja envolta na perfeição em folhas de jornal, que abria orgulhosamente com um abre-cápsulas. Depois, durante 90 minutos transformava-se numa outra personagem, mas sempre pacífica, mesmo quando manifestava o seu desagrado. Após o término dos jogos pedia desculpas pelo eventual uso descontrolado de jargão na minha presença, mas acrescentava sempre, dirigindo-se ao meu pai: “Mas sabe, eles mais tarde ou mais cedo deixam de ser miúdos”, ao mesmo tempo que me dava uma palmada na cabeça e me piscava o olho.

E o miúdo tonou-se graúdo, mas o que o fez ser Sporting na altura mantém-se intacto.

Não é nostalgia de um tempo diferente que já passou, é promover a vivência de uma maioria que faz do Dia de Sporting um momento de família, que vive o desporto com paixão, manifestando alegria e tristeza, mas que vive o associativismo de forma positiva e não como forma de compensação da falta de sociabilidade alternativa.

E é nunca esquecer esta herança única, esta história ímpar e estes valores singulares, que nos faz entre nós ser iguais – Ser Sporting – mesmo que aos olhos de outros diferentes

E enquanto assim for todos teremos sempre orgulho nas palavras “Eu Sou Sporting”.

 

* Editorial da edição n.º 3778 do Jornal Sporting

A Ressurreição*

Por André Bernardo
28 maio, 2020

A conquista da Taça de Portugal de 2019 terá sempre um valor simbólico, constituindo o epílogo do primeiro capítulo da Odisseia pós-Alcochete

25 de Maio de 2019 ficará na história do Clube como o dia da “Ressurreição” do Leão. Nesse dia, o Sporting Clube de Portugal ganhou muito mais do que uma Taça de Portugal. As lágrimas que cada Sportinguista verteu e os sorrisos que cada um exibiu carregavam um ano de angústia e superação após o período mais negro da história do Clube, marcado pelo ataque a Alcochete. E transformaram a amargura da perda da Taça de 2018, porque também ela foi muito mais do que uma derrota, numa sensação de êxtase difícil de adjectivar.

À data do arranque da época de 2018/2019, o cenário do mais optimista Sportinguista constituía na realidade o melhor cenário pessimista. Porém, o Sporting CP conseguiu completar um duríssimo ano de forma épica conquistando duas Taças: da Liga e de Portugal. Feito inédito na sua história, juntamente com outro nas modalidades: seis títulos europeus num só ano.

É impossível num ano recuperar um clube, seja ele qual for, depois daquilo que o Sporting CP passou, sobretudo com a pesada herança de problemas estruturais. É importante a gestão de expectativas neste sentido porque o caminho de travessia para sair do “deserto” dos últimos quase 20 anos no futebol continua. Mas a conquista da Taça de Portugal de 2019 terá sempre um valor simbólico, constituindo o epílogo do primeiro capítulo da Odisseia pós-Alcochete.

A memória no desporto é curta, mas, mais além dos números, ninguém se esquecerá da forma de como, há apenas um ano atrás, esta vitória nos fez sentir. 

28 de Maio é dia de Jornal de Sporting e nesta edição destacamos a entrevista a mais um talento argentino que brinda os relvados nacionais: Che Vietto! Em Dezembro de 2006, na primeira vez que tive a oportunidade de pisar Buenos Aires, assisti a um jogo decisivo (Boca Juniors vs. Estudiantes de La Plata) para a disputa do campeão de Verão – Torneio Apertura (na altura, o campeonato tinha um formato diferente do actual), no mítico palco La Bombonera, com direito à presença de Maradona na Tribuna. Uma experiência única que recomendo a quem possa vivê-la, num país que respira o futebol de maneira singular (infelizmente, nem sempre da melhor forma). Desse sangue argentino temos tido o prazer de assistir em Alvalade a vários artistas ao serviço do Sporting CP, desde o eterno Yazalde, a Quiroga, Duscher, Acosta, entre outros, e agora a Luciano Vietto. Una nota final de condolências a outro argentino, Mauricio Hanuch, campeão nacional em 2000 ao serviço do Sporting CP e que infelizmente nos abandonou esta terça-feira, vítima de doença.

Nesta edição destacamos também a “Ressurreição” da Formação, que tem sido prioridade máxima na gestão destes 20 meses, com uma análise aos seis “reforços” da equipa principal.  Rubrica elaborada por Rodrigo Pais de Almeida, a quem dou as boas-vindas como novo cronista do Jornal e que, entre outras coisas, estreia uma nova vertente de análise técnica que será certamente enriquecedora para todos os leitores.

