Your browser is out-of-date!

Update your browser to view this website correctly. Update my browser now

×

Foto Francisco Lino

Diário de Le Mans – Dia 2

Por Sporting CP
30 Abr, 2025

Treino bidiário e fotografias oficiais da UEFA

O dia arrancou cedo para os Leões, com o pequeno-almoço servido quando os ponteiros marcavam às 8h30 da manhã. Uma hora em ponto depois, a comitiva verde e branca deixava o hotel rumo ao primeiro treino do dia, naquela que é já uma rotina de concentração total para a grande meia-final.

Na zona sul de Le Mans, os primeiros raios de sol iluminavam ruas ainda sonolentas. A maioria dos estabelecimentos permanecia fechada, mas os transportes públicos — entre eléctricos modernos e autocarros de cor laranja-tijolo — davam vida à paisagem urbana. Aqui e ali, espalhados pela cidade, os outdoors da UEFA anunciavam o grande evento que se aproxima. Le Mans respira desporto, e nesta semana respira futsal.

O treino da manhã aconteceu no Gymnase Alain Fournier, um pavilhão municipal de tijoleira que homenageia o jovem escritor francês tombado na Primeira Guerra Mundial. Foi com Zicky Té a empunhar a coluna ao som do hino não-oficial, Mágico Sporting, que os tetracampeões nacionais deram entrada no recinto partilhado pelo JCM Basket e o Judo-Club du Mans. O mote estava dado: intensidade máxima e espírito de grupo.

O aquecimento começou com o já tradicional desafio da roda — não deixar a bola cair —, que deu o tom para um treino exigente, repleto de indicações técnicas, incentivos e boa disposição. Até houve tempo para um momento insólito: “Pitas”, o técnico de equipamentos, decidiu roubar a máquina fotográfica e fez ele próprio alguns registos da sessão.

Após cerca de 50 minutos de trabalho, os atletas hidratavam-se e trocavam impressões: “Logo à tarde há mais.” Mas antes disso, houve um momento de confraternização inesperada à saída do pavilhão. O reencontro com elementos do Palma Futsal, adversário de sexta-feira, proporcionou uma conversa amistosa entre treinadores e jogadores, com destaque para o reencontro de Bruno Dias e Rocha com os compatriotas brasileiros.

A viagem de regresso, marcada por gargalhadas, foi acompanhada por uma brisa quente e solarenga, própria de um dia de Primavera em modo Verão. O almoço, pontual como manda a vida de desportista, chegou às 12h. E porque o corpo também precisa de recuperar, seguiu-se o merecido descanso e as sessões de fisioterapia.

À tarde, foi tempo de vestir a pele de modelos. Os jogadores posaram para as objectivas da UEFA na sessão de fotografias oficiais, com direito a aplausos, cantorias e uma estrela inesperada: novamente o senhor Carlos, técnico de equipamentos e protagonista de muitas gargalhadas.

Inspirados pela lendária prova das 24 Horas de Le Mans, os Leões aceitaram o desafio: comparar os colegas a carros de corrida. Entre tractores, Mustangs e estratégias de pit stop, não faltaram metáforas criativas. Zicky Té vê o grupo como um camião: “Carregamo-nos todos uns aos outros.” Já Tomás Paçó destacou a fiabilidade de Wesley e a imprevisibilidade do próprio Zicky: “Nunca se sabe o que vai acontecer com aqueles pés.” O mais ousado? Bernardo Paçó, claro. “Não pensa nas consequências, só vai!” E quanto à preferência entre alta velocidade e Champions League? Taynan foi peremptório: “Disputar esta competição.”

Antes do segundo treino do dia, um coro afinado entoava o cântico Ano da Fundação. Braços no ar, palmas ritmadas, espírito de missão. A caminho da Antarès Arena, o ambiente cheirava já a jogo grande.

O pavilhão, com capacidade para quase seis mil espectadores e carinhosamente apelidado de “Disco” pelo seu formato arredondado, ergue-se junto ao mítico circuito das 24 Horas. Por fora, lembra o Pavilhão Atlântico - e o Le Mans Sarthe Basket, emblema que compete na elite do basquetebol francês, traz no escudo um Leão. Prenúncio de sorte?

Num cenário imponente, as cadeiras negras conferiram sobriedade a um treino de adaptação, mas sempre numa elevada disputa entre as equipas rosa, verde e azul – a competitividade sempre no limite saudável de quem tem o triunfo como verdade única. É nesta Antarès Arena que tudo se decidirá tudo. E é lá que o Sporting CP quererá deixar a sua marca.

De regresso à unidade hoteleira, Zicky Té ainda teve tempo de pedir lições de francês ao chefe de sala do restaurante. As lições da “língua do amor” ficaram para trás, perdidas no ensino básico, mas através de gestos e boa-vontade, descobrimos: garfo e faca dizem-se fourchette e couteau.

Na cidade situada no coração da região do Pays de la Loire, o passado histórico e a paixão pelo desporto convivem lado a lado. Ainda não houve tempo para espreitar as muralhas romanas que fazem parte do património local, mas foram muitos aqueles que não deixaram de acompanhar a partida do andebol Leonino a partir do Pavilhão João Rocha. E apesar do resultado, o sentimento de Lisboa viajou até Le Mans: "Leões de raça, orgulho infindável". 

O mesmo que se sente por aqui. A cidade onde se corre contra o tempo prepara-se para em breve parar por 40 minutos. Na pista da Antarès Arena, os motores verdes já aquecem. E se Le Mans tem lendas no asfalto, que não se espante se o futsal Leonino acelerar rumo a mais uma eternidade.

Por Filipa Santos Lopes, em Le Mans.