1 de Junho é Dia da Criança. E é mais crianças que temos de atrair para o desporto, seja a praticar ou a assistir. Para isso, é fundamental trabalharmos todos os dias para proteger a qualidade do espectáculo e promover a vivência saudável do mesmo. Lançámos nesse sentido a campanha “Eu Sou Jubas” que permite o envolvimento dos mais jovens em dinâmicas divertidas, que combina realidade aumentada e o melhor uso das redes sociais.

4 de Junho é também o dia da “Ressurreição” do futebol após o período COVID-19. A bola estará felizmente de volta aos relvados e o Sporting CP apresenta-se com um dos plantéis mais jovem e com maior número de atletas provenientes da formação de sempre. Aproveito e destaco o lançamento do Alvalade em Casa, no próximo dia 2 de Junho, uma plataforma on-line que permitirá o acompanhamento dos jogos ao segundo. Não podendo ir até ao futebol, quisemos que o futebol fosse até “casa” dos nossos adeptos, para quem não possa acompanhar os jogos pela TV.

Intemporal é Héctor Casimiro Yazalde. Conhecido como “Chirola”, porteño de gema, brindou-nos entre 1971 e 1975 com um registo impressionante de 126 golos em 131 jogos, ganhando a bota de ouro na época de 1973/1974 com 46 golos em 30 jogos. Ressuscitamos a sua memória no nosso destaque de Lendas do Sporting Clube de Portugal.

 

* Editorial da edição n.º 3777 do Jornal Sporting

Regresso ao futuro*

Por André Bernardo
14 maio, 2020

“A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”

Até há dois anos, enquanto Sócio, várias vezes tive perguntas e dúvidas sobre o meu Clube para as quais não encontrava, nalguns casos, aparente explicação. Existe entre Sócios e dirigentes uma enorme assimetria de informação, até certo ponto normal e legítima, mas que nos parece ser da maior utilidade reduzir.
É também neste sentido, de construção de pontes de proximidade com os Sócios, que hoje publicamos o documento que redigimos da forma como gostaríamos de o ter lido enquanto Sócios – “Regresso ao Futuro”. Nele partilhamos a Visão Estratégica para o Clube num momento em que consideramos de extrema relevância fazê-lo, dados os desafios que o presente e o pós-COVID nos vão colocar.

É importante os Sócios saberem onde estamos, para onde vamos e sobretudo como lá vamos chegar. E é igualmente fundamental entenderem como aqui chegámos, mas tendo o conhecimento de que, além dos factores conjunturais adversos conhecidos, o Sporting Clube de Portugal padecia de problemas estruturais graves, fruto de anos de desinvestimento. 

Dedicámos os últimos dois anos à correcção de um perigoso fosso de ilusão e negligência, obtendo avanços muito significativos. De outra forma não teria sido possível ao Sporting CP sobreviver à actual crise provocado pela COVID-19

Em Setembro de 2018 sabíamos que não conseguiríamos ganhar a corrida para o futuro do Sporting CP sem corrigirmos o sistema que ditou os últimos 20 anos. Partindo do pior contexto de sempre da nossa História, iniciámos um processo que exigiu conciliar a maior consolidação financeira, recuperação de activos e credibilidade de sempre, em simultâneo com uma aposta estratégica na Formação e correcção de problemas estruturais básicos do Clube. Ambos com necessidades de investimentos consideráveis num contexto de necessidades de liquidez urgentes.  

Na trilogia “Back to the Future” (Regresso ao Futuro), Martin McFly viaja no tempo, para trás e para a frente, alterando o curso dos eventos. Também nós voltámos ao nosso passado e resgatámos dele o nosso ADN para podermos viajar para a frente no nosso futuro. Recuperámos a Formação e temos actualmente 13 jovens com 21 anos de idade ou menos a treinar na equipa profissional de futebol. Seis destes jovens foram identificados dentro de um novo modelo – centrado no jogador – num grupo classificado como “High Potential”.

“Regressando ao Futuro” até à data actual, e olhando em retrospectiva, haveria certamente caminhos diferentes ao que trilhámos. 

No âmbito desportivo poderíamos não ter investido os poucos recursos disponíveis na retenção de 89 atletas das camadas jovens, não ter alterado o modelo de rendimento desportivo, não ter feito obras na Academia, ter deixado continuar os miúdos sem rede de transportes, ou não ter renovado os relvados dos campos de treino.

No âmbito operacional poderíamos ter negligenciado os nossos colaboradores que nunca tinham tido um processo colectivo de revisão salarial, protelado o investimento urgente em instalações e equipamentos obsoletos, não ter iniciado um projecto de transformação digital ou ter enveredado por um caminho de soluções ‘chave na mão’.

Existe um caminho, aparentemente mais fácil, de apresentar soluções rápidas e de cosmética, mas que compromete sempre o futuro.

A luz ao fundo do túnel existe e o caminho para lá chegar está identificado. Mas não é um percurso curto. E prometer atalhos para saídas mais rápidas é entrar na mesma senda de sempre, em que a luz ao fundo do túnel revela ser um comboio que vem em sentido contrário e atropela o futuro do Sporting CP por mais dez anos.

Achamos que é fundamental a continuação desta maratona, assim como é também agora crítico encontrar novas respostas para uma situação diferente. Como disse no último editorial “tudo mudou com a COVID-19, mas não vai certamente ficar tudo na mesma”. 

Vamos apresentar soluções novas aos Sócios para a construção de um destino que tem que ser feito de mãos dadas, em colaboração e solidariedade, porque o todo é mais do que a soma individual das partes

Nas sábias palavras de Abraham Lincoln, a “melhor forma de prever o futuro é criá-lo” e o Sporting CP de amanhã será a consequência das decisões de hoje.

Viajando até ao Futuro, daqui a dois anos temos de olhar para trás e orgulhar-nos de como o universo Sportinguista se uniu, e com resiliência e paciência, conseguiu superar a maior crise mundial dos últimos 100 anos. E felizmente sabemos exactamente o que precisamos para lá chegar: Esforço, Dedicação e Devoção.  

 

* Editorial da edição n.º 3776 do Jornal Sporting

É necessário que tudo mude para que tudo (não) fique na mesma*

Por André Bernardo
01 maio, 2020

Tudo mudou, mas não vai certamente ficar tudo na mesma. O futuro? O futuro é Sporting Sempre!

O livro (e filme) “Il Gattopardo” (O Leopardo) imortalizou a frase “É necessário que tudo mude para que tudo fique na mesma”.
A obra viria a ganhar o seu estatuto por ser um testemunho intemporal da resistência do status quo aquando do surgimento de uma nova ordem. E a citação tornou-se célebre pela constatação recorrente de que várias apregoadas mudanças na sua essência nada mudam.

Ao assumir o cargo de Director do Jornal Sporting, estou a dar continuidade à missão que abracei, juntamente com os restantes membros do Conselho Directivo há 18 meses: dar a melhor experiência ao Sócio e adepto do Sporting Clube de Portugal. Acreditamos, desde o início, que para fazê-lo, o percurso que o Sporting CP tem de percorrer é, no que diz respeito à sua gestão, um caminho de mudança, mas para que não fique tudo na mesma

A diferença estará certamente nos actos que a concretizem e, cingindo-me por agora ao Jornal, a edição especial de celebração dos 98 anos do Jornal Sporting representou precisamente uma alteração de paradigma. Apresentámos um novo grafismo e design, mas as mudanças são sobretudo de substância. Esta nova versão carrega uma linha editorial diferente, que visa aproximar ainda mais o leitor da vivência com o Clube e, se o faz com uma visão futura em sincronização com o actual contexto da era digital, recupera também 113 anos de história. 
Nesta edição, Patrícia Mamona dá a sua primeira grande entrevista e homenageamos, no novo espaço dedicado às lendas do Clube, Carlos Lopes, que venceu a Maratona de Roterdão há 35 anos, batendo o recorde do mundo e tornando-se o primeiro homem a descer da marca de 2 horas e 8 minutos. 

Tanto no Jornal Sporting como em toda a nossa restante estratégia, viemos mudar para que o futuro do Sporting Clube de Portugal mude de facto para melhor, num regresso ao seu ADN de pioneirismo, vanguardismo, união e inclusão. 

Não esperamos que seja fácil e relembro as palavras de Maquiavel a esse propósito: “Devemos convir que não há coisa mais difícil de se fazer, mais duvidosa de se alcançar, ou mais perigosa de se manejar do que ser o introdutor de uma nova ordem, porque quem o é tem por inimigos todos aqueles que se beneficiam com a antiga ordem, e como tímidos defensores todos aqueles a quem as novas instituições beneficiariam”.

Uma nova ordem foi-nos agora imposta em virtude da COVID-19. Resta à sociedade, ao mundo do desporto e ao Sporting Clube de Portugal, inevitavelmente, adaptar-se com resiliência.

Neste contexto importa, mais do que nunca, encarar a realidade como ela é e não como desejaríamos que fosse. Não existem panaceias para o caminho que o Clube terá de percorrer e é fundamental a tomada de decisões com uma visão sistémica, de longo prazo e com a prudência que as circunstâncias exigem.

Tudo mudou com o novo coronavírus, mas não vai certamente ficar tudo na mesma. 

O futuro? 
O futuro é Sporting Sempre!

 

* Editorial da edição n.º 3775 do Jornal Sporting

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